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Filhos de políticos não querem carreira dos pais
Por Teresa Pimenta
Do Diário do Grande ABC
31/10/2005 | 08:16
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Ficar longe dos palanques quando o pai é um político conhecido não é tarefa das mais fáceis. Nem o roqueiro Supla resistiu e participou da campanha e de atos do governo da mãe, Marta Suplicy, na Prefeitura de São Paulo. Mas o dia-a-dia da carreira política pode também afastar os herdeiros da vida pública. O ex-prefeito de São Bernardo Tito Costa define bem a situação: "A política deixa o pai distante das atividades familiares".

Segundo Costa, quem liderava a campanha anti-política em sua casa era a mulher, já falecida. "Pelo amor de Deus, não inventem de entrar para a política", dizia a mãe. Deu certo. Dos quatro filhos, nenhum seguiu os passos do pai. Ricardo Nunes Costa, 50 anos, é o mais próximo, já que é advogado como o ex-prefeito. "Gosto do assunto, uma vez que trabalho como advogado na área do direito político, mas não tenho o ‘tchan’ para ser candidato", conta.

Ricardo afirma que não se candidatou a cargos eletivos nem se filiou a um partido porque tem no pai um exemplo de político à moda antiga. "Hoje o marketing e o poder econômico falam mais alto. Para mim, político não é isso, é aquele que consegue se aproximar das pessoas, tem carisma e comunicação", explica. "O candidato de hoje não chega perto do povo", completa.

Ricardo também não gosta da idéia de ter de fazer campanha como filho de político famoso. "Tenho orgulho do meu pai, tanto que sou advogado como ele e trabalhamos juntos, mas não me sentiria à vontade usando isso para ganhar uma eleição", diz. Para o advogado, não é o medo da comparação com o pai que o distancia dos palanques. "Poderia até me eleger, mas reconheço que não tenho o perfil certo e a carreira não iria adiante".

Filha do ex-prefeito de São Caetano Luiz Tortorello, Marta Cristina Tortorello é professora de Artes e sua primeira experiência na administração pública aconteceu após a morte do pai, no ano passado. "Não posso dizer que não gosto de política, pois ela faz parte do dia-a-dia da minha família, mas brinco sempre que ainda sou jovem para começar a carreira", diz a diretora de Promoção Social e Cidadania da Prefeitura de São Caetano.

Dos quatro filhos do ex-prefeito, só o deputado estadual Marquinho Tortorello (PPS) está na política. "Ele (Marquinho) nos representa muito bem. Tivemos um bom professor", afirma Marta. Para ela, o trabalho na administração é um "estágio". "Agora estou conhecendo mais de perto os meandros da política".

Outro que não fez herdeiros políticos é o ex-prefeito de Santo André Newton Brandão. Porém, ele destaca os dotes das três filhas – médica, advogada e arquiteta. "Qualquer uma poderia muito bem ter seguido a carreira política, mas acabaram fazendo outras opções", diz. A esperança é o neto Eduardo, 17 anos, que mora em Campinas. "Ele tem jeito para a coisa. Se morasse aqui, perto do avô, iria se envolver mais", diz. A Medicina parece ter feito mais sucesso na família de Brandão, que é médico. Uma das outras duas netas estuda Medicina e a outra, Direito.

Prefeito de Ribeirão Pires por duas vezes, Luiz Carlos Grecco tem o filho, Anderson, ao seu lado na política. Presidente do PP na cidade, Anderson foi candidato a vereador e a vice-prefeito. Já a pedagoga Fernanda Rodrigues Grecco, 23 anos, lembra com certa mágoa os tempos de escola, quando o pai ocupava a Prefeitura. "Os colegas usavam o fato de meu pai ser prefeito para dirigir críticas a mim ou mesmo pedir favores, como se eu pudesse fazer alguma coisa", conta.

A invasão de privacidade fez com que Fernanda tivesse hoje uma opinião taxativa. Perguntada se poderia algum dia se candidatar a cargo eletivo, a resposta veio rápida: "Nunca". Atualmente ela trabalha no setor administrativo da escola da família, junto com outra irmã, que é professora.

Também de Ribeirão, Marcos Prisco, 44 ano, empresário do ramo imobiliário, tem uma peculiaridade. Só faz política junto com o pai, Valdírio Prisco, prefeito duas vezes. "Não quis seguir carreira, apesar de ser filiado ao PMDB e já ter sido convidado várias vezes", afirma.

Marcos participou das campanhas do pai e foi secretário de Administração. Se não teve vontade de seguir carreira até agora, são pequenas as chances de que isso aconteça no futuro. "O poder econômico é que decide as eleições, não há mais propostas e ideologia em jogo", critica. "Se a crise política que o país atravessa não levar a uma reforma séria na legislação eleitoral, mergulharemos no caos", completa.

O deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT), pai de sete filhos, acredita que tem poucas chances de ver um deles na carreira política. "Procuro deixá-los livres, sem fazer pressão", afirma.

Frases

"Gosto do assunto, mas não tenho o ‘tchan’ para ser candidato"
Ricardo Nunes Costa, filho de Tito Costa

"Qualquer um poderia ter seguido, mas acabaram fazendo outras opções"
Newton Brandão, ex-prefeito de Santo André

"Os colegas usavam o fato de meu pai ser prefeito para pedir favores"
Fernanda Rodrigues Grecco, filha de Luiz Carlos Grecco

"Não quis seguir carreira, apesar de ser filiado ao PMDB"
Marcos Prisco, filho de Valdírio Prisco




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