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Grande ABC se mobiliza para que não falte oxigênio

Consumo em unidades de saúde da região aumentou de 40% a 84%; Diadema e São Caetano avaliam possibilidade de instalação de usinas

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
23/03/2021 | 00:01
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DGABC


As prefeituras do Grande ABC já começaram a se mobilizar para garantir que não falte oxigênio medicinal nas unidades de saúde para os pacientes com Covid. O presidente do Conasems (Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde) e secretário de Saúde de São Bernardo, Geraldo Reple, afirmou ontem, em entrevista à Globo News, que 54 cidades do Estado estão com situação crítica no abastecimento do insumo, especialmente pela alta demanda e pela falta de cilindros. O Diário mostrou em 7 de março que algumas prefeituras já manifestavam preocupação com a situação. Ontem, ao menos quatro administrações expressaram em números o aumento de consumo.  

Diadema foi a cidade que reportou maior aumento no consumo e, segundo a administração, o uso diário de oxigênio medicinal subiu 84% em março, na comparação com os meses anteriores. A Prefeitura destacou que vem monitorando diariamente os estoques, que até ontem eram o bastante para 15 dias, a fim de evitar imprevistos. O Paço informou ainda que, diante desse aumento exponencial, os técnicos da Secretaria de Saúde analisam a possibilidade de implantação de uma usina na cidade.

Em Ribeirão Pires, o consumo diário de oxigênio dobrou, de acordo com a Prefeitura. Apesar da alta demanda, a administração garante que não haverá falta do insumo, já que nos próximos dias a empresa White Martins, principal fornecedora de oxigênio medicinal do País, vai instalar na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Santa Luzia um tanque que vai abastecer todos os leitos, dispensando a necessidade de cilindros individuais. 

São Bernardo também reportou aumento de 40% no consumo, o que tem deixado o estoque da cidade abaixo do normal. Além disso, há dificuldade de abastecimento destes componentes, devido à logística para transporte. O município informou que mantém contato diário com o fornecedor do gás, para controle de estoque e abastecimento antes do prazo de entrega, caso necessário. Em São Caetano, onde o uso de oxigênio aumentou 40%, a Prefeitura estuda a viabilidade de instalação de uma usina. 

Em Mauá, o consumo de fevereiro foi 17,3% maior do que no mês anterior. A Prefeitura explicou que o estoque é feito baseado na utilização dos 12 meses anteriores, mas ponderou que a pandemia alterou todas as possibilidades de estimativa, até mesmo por parte dos fornecedores de conseguirem entregar, já que as empresas não estão dando conta de produzir. 

A administração mauaense informou, ainda, que no último fim de semana o tanque de oxigênio da UPA Barão de Mauá foi trocado, mas não informou o aumento da capacidade com o novo reservatório. 

Santo André não detalhou se houve aumento no consumo, mas informou que a rede de oxigênio está estruturada com tanques capazes de suprir a necessidade do município. Segundo a administração, nos últimos dois meses foram consumidos, em média, 104 m³/mês, levando em conta CHM (Centro Hospitalar Municipal), Hospital da Mulher, hospitais de campanha e UPAs . Rio Grande da Serra não tem leito de internação.

Hospital em S.Caetano instala cilindro de 15 mil m³

O Hospital Santa Ana, em São Caetano, acaba de instalar um cilindro de oxigênio líquido com capacidade para até 15 mil metros cúbicos do insumo. Para se ter uma ideia de volume, pacientes que necessitam de oxigenação, seja por uso de catéter, máscara ou devido à entubação, consomem de cinco a dez litros de oxigênio por segundo. Ou seja, todo o volume do cilindro é o bastante para 25 mil a 50 mil horas de uso.

Diretor do hospital, o infectologista Paulo Rezende explicou que a instalação do cilindro visa atender à crescente demanda por leitos de internação. “Se nos primeiros meses da pandemia a menor parte dos pacientes internados necessitava de oxigenação, isso mudou muito nessa segunda onda”, alertou. A unidade hospitalar conta hoje com 90 leitos, sendo 30 de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e com o novo estoque de oxigênio poderá ampliar as instalações e chegar a até 150 leitos, com segurança de abastecimento. 

Rezende explicou que o surgimento do subtipo do coronavírus, que foi identificado inicialmente em Manaus, mudou totalmente o perfil dos pacientes, tanto com relação à idade – é cada vez maior o número de pacientes mais jovens internados – quanto com relação à gravidade que esses pacientes chegam ao hospital, com 90% necessitando de auxílio na respiração. “Essa mudança de perfil dos pacientes alterou tudo o que se sabia em termos de planejamento de insumos, aumentando os desafios dos gestores”, detalhou. 

O infectologista ponderou que, mesmo que equipamentos de saúde públicos e privados estejam aumentando a sua capacidade de atendimento, apenas medidas como o distanciamento físico e o uso de máscaras são eficientes para que o número de novas contaminações caia. 

“Não podemos ainda falar em proteção causada pela vacina, porque precisa de um tempo até que o sistema imunológico comece a responder”, relatou. “O que a gente precisa, e infelizmente não temos visto, é que as pessoas não façam aglomerações, usem a máscara corretamente, para que não sejam infectadas”, pontuou.

Rezende afirmou que o comportamento de risco das pessoas tem causado o que chamou de “pequenos ciclos de pandemia doméstica”, quando várias pessoas da mesma família se contaminam. “A gente sabe como a doença vai entrar, mas não temos como prever como ela vai se instalar no organismo. É preciso prevenir”, concluiu.




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