Economia Titulo Também criticou mídia sobre Covid
‘Brasil está quebrado’, diz Bolsonaro a apoiadores

E emenda: ‘Eu não posso fazer nada’; para especialista, ele não entende de economia

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
06/01/2021 | 00:06
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse ontem a apoiadores no Palácio da Alvorada, em Brasília – sem usar máscara, embora esta seja uma das recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) para evitar a propagação do novo coronavírus – que o Brasil está quebrado. Ainda, afirmou que a pandemia é potencializada pela imprensa.

“Chefe, o Brasil está quebrado, chefe, e eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda. Teve esse vírus, potencializado pela mídia. Essa mídia sem caráter que nós temos. É um trabalho incessante de tentar desgastar para retirar a gente daqui e voltar alguém para atender aos interesses escusos da mídia”, disparou no dia em que o País contabiliza 196.561 mortes pela Covid-19, que já dizimou quase 10% da população brasileira. Apoiadores dizem que eles está fazendo um bom trabalho, para ter fé em Deus, e ele emenda que terão de aguentá-lo até o fim de 2022.

Na avaliação do coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, Sandro Maskio, a frase proferida pelo presidente tem alguns problemas. Um deles se refere ao fato de ele não conseguir fazer nada. “Ele escolheu ser presidente da República, tem que dar conta dessa tarefa, deveria ter essa consciência. Faz parte das obrigações do cargo executivo. Dá a entender que ele não consegue negociar com o Congresso, que tem dificuldade de aprovar medidas que gostaria, em encontrar soluções ao problema fiscal crônico do País”, assinala.

O segundo ponto é que, para Maskio, Bolsonaro não entende de economia, o que o fez dizer “frase infeliz”. “Pelo fato de a economia ser uma área muito técnica, as pessoas, muitas vezes, não a compreendem, mas opinam sobre ela. É como com a Seleção Brasileira, em que todo mundo acha que consegue fazer escalação melhor do que o técnico. Mas não é assim. Um dos maiores erros é passar por cima de pessoas técnicas, que estudaram para aquilo e entendem sobre o que estão falando”, compara. “Além disso, quebrado não é um termo apropriado para um país. E o Brasil não está quebrado. Passa por retração econômica, sofreu um impacto forte da pandemia, mas já teve dias piores.”

O especialista se refere à recessão do biênio 2015/2016, quando o PIB (Produto Interno Bruto) emplacou dois resultados negativos seguidos, de 3,5% e 3,1%, durante o governo Dilma Rousseff (PT). No terceiro trimestre do ano, o PIB acumulou, em 12 meses, queda de 3,4%. Em 2020, a previsão é de recuo de 4,4%, mas, para este ano, há projeção de crescer 3,4%. “O tombo poderia ser pior, mas não é. Na pandemia, setores como o de alimentação, produtos de limpeza, área médica, itens farmacêuticos, tiveram crescimento, enquanto que outros caíram. Cada setor teve um impacto diferente. Não se pode ignorar isso.”

A fala de Bolsonaro, inclusive, contradiz declarações recentes do ministro da Economia, Paulo Guedes – que está de férias até sexta-feira, dia 8 – de que a atividade econômica do País está numa trajetória de recuperação em V, com a retomada na mesma velocidade da queda causada pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus.

Quanto ao Imposto de Renda, existe discussão em torno de reforma tributária no governo, encabeçada pela equipe econômica da União. “Em período de crise, cai o volume de impostos pagos, diminui a arrecadação, aumenta o desemprego e crescem despesas públicas com hospital, por exemplo. Fica mais difícil equilibrar as contas, que contam com uma dívida pública crônica. Não é tão simples assim.” 




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