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Paróquia em Ribeirão Pires coloca pedras para afastar moradores de rua

Existência dos objetos foi criticada nas redes sociais; padre responsável pela paróquia nega caso de preconceito

Arthur Gandini
Do Diário do Grande ABC
06/12/2021 | 16:23
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Atualizado às 22:47

A paróquia Sant’Anna de Ribeirão Pires, no bairro Santana, conta com pedras na sua fachada para afastar pessoas em situação de rua, que ficam impedidas de dormir no local. Os objetos foram denunciados pelo padre Julio Lancellotti em seu perfil no Instagram. O religioso atua na Igreja Católica da Capital e é conhecido por defender os sem-teto. A equipe de reportagem do Diário foi hoje pela manhã até a paróquia e confirmou a existência das pedras. 

O religioso, que é responsável pela Pastoral do Povo de Rua da Capital, órgão católico relacionado ao tema, costuma denunciar a existência dos objetos em cidades por todo o país. Em fevereiro deste ano, ganhou repercussão vídeo em que o padre utilizou marreta para quebrar pedras debaixo de viaduto da Capital. Após o episódio, a Prefeitura de São Paulo retirou os objetos e o assunto ganhou evidência. Lancellotti publicou foto com as pedras no templo de Ribeirão Pires com a legenda “aporofobia em ação”, em referência ao preconceito contra pessoas em situação de vulnerabilidade.

Na tarde dessa segunda-feira, a publicação na rede social contava com mais de 1.400 comentários. Seguidores criticaram a atitude da paróquia.“Até Igreja fazendo isso”, lamentou a seguidora Maria Cecilia. “Discípulos de qual Cristo essa gente é?”, questionou Gislane Cremoni Rosa. “Que contradição! Não entendo esse povo que se diz cristão. Deveriam era abrir as portas das igrejas para acolher os sem-teto. Ali é a casa do Senhor Jesus Cristo, que sempre esteve ao lado dos pobres”, escreveu Silvia Pereira.

O advogado Ariel de Castro Alves, especialista em direitos humanos, afirma que a prática não deve gerar consequências jurídicas à paróquia e à Diocese. Ele relata que os casos pelo país têm levado câmaras de vereadores a receberam projetos de lei com a proibição da instalação das pedras. “São obras hostis, que visam excluir ainda mais a população de rua”, opina. 

Também tramita na Câmara dos Deputados o PL (Projeto de Lei) 488/21, do deputado Joseildo Ramos (PT-BA), que pretende proibir a prática. A proposição aguarda análise da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania). 

Outro lado

O Diário questionou a Diocese de Santo André, responsável pelas paróquias da região, sobre a existência das pedras. O bispo diocesano, dom Pedro Carlos Cipollini, afirmou que não tinha conhecimento dos paralelepípedos. “Este fato, se for verdade, é lastimável. A Igreja deve acolher sempre dentro do possível”, afirmou.

O religioso disse que recebeu a informação de que o motivo das pedras era impedir o estacionamento de carros de clientes de bar próximo à paróquia. Também questionou se os locais onde foram colocados os paralelepípedos não pertenciam a supermercado próximo ou à Prefeitura da cidade. Dom Pedro não informou se a diocese irá tomar alguma providência em relação às pedras.

Já o padre Leandro Alves, que assumiu a administração da paróquia em outubro, não soube informar quando os objetos foram colocados por se tratar de algo anterior à sua chegada. Negou que as pedras tenham sido colocadas para afastar pessoas em situação de rua. Afirmou que se trata apenas de um canteiro e que cogita conversar com a comunidade sobre a sua retirada. “Se a gente ver que essas pedras se tornaram um símbolo de ofensa às pessoas em situação de rua, podemos retirar”, disse.

O padre Ryan Holke, responsável pela Pastoral do Povo de Rua da região, órgão criado em setembro desse ano, realizou transmissão ao vivo na página no Facebook da Diocese. Ele ressaltou que tem admiração pelo trabalho do padre Julio Lancellotti e disse que as pedras não representam aporofobia. "Não é esse o caso, é um caso de estacionamento. Não se trata de um impedimento aos irmãos e irmãs de rua”, afirmou a fiéis.




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