Setecidades Titulo
'Pancadão' é ponto alto da semana no Jd.Santo André
William Cardoso
Do Diário do Grande ABC
26/10/2008 | 07:00
Compartilhar notícia


O 'pancadão' da Rua dos Dominicanos anima a juventude do Jardim Santo André todas as noites de quinta-feira. Embalado pelo som alto e as rimas provocantes do funk, o evento é o ponto alto da semana e acontece paralelamente à famosa feira-livre do bairro, onde se vende de tudo um pouco. É a opção de diversão para quem mora distante da região central, das baladas do Bairro Jardim, por exemplo.

Na festa é que todo mundo tenta esquecer um pouco do dia-a-dia violento e, muitas vezes, sem perspectiva do local. Tudo acontece ao ar livre, sem que seja preciso pagar entrada. Assim como no futebol da quadra e do campinho, ambos malconservados, mas abertos a quem pretende mostrar habilidade com a bola. Como Liso, o ex-namorado de Eloá.

O esporte é praticado muitas vezes em locais improváveis, como o corredor que separa os apartamentos da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano). É ali que também se joga futebol, com dribles curtos e medo de que a bola corra pela escada - ou caia dois, três andares.

É comum cruzar com pais de família passeando pelas ruelas, de bermuda e chinelo, em plena luz do dia. Não que todos estejam desempregados ou vivam à margem da sociedade produtiva; muitos ocupam funções em períodos pouco compatíveis com quem está acostumado à rotina dos escritórios. Os turnos da produção ou a vigilância às propriedades dos patrões normalmente se estendem além do horário comercial.

Garotas desfilam pelo bairro com roupas sumárias, chamando a atenção por aquilo que vêem como exemplo na TV. Muitas já carregam pela mão, ou ainda no colo, os filhos recém-nascidos, que muitas vezes são o preço pago pela libido em alta desde cedo, sem acesso ou conhecimento sobre programas de contracepção.

O vaivém das mulheres que buscam nas numerosas igrejas evangélicas alguma salvação é constante. Elas se esforçam por manter maridos e filhos distantes dos bares, tão presentes quanto os templos. A solidariedade entre vizinhos é apontada como característica da região e motivo de orgulho.

"Tem gente que critica tudo por aqui, mas também tem que ver o lado positivo. Todo mundo se ajuda", explica um comerciante, sem se identificar. Depois do caso Eloá, ninguém quer revelar o nome.

"Na favela, a pessoa tem que evitar confusão e tudo que possa atrapalhar o seu dia-a-dia. Mas essa é uma lei que deveria valer para todos os lugares", diz outra comerciante. "Periferia é periferia", como no rap dos Racionais MC's.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;