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'São Bernardo' sai restaurado em DVD
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20/11/2008 | 07:00
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Foi uma noite especial a de abertura do 41º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Como sempre, no Teatro Nacional e com belo concerto da orquestra do teatro que, desta vez, tocou Camargo Guarnieri e Ravel (La Valse). Mas o destaque tem de ficar para a exibição da cópia restaurada de uma das obras-primas do cinema nacional, São Bernardo, de Leon Hirszman (1937-1987). A cópia restaurada, também em DVD, traz entre os extras curta de Leon, Maioria Absoluta, de 1964.

Antes da projeção, subiram ao palco dois dos filhos de Leon, Maria e João Pedro, o fotógrafo do filme e restaurador, Lauro Escorel, e dois dos atores, Othon Bastos e Nildo Parente. Maria Hirszman, crítica de artes
plásticas, leu um texto enxuto, porém muito emocionado.

Essa emoção serena contagiou a platéia e, de certa forma, preparou-a para o que viria. E o que veio foi um filme restaurado com todo o rigor, cores e sons intactos, tais como foram concebidos no original.

Uma luz especial, com poucos recursos, e sempre que possível com registro na luz natural. Uma pintura na tela. E a pintura tematizando aquilo que Graciliano Ramos pensara em seu romance - uma saga da destruição humana pela cobiça, pelo embrutecimento causado pela ânsia da acumulação.

A narrativa se dá em primeira pessoa. Paulo Honório (Bastos, magnífico) rememora sua vida. De como havia começado no eito e se transferido, à custa de esforço e esperteza, para o outro lado da vida. Negociando com o herdeiro da fazenda São Bernardo, Padilha (Parente), Honório consegue tomar-lhe a propriedade. É a realização do seu sonho, tornar-se proprietário de terras, homem poderoso e rico.

Falta-lhe uma companheira, para dar-lhe um herdeiro. Ouve falar de uma mulher bonita, Madalena (Isabel Ribeiro). Honório a convida para vir à fazenda, lhe faz uma proposta, que é aceita.

O arranjo poderia ter funcionado, não fossem os ciúmes de Honório. Talhado para ser proprietário, não poderia deixar de se sentir dono da própria mulher, como se sentia dono dos trabalhadores e dos que orbitavam em torno dele.

Essa parábola da destruição dos outros e de si pela ambição capitalista é dirigida com rigor, o que evita o discurso ideológico rançoso. Hirszman constrói cada plano com minúcia de artista plástico. Liga-os de maneira necessária, nunca aleatória. Tudo é rigor e invenção, da fotografia à trilha, de Caetano Veloso, que poucas vezes foi tão experimental.

 




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