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Micros da RMSP são mais frágeis
Niceia de Freitas
Do Diário do Grande ABC
19/11/2004 | 10:02
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Dados do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) indicam que em média abrem no Estado de São Paulo 120 mil empresas por ano e fecham 80 mil. A situação tem maior reflexo nas regiões metropolitanas, como a RMSP (Região Metropolitana de São Paulo), em função da maior competitividade e da concorrência das grandes redes.

Representantes dos setores industriais, comerciais e de serviços não se surpreenderam com a perda de 6,1 empresas formais por dia do setor terciário na região, de janeiro de 1999 a dezembro do ano passado, conforme publicado pelo Diário nesta quinta. Os dados são do IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos), braço estatístico do grupo Diário, em parceria com a Target Marketing e Pesquisas, empresa especializada em estudos de potencial de consumo.

O quadro não é considerado uma característica exclusiva da região. Um outro dado do Sebrae também revela que 60% das empresas recém-abertas não sobrevivem até o quinto ano. E os principais fatores estão relacionados à falta de planejamento. Segundo dados do IEME, a maioria da mortalidade dos empreendimentos, nos últimos cinco anos, é de pequeno porte. O gerente do escritório regional do Sebrae Grande ABC2 (atende Santo André, Mauá e Ribeirão Pires), em Santo André, Claudio Barrios, afirma que a deficiência na gestão empresarial contribui para o fechamento já que, em geral, as micro e pequenas empresas não têm estrutura para controlar fluxo de caixa ou formar preço de venda do produto ou serviço.

Claudio Barrios cita ainda que há insuficiência de políticas públicas. "Algumas atividades não se enquadram nas regras do Simples (imposto), que unifica os impostos e, conseqüentemente, têm uma carga tributária maior", acrescenta Barrios.

Evasão - No entanto, a região tem uma particularidade. A evasão de cerca de 30% do parque industrial do Grande ABC nos últimos dez anos deixou inúmeros desempregados. A conclusão é a de que pode ter havido migração de pessoas que tinham um emprego para tentar se estabelecer por conta própria, principalmente no segmento de comércio e serviços.

Em termos relativos, São Caetano teve uma redução de 11,13% de empresas nos últimos cinco anos, entre janeiro de 1999 e dezembro do ano passado - eram 7.782 empresas ante 6.916.

O desempenho de São Caetano é o segundo menor do Grande ABC, perdendo apenas para Rio Grande da Serra, que registrou perda de 5,07%. Para o diretor de Desenvolvimento Econômico de São Caetano, Jerson Ourives, essa é uma realidade positiva da cidade. Ele atribui a situação às políticas desenvolvidas pela administração para oferecer alternativas aos empreendedores. "Damos sustentação aos empresários para se desenvolverem na cidade. Hoje (quinta) mesmo realizamos o fórum do cooperativismo, pois entendemos que se trata de uma atividade estável, que cresce a cada ano e pode ser uma alternativa para absorver mão-de-obra", ressalta.

Segundo Ourives, trabalhos planejados pela Casa do Mercosul, um órgão anexo à Diretoria de Planejamento, desenvolvem trabalhos para ajudar as empresas a se projetarem no comércio exportador e um outro cria oportunidade para micro e pequenos empresários, como as rodadas de negócios promovidas por dois anos seguidos na cidade. Aliado a isso, o diretor diz que a Prefeitura é parceira do Sebrae desde 1997 para fomentar os pequenos estabelecimentos. "A mudança é uma exigência para o empresário, que deve sempre se atualizar", enfatiza ao comentar que esse é um dos caminhos orientados pelo Sebrae.

Administração - Valter Moura, presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo) também credita à administração pública o fato de a cidade estar em antepenúltimo lugar no ranking de perda das empresas em relação aos sete municípios. São Bernardo perdeu 16,72% (20.354 contra 16.916), de janeiro de 1999 a dezembro de 2003. "Com exceção de São Caetano, São Bernardo tem maior poder aquisitivo e também atendemos bem os empresários locais e temos infra-estrutura urbana", acrescenta.

Para Moura, as causas gerais da mortalidade na região são as mesmas das verificadas no país, como carga tributária e juros elevados, aliados à falta de capacitação gerencial. "Muitas vezes, uma empresa fecha por falta de planejamento", comenta.

A perda de empresas na região não significa para Moura que o Grande ABC se tornou decadente. "Ao contrário, temos um grande potencial consumidor, além de o setor de comércio e serviços ter se desenvolvido nos últimos anos." Ele também acredita que muitas empresas surgiram como alternativa de emprego e renda para pessoas que ficaram desempregadas. Por falta de nova oportunidade no mercado de trabalho preferiram investir a indenização em algum tipo de comércio e serviço.

Da mesma forma, avalia Silvana Pompemeyer, gerente do escritório regional Grande ABC1 (atende São Bernardo, São Caetano e Diadema). "A nossa (da região) mão-de-obra não estava preparada para as mudanças macroeconômicas que acabaram por expulsar indústrias para outras localidades. Além disso, os trabalhadores daqui estavam acostumados a níveis salariais altos e não conseguiram outra colocação, situação que os levaram a buscar alternativas de renda para sobreviver", resume.

Silvana lembra que a região contou com vários planos de PDV (Plano de Demissão Voluntária) que também estimularam a busca por novas fontes de sobrevivência. Segundo a dirigente do Sebrae regional o ponto de atendimento da instituição, instalado há cerca de três anos no Poupatempo em São Bernardo, contabiliza um volume de 50 mil consultas por ano para a abertura de novos negócios. Ela diz que o Sebrae trabalha a massificação de um projeto para esclarecer que a constituição de novo negócio depende de, no mínimo, planejamento de um ano, para dar uma visão mais ampla da estrutura necessária.

Silvana acrescenta ainda que o Sebrae é apenas um dos atores da sociedade para promover mecanismos de desenvolvimento, porém, é necessário um projeto de forma conjunta. "Ações com a Câmara (Câmara Regional do Grande ABC), o Consórcio (Intermunicipal do Grande ABC) foram trilhadas para discutir alternativas de desenvolvimento para geração de novas empresas", lembra.




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