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Opinião: 4 erros da Ford que contribuíram para o fim da produção no Brasil
Leo Alves
Do Garagem360
12/01/2021 | 19:48
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O Brasil foi surpreendido na tarde de ontem com a notícia do fim da produção brasileira da Ford. Após 102 anos de trajetória no País, a marca americana decidiu fechar todas as fábricas, encerrando a produção de Ka, Ka Sedan e EcoSport. O Troller T4 deve seguir por mais alguns meses, mas também está sob risco. Embora essa saída tenha sido repentina, o primeiro passo nessa direção foi dado em 2019, quando a companhia encerrou as atividades da fábrica de São Bernardo do Campo (SP), demitindo os trabalhadores e tirando o Fiesta de linha.

Porém, até chegar neste ponto, a Ford cometeu alguns erros que se tornaram cruciais para o fim de sua produção nacional. Confira abaixo quatro deles.

1- Autolatina

Anunciada em 1987, a união entre Volkswagen e Ford começou de fato apenas três anos depois, em 1990. Desse casamento saíram alguns VW em corpo de Ford (como Apollo, Logus e Pointer), e carros Ford em corpo de VW (como Versailles e Royale). Houve também o compartilhamento de motores entre as duas companhias, mas a situação desandou quando a marca alemã lançou a segunda geração do Gol e vetou um irmão criado pela Ford. Em 1994 o divórcio foi anunciado e em 1996 as duas empresas se separaram oficialmente.

Acontece que o fim da Autolatina foi ruim para a Volkswagen, mas péssimo para a Ford. A empresa teve que criar um portfólio novo de modelos, incluindo novos motores, já que os APs da VW não poderiam mais ser usados pela marca americana. A solução foi nacionalizar a quarta geração do Fiesta, atualizar o Escort e trazer o Ka para ser o modelo de entrada da empresa, além de importar o sedã Mondeo e a picape Ranger. Outra aposta foi a picape grande F-250 para suceder a F-1000, que já estava desatualizada.

Dessa forma, a Ford até conseguiu renovar seus produtos, mas perdeu terreno por conta da parceria frustrada com a Volkswagen, que acabou sendo um erro para a estratégia das duas empresas.

2- Segunda geração do EcoSport

Se o EcoSport não tivesse sido lançado em 2003, talvez a Ford brasileira tivesse fechado as portas há cerca de 20 anos. O pai de todos os SUVs compactos atuais foi um tiro certeiro da empresa, que soube apostar em um produto novo e que reinou por uma década. Porém, na hora de atualizá-lo, a companhia cometeu alguns erros. O EcoSport evoluiu, mas não o tanto que o mercado exigia. A segunda geração nunca foi referência em espaço e versatilidade. Dessa forma, quando a onda de utilitários esportivos veio de uma vez, o modelo da Ford perdeu terreno para os concorrentes mais espaçosos e modernos. Em 2015, o Honda HR-V roubou a liderança do segmento e o EcoSport nunca mais conseguiu voltar ao topo da tabela, saindo de linha de forma melancólica neste começo de 2021.

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3- Câmbio Powershift

A transmissão automatizada de dupla embreagem prometia ser algo revolucionário. Porém, embora fosse rápida para efetuar as trocas, os constantes problemas minaram a confiabilidade de EcoSport, Fiesta e Focus, três produtos da empresa que vendiam bem e eram os pilares da estratégia da marca. É verdade que a Ford tentou solucionar as falhas e deu garantia de 10 anos para a transmissão, mas já era tarde. A imagem ficou a arranhada e a empresa insistiu com a transmissão por tempo demais. O EcoSport adotou um câmbio automático convencional em 2017, mas Fiesta e Focus saíram de linha em 2019 ainda equipados com o famigerado Powershift.

4- Erros estratégicos

Em 2013, a Ford tirou a picape Courier de linha sem uma sucessora. A segunda geração do Ka também saiu do mercado neste ano para dar espaço para a terceira geração, que foi lançada em 2014. Por mais que ambos não fossem os mais vendidos da categoria, eram dois modelos de volume da companhia. A Courier estava desatualizada, é bem verdade, mas ela tinha a mesma idade da primeira geração da Fiat Strada, que segue mesmo com a nova geração em linha. Dessa forma, a empresa entregou de bandeja aos concorrentes sua participação no segmento.

Já o Ka de terceira geração se tornou mais sofisticado que o anterior, o que fez que a Ford deixasse de ter um modelo de entrada mais acessível. Pior: mesmo vendendo bem, o carro atual era caro de ser produzido e nunca deu o lucro necessário para a empresa. E quando o Fiesta saiu de linha, coube ao Ka ocupar o mercado do irmão maior. Acontece que ele não era páreo para Fiat Argo, VW Polo e a segunda geração do Chevrolet Onix e Hyundai HB20, por ser um projeto mais simples.

A Ford também errou ao lançar o motor 1.0 Ecoboost no Brasil para matá-lo pouco tempo depois. Moderno, o propulsor foi um desperdício de dinheiro da companhia, já que só equipou o Fiesta e não durou nem três anos no mercado.

Agora, com o fechamento das fábricas brasileiras, a Ford diz que não deixará de vender carros no Brasil. O problema é que como os concessionários iram se manter só com Ranger, Territory, Edge e Mustang. São carros de nicho e acima dos R$ 150 mil, inacessíveis para boa parte da população, ainda mais em um cenário de crise. De acordo com uma projeção do site Conexão Automotiva, a empresa deixará de ser a quinta fabricante do País e pode cair para a 10ª colocação sem as vendas de Ka e EcoSport. Mesmo com os lançamentos previstos para 2021 – o SUV Bronco, o utilitário Transit e a versão Mach 1 do Mustang – é difícil imaginar que a companhia conseguirá recuperar terreno sem produtos acessíveis e de volume, lição que Henry Ford já tinha dado para a sua empresa.

Com todo esse cenário, e se seguir sua trajetória de erros, é questão de tempo para que haja o fim completo da Ford no Brasil.




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