Setecidades Titulo Amor à profissão
Aos 90 anos, barbeiro de S.Caetano esbanja disposição

Morador do bairro Cerâmica, José Raghi exerce ofício há 77 anos; segredo da longevidade é não ter vícios e dormir cedo

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
13/06/2017 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Com a finalidade de civilizar o povo que aqui residia, os jesuítas que vieram para o Brasil durante o período colonial trataram de ensinar a barbearia aos brasileiros nativos. O ofício ganhou aqui diversas roupagens – nos séculos 17 e 18 esses profissionais ofereciam, além do corte de cabelo, sangrias, benzedura e venda de raízes –, e persistiu ao longo dos anos.

E essa profissão é a fonte de renda de José Raghi, morador do bairro Cerâmica, em São Caetano, que hoje completa 90 primaveras. Natural de São Manoel, Interior do Estado, ele aprendeu os primeiros cortes aos 13 anos de idade, ensinados por um amigo de seu pai, e está há 77 anos na profissão. “Nunca parei em lugar nenhum. Meu pai sempre fez esforço, mas nunca gostei de ir para escola. Como viu que não tinha saída, me colocou para trabalhar com um barbeiro de lá (São Manoel). Acabei aprendendo a profissão e não sai mais.”

Em 1945, veio ‘tentar a vida na Capital’ e atuou na Rua Augusta e na 25 de Março. Depois, abriu um salão no Ipiranga, onde ficou por 38 anos, mas sempre morando em São Caetano.

Nas últimas três décadas, no entanto, por comodidade, abriu o Salão Ipiranga embaixo de sua casa, na Rua Castro Alves. “Tenho um cliente há 50 anos, desde que cortava lá no Ipiranga. Ele vem aqui até hoje”, diz, orgulhoso.

Nos últimos anos, no entanto, a clientela caiu, muito por causa, na sua visão, da crise econômica que o País passa e, por isso, atua sozinho no estabelecimento. “Mas chego a cortar de seis a sete cabelos por dia. Aos fins de semana esse número passa de 12.” O corte custa R$ 20 e  para fazer a barba também.

Diversos salões de barbearia abriram nos últimos anos, mas, para ele, o que garante o funcionamento em pleno vapor, como o seu, é a paixão pelo ofício. “Isso (novos salões) é uma coisa normal, é como a moda. Ela vem, depois some, depois aparece de novo. O segredo para ser um bom profissional é a pessoa exercer aquilo que faz com amor. Se não nada dá certo”, conclui.

O salão costuma abrir às 8h, mas 7h30 ele já está por lá, a postos. Este é o seu segredo de longevidade. “Sou uma pessoa metódica. Durmo cedo e graças a Deus não tenho vício nenhum. Meu único vício é trabalhar”, brinca. E o seu único pedido hoje, ao apagar as velinhas, é saúde. “O que eu tinha de fazer na minha vida já fiz. Criei meus filhos (quatro). Só quero continuar trabalhando, só isso.” Pelo visto, disposição para tanto ele tem de sobra. 




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