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Arte política
Sara Saar
Do Diário do Grande ABC
25/09/2010 | 07:07
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A última edição, montada em 2008, ficou conhecida como a Bienal do Vazio por ter um andar inteiro desocupado devido a dificuldades financeiras. Não será surpresa se a atual for lembrada como a Bienal da Polêmica.

A 29ª Bienal de São Paulo abre hoje para o público, com cerca de 850 obras de 159 artistas oriundos de diferentes países, no Parque do Ibirapuera. Antes mesmo da inauguração, causou uma série de discussões acaloradas.

Um dos alertas parte de defensores dos animais. Três urubus, confinados no vão central do pavilhão de Niemeyer, compõem a instalação Bandeira Branca, do brasileiro Nuno Ramos, que ainda recebe grandes esculturas geométricas. No topo, há poleiros - onde as aves ficarão até dezembro.

As luzes artificiais e o ruído seriam motivos de estresse para elas. "O artista tira a identidade do urubu. Transforma um animal silvestre que caça em um pássaro canoro", argumenta o advogado Rogério Gonçalves, de São Paulo.

Em nota à imprensa, a Bienal informou que "o autor da obra possui todas as licenças exigidas pelos órgãos de preservação ambiental". Ressaltou ainda que "a independência curatorial e a liberdade de criação, dentro dos contornos estabelecidos pela lei, são valores fundamentais da entidade".

Gonçalves não descarta manifestos caso a situação não mude. "Isso vai acontecer", garante. Na internet, abaixo-assinado contra a obra (www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/7046) somava 2.500 nomes até a tarde de ontem.

PROPAGANDA
Outra criação rendeu polêmica. Já coberto, o painel com retratos de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) integrava a instalação A Alma Nunca Pensa Sem Imagem, do argentino Roberto Jacoby.

Em consulta à Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo (PRE-SP), se a exibição traria irregularidade, a Bienal foi informada sobre o artigo 37 da Lei 9504/97, que proíbe a veiculação de propaganda de qualquer natureza em bens, cujo uso dependa de cessão ou permissão do poder público.

APOLOGIA
Na coleção Inimigos, o ‘tiroteiro' e o ‘esfaqueamento' protagonizados pelo pernambucano Gil Vicente, atraíram a reação da OAB -SP (Ordem dos Advogados de São Paulo), que solicitou a retirada da obra por fazer "apologia ao crime".

Nas imagens, Vicente se autoretrata matando personalidades políticas e religiosas. Lula, Fernando Henrique Cardoso e o Papa Bento XVI são algumas vítimas. Sobre a posição da entidade, o artista afirmou: "O tiro saiu pela culatra. Se queriam censurar, só chamaram atenção para o trabalho". Depois de concluir as telas, a sensação foi de alívio. "Descarreguei parte da minha raiva", declara. A Bienal decidiu pela manutenção

29ª Bienal de São Paulo Exposição. No Pavilhão Ciccillo Matarazzo (portão 3 do Parque do Ibirapuera) - Avenida Pedro Álvares Cabral, São Paulo. Abre hoje. Diariamente, das 9h às 19h (exceto quinta e sexta, das 9h às 22h). Até 12/12. Grátis.

 

Espaço de reflexões críticas
Alvo de sucessivas polêmicas, a 29ª Bienal de São Paulo ganha maiores chances de alcançar a ambiciosa expectativa de público: 1 milhão de visitantes contra os mirrados 161 mil da edição anterior. O orçamento é de R$ 30 milhões.

Ancorada na ideia de que é impossível separar a arte da política, a mostra tem como título o verso Há Sempre um Copo de Mar Para um Homem Navegar, escrito por Jorge de Lima em Invenção de Orfeu (1952).

Com curadoria de Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias, o evento cede espaço a reflexões críticas do mundo a partir de linguagens como fotografia, desenho, escultura e cinema.
No espaço labiríntico, projeto da arquiteta Marta Bogéa que leva o público a tomar decisões, há o encontro e o entrechoque de criações recentes e ‘históricas'. As últimas, necessárias não como meros documentos do passado, mas criações que nos ajudam a entender o mundo contemporâneo.

Quem planeja ir à Bienal de São Paulo pode reservar pelo menos cinco horas para momentos de desconcerto e deslumbramento. Além das polêmicas, outras provocações merecem olhares, caso da instalação Feijão e Arroz, feita pela italiana Anna Maria Maiolino durante a ditadura no País.

 

A Bienal não se restringe ao contemplativo. Em seis espaços, os Terreiros, o público poderá experimentar a força transformadora da arte. Toda a agenda está na internet (www.29bienal.org.br). (Sara Saar)




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