Cultura & Lazer Titulo Em pauta
Evento discute o teatro para jovens
Por
11/09/2008 | 07:07
Compartilhar notícia


Jovens e teatro: eis uma combinação que deveria ser eletrizante. Mas será que rola mesmo? Na época da adolescência, período conturbado em que mais se questionam os valores, os sonhos, as identidades e o sentido da vida, o teatro, pelo que contém de vivo e revolucionário, poderia ser o canal ideal para a moçada buscar pelas respostas mais cabeludas. Tá ligado?

O tema vai ser contemplado nos seminários que começam hoje na Galeria Olido e prosseguem no Centro Cultural Arte em Construção, em Cidade Tiradentes, como parte do 1º Encontro Comunitário de Teatro Jovem da Cidade de São Paulo. A ELT (Escola Livre de Teatro) de Santo André participa de seminário no dia 20 .

"Há ótimas peças para jovens (que também vão agradar a adultos) em cartaz atualmente em São Paulo", atesta uma especialista, Bia Rosenberg, jurada do único prêmio paulistano voltado exclusivamente para esse setor, o Prêmio Femsa de Teatro Jovem. "Acho importante que os espetáculos já se apresentem com uma especificação do tipo ‘para jovens', porque isso pode provocar curiosidade na faixa etária", diz a também autora do livro A TV Que Seu Filho Vê - Como Usar a Televisão no Desenvolvimento da Criança.

"Teatro não pode ser chato", dispara Marcos Ferraz, co-autor do espetáculo Sessão da Tarde Remix, atualmente em cartaz no teatro do Clube Caravaggio, e que já fez várias outras temporadas atraindo jovens para a história de uma banda que busca o sucesso.

Mito - "Existe o mito de que o jovem não tem paciência e que precisa de agilidade, mas essa rapidez só funciona no teatro se vem intercalada com momentos de reflexão. O fundamental é que ele se veja representado. Quando Shakespeare escreveu Romeu e Julieta, não havia nem o conceito de juventude, mas quem duvida que seja um texto para jovens? Em qualquer lugar do mundo em que se esteja montando, a quantidade de jovens na platéia e no palco é sempre muito grande", diz ele.

Truques - Será que existem truques dramatúrgicos para fisgar os jovens? "É preciso ouvir o jovem e falar com ele sem nenhum cinismo", responde Antônio Rogério Toscano, autor da premiada Os Meninos e as Pedras e da recente O Pássaro Azul, ambas para adolescentes e em cartaz no Teatro Fábrica.

Toscano conta que O Pássaro Azul tem "tempo lírico, muito mais lento do que o de videoclipe, somente flautas tocando ao vivo na trilha, luz escura de lâmpada incandescente e texto altamente poético de Maëterlinck". E a galera? "As respostas deles são incríveis, eles são devorados pelo espetáculo, vão ao encontro do desconhecido do passado como forma de identificação intensa com seus anseios futuros, com o que ainda não foi visto."

Linguagem - Para Sérgio Roveri, outro autor que tem se dedicado com sucesso a essa faixa etária, é errado achar que um jovem vai ao teatro em busca das mesmas linguagens que já domina no seu computador, nos celulares, nos iPods. "Prefiro acreditar que ele esteja atrás de outra narrativa, de uma nova experiência sensorial, outra linguagem", diz. "O segredo para sua longevidade não está necessariamente na tecnologia, mas sim na velha, boa e ainda eficaz prática de contar uma boa história", afirma o autor de Cidadão de Papel, em cartaz no Espaço dos Satyros Um.

Autor de um sucesso persistente no teatro paulistano, Carro de Paulista, e agora atraindo multidões para o Sesi com o divertido O Médico e os Monstros, o dramaturgo Mário Viana comenta: "Quando se começa a escrever um texto específico para o público jovem, a tendência do autor é pensar em algo mais edificante, alguma peça com mensagem. O importante é deixar essa sensação passar. O mundo atual desagrada tanto jovens como adultos, mas a diferença é que o jovem tem esperança de mudar . Um texto adulto pode cair na desesperança, no desânimo. Um texto para jovens, não."

Shakespeare sempre - Outro adaptador, Amauri Falsetti, da cia. Paidéia, atualmente em cartaz com um D.Quixote para adolescentes, diz que nunca se deve esquecer do humor, nem abrir mão de diálogos curtos, leves e inteligentes. "Espelhar-se em Shakespeare é garantia de se dar bem com o público jovem", acredita.

Na sua direção de D.Quixote, com texto do alemão Lutz Hubner, Falsetti valoriza "o desvio do personagem, o seu não-lugar". "Ao sonhar e buscar viver a todo custo o seu sonho, repare como o Quixote ‘se acha', exatamente como na linguagem de hoje dos jovens", compara o diretor.

Fernando Bonassi se debruçou recentemente sobre a adaptação de Romeu e Julieta, de Shakespeare, resultando no espetáculo Sacrifício, também no Teatro Popular do Sesi. "A idéia é que atores e público sintam a vibração shakespeariana do amor, mas sempre às luzes do presente", diz Bonassi. "O espetáculo fala com a moçada de agora."

Para Bonassi, o segredo é escrever com verdade, porque a juventude "sente o cheiro da mentira e do moralismo". Ele explica: "Depois que se tornam adultos, ficam bobos, mas, enquanto jovens, sabem farejar a verdade e a atitude. Toda babaquice naufraga com esse público. E toda ousadia vinga, triunfa."

Programação

PRAÇA DO CORREIO, VALE DO ANHANGABAÚ
Nesta quinta-feira, 15h, cortejo; 16h, Histórias para Serem Contadas, Pombas Urbanas.
Sexta-feira, 16 h, Arrumadinho, Grupo Olho de Rua

GALERIA OLIDO (av. São João, 473, Centro. Tel.: 3334-0001)
Sáb. 15h: Abertura; 16h, Seminário de Redes de Teatro Nuestra Gente (Colômbia) e Catalina Sur (Cuba)
Dom., 16h: Seminário de Redes de Teatro, Secretaria Municipal de Cultura e dos Pontos de Cultura do Minc; 19h: In-Con-Cierto, Nuestra Gente

CENTRO CULTURAL ARTE EM CONSTRUÇÃO (av. dos Metalúrgicos, 2.100, Cidade Tiradentes. Tel.: 6285-5699)

Dia 16, 10h: Workshop de maquiagem com o grupo Nuestra Gente; 13h30, workshop de cenário e figurino com Vem Cá Vem Vê; 16h, Coração de Boxeador, Cia. Paidéia; 20h, Negrinha, Grupo XIX/Coletivo em Cor
- Dia 17, 10h: Workshop de dramaturgia com o Coletivo em Cor; 13h30, Workshop de direção com Catalina Sur; 16h, ComiCidade, Burado d'Doráculo; 20h, Posseiros e Fazendeiros, Filhos da Mãe... Terra
Dia 18, 10h: Seminário Teatro de Rua e Comunidade Movimentos Teatro de Rua e Teatro de Rede - São Paulo, Rio e Bahia; 16h - Cirylo y la Guacamaya, Nuestra Gente; 20h, A Brava, Brava Cia.

Dia 19, 10h: Seminário Processo de Criação e Produção Teatral em Comunidades; Grupos União e Olho Vivo, Os Satyros e Catalina Sur; 16h, Quem Ensinou o Diabo a Amassar o Pão?, com Vem Cá Vem Vê; 20h, Cidadão de Papel, com o grupo Os Satyros

Dia 20, 10h: Seminário: Formação Teatral com Jovens em Comunidade; Pombas Urbanas, Nuestra Gente, Escola Livre de Teatro de Santo André e MST Filhos da Mãe... Terra; 16h, Quem Ensinou o Diabo a Amassar o Pão?, com o Grupo Vem Cá Vem Ver; 20h, In-Con-Cierto, com o grupo Nuestra Gente
Dia 21, às 11h30: Cortejo; 13h, confraternização.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;