Setecidades Titulo Medicina
Trazer médicos do
Exterior não resolve
caos na Saúde

Especialistas afirmam que é necessário ampliar investimentos em infraestrutura

Por Thaís Moraes
Do Diário do Grande ABC
26/06/2013 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


A polêmica declaração da presidente Dilma Rousseff de que pretende trazer médicos do Exterior para ampliar o atendimento no SUS (Sistema Único de Saúde) divide opiniões de especialistas. Para órgãos oficiais que representam a classe médica, o assunto é complexo.

“Essa decisão do governo federal ilude a população porque não contempla os pontos que deveriam ser corrigidos na assistência à Saúde pública. Se esses itens, como infraestrutura para exercer a função, fossem melhorados, não haveria necessidade de trazer médicos de fora”, critica o vice-presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), Mauro Gomes Aranha de Lima.

O presidente da Associação Paulista de Medicina Regional de São Bernardo e Diadema, Marcelo Ferraz de Campos, garante que o problema da área de Saúde no País não é apenas a falta de médicos. “Faltam planejamento e investimentos também. Não adianta encaminhar profissional para trabalhar nas regiões mais carentes e distantes do Brasil se não há o mínimo de condições para que ele atenda aos pacientes.”

Já para o diretor da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Adilson Casemiro Pires, o discurso do governo é matemático. “Não consigo imaginar que trazer médicos seja a solução. Além do conhecimento, a Medicina demanda tecnologia e, em muitos locais, não existem aparelhos adequados e laboratórios”, opina.

Os três especialistas são unânimes em dizer que não são contrários à importação de médicos formados no Exterior, desde que sejam aprovados no Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições Estrangeiras). De acordo com dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), o percentual de aprovação do exame na edição de 2012 foi de 8,71%. Isso significa que dos 884 candidatos inscritos, apenas 77 obtiveram o direito de exercer a profissão no País. A porcentagem foi inferior à primeira edição, quando 9,6% dos candidatos foram aprovados.

NÚMEROS

Atualmente, o número total de médicos formados no Exterior em atividade no Estado de São Paulo é de 1.974, sendo 1.138 na Capital e 836 no Interior. Já a quantidade de profissionais formados no Exterior em atividade no País é de 7.284.

Desses, quase 65% são brasileiros. Depois aparecem bolivianos (12,9%), peruanos (5,88%), colombianos (3,87%) e, na quinta posição, destacam-se os cubanos, com 3,17% em atividade.

Chioro defende medida do governo federal

O presidente do Cosems-SP (Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo) e secretário de Saúde de São Bernardo, Arthur Chioro, tem opinião divergente dos profissionais ouvidos pela equipe do Diário e acredita que, de fato, é necessário trazer profissionais do Exterior.

“Não faz nenhum sentido esperar, pois são quase 700 cidades brasileiras que não possuem um médico sequer. A área da Medicina no Brasil vive cenário de pleno emprego, onde existem 3,5 postos de trabalho para cada médico”, avalia.

Em relação ao Revalida, Chioro explica que é possível contratar profissionais sem ele. “Os médicos que querem ficar definitivamente no Brasil devem fazer a prova para exercer a profissão no País. Mas a situação que defendemos é que o governo federal dê autorização para que estrangeiros em situação regular no país de origem possam vir trabalhar exclusivamente no programa Saúde da Família com contratos temporários, em lugares pré-determinados. Caso queiram permanecer, então deverão se submeter à prova.”

Dados no Ministério da Saúde apontam que o Brasil tem deficit de 54 mil médicos. O País tem, em média, 1,8 médico para cada 1.000 habitantes, número inferior à Venezuela (1,9), México (2,4), Argentina (3,2) e Cuba, com seis profissionais para cada 1.000 pessoas.

Outro ponto criticado pelas entidades médicas é em relação ao idioma, cuja dificuldade de comunicação poderia ser empecilho durante as consultas e procedimentos. “Fundamentalmente espera-se trazer médicos de Portugal, Espanha, Cuba, Uruguai e Argentina, porque são países que possuem cerca de quatro profissionais para cada 1.000 habitantes. A população vai ter que decidir se prefere ser atendido em ‘portunhol’ ou não ter atendimento algum”, destaca Chioro.  




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