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30 anos de PSDB e incertezas

Tucanato teve melhor resultado político no Grande ABC na eleição municipal de 2016, mas vive dúvida na disputa presidencial

Por Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
24/06/2018 | 07:00
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Originário da dissidência de figuras do MDB, o PSDB completa amanhã três décadas de fundação, levando na bagagem seu melhor momento político no Grande ABC, quando, em 2016, elegeu prefeito em quatro cidades (Santo André, São Bernardo, São Caetano e Rio Grande da Serra) pela primeira vez na história – invadindo território considerado parte do cinturão vermelho –, mas diante do cenário de incerteza à disputa presidencial de outubro, na tentativa de emplacar o ex-governador Geraldo Alckmin, que ainda não conseguiu capitalizar apoio maciço na esfera nacional.

Desde a redemocratização do País, o tucanato apenas não esteve no protagonismo da concorrência de 1989 – a primeira com votação direta –, um ano após a sua criação, ao lançar o então senador Mário Covas (morto em 2001). Venceu duas eleições seguidas ao Planalto (1994 e 1998), com Fernando Henrique Cardoso, também egresso do MDB, e, embora derrotado nas quatro empreitadas subsequentes, foi para o segundo turno, polarizando com o PT. Na instância paulista, por outro lado, comandou o Estado por 24 anos e tem o favoritismo do ex-prefeito da Capital João Doria na busca por manter escrita ao Palácio dos Bandeirantes.

Doria, aliás, entra na lista, com o senador Antônio Anastasia, de Minas Gerais, dos potenciais quadros da legenda ao pleito, porém que não fazem parte do grupo que ajudou a fundar o partido em 25 de junho de 1988, ala essa que, inconformada com a rota do MDB, de Ulisses Guimarães, encampou a criação de uma agremiação, contando com as movimentações de FHC, Covas, Franco Montoro e José Serra. Na região, a legenda contabilizou a articulação dos deputados José Carlos Grecco (federal) e Fernando Leça (estadual).

O PSDB é conhecido, nos bastidores, por ficar em cima do muro. Mas apoiou o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT, deposta em 2016) e, a despeito de sua impopularidade, decidiu aderir ao governo do sucessor, Michel Temer (MDB), indicando nomes a cargos estratégicos no Ministério. Com a instabilidade do emedebista, a sigla atua, por coincidência, para se descolar da imagem do presidente, que acumula elevados índices de impopularidade, além de trabalhar para minimizar o desgaste sofrido pelo senador Aécio Neves, alvo da Operação Lava Jato em investigação que o envolve em episódio de corrupção.

Cientista político, Rui Tavares Maluf avaliou que o PSDB vive “momento mais difícil” de sua trajetória, diante do “distanciamento de suas origens”. Para o especialista, condutas da sigla nos Parlamentos, a exemplo da Assembleia Legislativa, mostra caráter eleitoral, mesmo sabendo do impacto nas contas públicas. “Demonstra contrariedade do discurso, de zelo pelas contas, da criação da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal). Houve coisas positivas, mas hoje há afastamento. Será verificado na eleição qual o tamanho da dessintonia da sigla e o eleitorado.”

O partido organizará ato terça-feira, em Brasília, para marcar a data. Prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB) rechaçou que o tucanato tenha perdido a essência pelo qual foi criado, ao frisar “boas gestões recentes como legado” em São Paulo e Goiás, além da estabilidade da economia, a partir da implantação do Real, que “serviu de modelo e permitiu alcançar outro patamar”. “Tivemos bons resultados, como em São José dos Campos. (Lá) A população provou o PT, e voltou para o PSDB. É importante se reciclar. Essa mudança (de governos) na Região Metropolitana, com nova safra, vai deixar legado”, pontuou, ao admitir erros dentro da sigla, mas cobrou postura. “Medida do Aécio foi inadmissível. Precisamos fazer essa autocrítica.”

O chefe do Executivo de Santo André, Paulo Serra, considerou, por sua vez, que a legenda necessita restabelecer suas diretrizes. O momento pelo qual o País passa, segundo ele, exige transparência, com apresentação de “ideias claras para alteração de rumo do Brasil e recuperação da capacidade econômica”. “O PSDB se notabilizou por esses eixos nas oportunidades que teve (de governo), de formulação de políticas públicas, justamente para não ser igual aos outros. Não devemos nos ater apenas a questões eleitorais. Tínhamos clara essa defesa no passado, uma linha mestra. Isso não pode ser perdido. Mostrar os caminhos para sair desta crise, a maior do pós-guerra.”

Partido nasceu sem nome definido, mas já com símbolo do tucano azul e amarelo

No dia 25 de junho, o partido foi oficialmente criado, em Brasília, com a filiação de oito senadores e 37 deputados federais, a terceira maior bancada do Congresso, mas curiosamente nasceu sem nome definido. E, se não havia a sigla escolhida, a agremiação já tinha símbolo: um tucano azul, com bico e papo amarelo, no mesmo tom do amarelo da campanha pelas Diretas Já. Somente no dia seguinte, em encontro nacional, é que foi sacramentada a legenda – PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira).

A escolha do nome foi defendida por 462 votos contra 261 dados ao PDP (Partido da Democracia Popular). O primeiro presidente provisório foi Mário Covas – cotado ao Planalto e que depois, em 1994, ganhou pleito ao governo de São Paulo, tirando das mãos do MDB. Covas falou, na ocasião, que o PSDB faria oposição ao governo José Sarney (MDB). “Não podemos apoiar um governo que quis ser o último da Velha República e não o primeiro da Nova República”, cutucou.

“Queremos sonhar, haveremos de sonhar e de transformar o Brasil no melhor lugar do mundo”, disse o deputado federal Pimenta da Veiga, encerrando o discurso de apresentação. O também parlamentar Artur da Távola assinalou que o novo partido nascia perto do pulsar das ruas. Seria parlamentarista, defendendo a supremacia do poder civil, contra o populismo e o autoritarismo. Já José Serra citou compromisso de combater a miséria e o aperfeiçoamento do Estado democrático.

Lideranças do PMDB à época criticaram a postura de figuras do partido que encabeçaram a movimentação pela saída da legenda. Ulisses Guimarães comparou que o PMDB era um transatlântico e estava havendo motim a bordo. “Espero que os que estão fugindo do motim não morram no mar das eleições que se aproximam”. Ironizando o PSDB, Ulisses citou que “tucano é uma ave em extinção”, numa referência ao símbolo da nova legenda.  




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