Economia Titulo Segregação
Urbanistas temem criação de 'guetos'

Especialistas afirmam que plano habitacional de R$ 34 milhões do governo pode segregar a população mais pobre

Michele Loureiro
Tauana Marin
27/03/2009 | 07:00
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Urbanistas e especialistas em questões habitacionais temem que a construção das moradias previstas no pacote habitacional do governo federal tornem-se enormes ‘guetos' e segreguem ainda mais a população carente e de baixa renda.

O plano anunciado na quarta-feira pelo Palácio do Planalto promete a construção de 1 milhão de casas no País, com investimento de R$ 34 bilhões. Cada unidade varia de 32 até 42 metros quadrados de área útil e deve atender, prioritariamente famílias com renda de zero a seis salários mínimos.

Reconhecida internacionalmente por seus trabalhos na área de habitação e urbanismo, Herminia Maricato, ex-secretária de Urbanismo da Prefeitura de São Paulo e professora da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), alerta para a possibilidade de segregação dos beneficiados pelo programa federal. "Ninguém quer a construção de moradias humildes no terreno vizinho. A desvalorização imobiliária pode ser um empecilho", destaca.

Para o urbanista e professor da FAU-USP, Issao Minami, o programa pode criar um processo maligno e ‘isolar' a população mais carente em áreas afastadas dos centros das cidades. "Isso é preocupante porque nessas áreas não há infraestrutura, ou seja, é necessário pensar em sistema de saneamento básico, energia, transporte, educação, saúde, em tudo", lembra.

Além disso, Minami enfatizou o fato de que no Grande ABC, como em outras regiões metropolitanas do País, as grandes áreas disponíveis são, em sua maioria, mananciais e de alto risco. "Não dá para arriscar a qualidade de vida e segurança dessas pessoas".

MATERIAIS - Para Herminia, os materiais de construção são outra possível barreira. "Normalmente quem constrói são as classes média e alta. A população de baixa renda apenas reforma, faz um ‘puxadinho'. Portanto, precisamos saber se há como mudar o foco da construção no País. Precisa haver adaptação nos materiais (para que sejam mais baratos), nos profissionais e nos projetos. Tudo isso, sem que as moradias percam a dignidade", defende.

Para o diretor da Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção), Hiroshi Shimuta, não haverá problemas em termos de custo, sequer de quantidade de materiais. "A indústria que fornece insumos para a construção de moradias trabalha com 85% da capacidade, podemos ampliar isso. Quanto ao preço, temos desde a porta que custa R$ 800 mil até aquela cujo valor é R$ 60. Vamos optar por preços baixos, porém com a mesma qualidade", garante Shimuta.

Além do presidente da Anamaco, Osvaldo Garcia, vice-presidente de habitação da Apeop (Associação Paulista de Empreiteiras de Obras Públicas), também comemorou o anúncio. "O projeto chegou em boa hora, pois o nosso setor já estava sentindo os efeitos da crise financeira mundial", diz.




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