Setecidades Titulo Diagnóstico
Mauá realiza apenas três testes a cada 1.000 habitantes

De acordo com relatório do TCE, município é o que menos
examinou população entre as cidades do Grande ABC

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
23/07/2020 | 00:01
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De acordo com dados compilados pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) e enviados pelas prefeituras, Mauá é o município do Grande ABC que realizou, até junho, o menor número de testes para Covid-19, considerando a taxa de exames por 1.000 habitantes. Foram 1.554 pessoas testadas, o que representa apenas 3,29 aferições para cada grupo. São Caetano, a cidade com maior número absoluto e maior taxa entre as sete cidades, fez 37.628 testes, taxa de 233,53 exames por 1.000 habitantes (veja dados na tabela abaixo). Diadema tem a segunda pior taxa da região. Até junho, testou 7.354 pessoas, com taxa de 17,35.



Infectologista e professor do curso de medicina da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo), Renato Grinbaum afirma que a testagem da população é a ferramenta técnica mais apropriada para determinar políticas de prevenção de disseminação da doença. “Aliada a dados de lotação de leitos, ela permite tanto a indicação quanto a suspensão de medidas de isolamento de forma correta, evitando exageros e prejuízos à sociedade”, pontua. O docente destaca que os países que mais testaram indivíduos apresentam taxas superiores a 100 testes por 1.000 habitantes. “É preferível direcionar verbas para este tipo de ação, que tem consequências reais positivas, do que gastar em ações e medicamentos sem eficácia”, concluiu.

Chefe da infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e integrante titular da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Alexandre Naime lembra que em regiões conurbadas, ou seja, quando não há separação física clara entre uma cidade e outra, como o Grande ABC, as ações de combate têm que ser homogêneas e integradas. “A falta de testagem em alguns locais, em algumas cidades, vai comprometer o entendimento da transmissão e o isolamento mais rigoroso dos casos positivos”, relata.

Infectologista do Hospital Santa Ana de São Caetano, José Raphael Ruffato alerta que a discrepância de números entre as cidades dificulta na hora de analisar a curva de contágio, não apenas na região, mas em todo o Estado. “O ideal seria colher o exame PCR (que identifica o material genético do vírus) de todos os casos suspeitos, mas acontece que muitas vezes, principalmente os pacientes assintomáticos ou com quadros gripais leves, não fazem o teste. Alguns lugares estão reservando (o material) para fazer quando o paciente tem um caso de moderado a grave”, completa.

O médico pontua que, com relação ao Plano São Paulo, que avalia periodicamente os dados das cidades para reabertura gradual das atividades, bons resultados de uma cidade podem compensar números ruins de outra, uma vez que o Grande ABC é avaliado de maneira unificada. “Isso pode levar à retomada de atividade em locais onde ainda não era realmente possível, aumentando o número de novas contaminações”, pontua. “Testando menos, identifica-se menos e a doença circula mais”, finaliza.

Em nota, a Prefeitura de Diadema informou que, até o momento, seguiu os protocolos da Secretaria de Estado da Saúde e Ministério da Saúde para a realização de testes, tanto quanto ao público-alvo quanto ao tipo de teste. “O município ampliou o público-alvo sempre que indicado e seguirá ampliando, conforme um plano em fases, orientado por protocolos estaduais.” A Prefeitura de Mauá não se manifestou sobre o relatório do TCE.

São Bernardo registra 2.111 casos em apenas 24 horas

Em apenas 24 horas, São Bernardo confirmou 2.111 novos casos de moradores contaminados com o novo coronavírus. Com isso, a cidade inflou o registro diário da região, que somou 2.666 diagnósticos à conta e teve o segundo pior dia desde o início da pandemia, atrás apenas dos 2.793 casos registrado em 23 de junho, quando a Prefeitura são-bernardense também divulgou dados bem acima da média, com 2.455 em um único dia.

Com os dados de ontem, São Bernardo atingiu 15.410 diagnósticos positivos e, após comprovar mais cinco mortes pela doença, chegou a 552 óbitos desde o início da pandemia. Segundo boletins das prefeituras, o Grande ABC registra 35.259 moradores infectados e 1.588 vítimas fatais.

Entre os contaminados, Santo André soma 10.073 pessoas, seguida por Diadema (4.926), São Caetano (2.396), Mauá (1.574), Ribeirão Pires (624) e Rio Grande da Serra (256). Em relação às mortes, depois de São Bernardo, aparecem Santo André (354), Diadema (321), Mauá (180), São Caetano (117), Ribeirão Pires (49) e Rio Grande da Serra (15).

As sete cidades contabilizam 18.438 (52,3%) pacientes que se recuperaram da Covid-19 e receberam alta médica. Outros 40.470 casos estão sob suspeita, ou seja, aguardam resultado de exames para saber se estão contaminadas pelo novo coronavírus.

Na mesma toada, São Paulo teve a maior quantidade de diagnósticos positivos em um dia e segue sendo o Estado com maior número de contaminados e mortes causadas pelo novo coronavírus. Os casos, presentes em 637 dos 645 municípios, totalizam 439.446, dos quais 20.532 morreram. Foram 16.777 diagnósticos e 361 óbitos entre terça-feira e ontem. A ocupação dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) está em 64% na Grande São Paulo e 66,5% no Estado.

JUSTIFICATIVA
Diante dos altos números divulgados ontem, a Secretaria de Estado da Saúde divulgou nota na qual aponta instabilidade no sistema e destaca que os registros dos novos contaminados estava represado.

“O sistema oficial de notificação de casos leves de Covid-19, o E-SUS, do Ministério da Saúde, apresentou instabilidade técnica na última semana, que dificultou a inserção de dados por parte dos municípios, conforme reportado pelo próprio Datasus. A pasta prosseguiu com a extração diária dos dados disponíveis em sistema para divulgação à imprensa e toda a sociedade, sempre com o compromisso pela transparência. Assim, o dado de hoje (ontem), que aponta salto de 16 mil casos desde ontem (terça-feira), decorre desse represamento no processo de notificação. Portanto, os dados não significam crescimento na velocidade da transmissão do coronavírus no Estado, já que o acumulado de novos casos dos últimos sete dias apresenta queda de 10% comparado com os dados dos sete dias anteriores”, diz a nota.

Brasil tem recorde diário de infectados

O Brasil viveu ontem o pior dia da pandemia no que diz respeito ao número de diagnósticos positivos confirmados. Segundo dados no Ministério da Saúde, foram 67.860 novos pacientes contaminados com o novo coronavírus, registro que supera a marca de 19 de junho, quando foram contabilizados 54.771 casos.
Com isso, o número de infectados chegou a 2.227.514. Desse total, 1.532.138 (68,8%) corresponde aos recuperados e 612.605 (27,5%), ainda em acompanhamento.

Em relação às mortes, foram acrescidas mais 1.284 à conta, o que elevou o número total a 82.771. Os dados não significam que todas as mortes ocorreram nas últimas 24 horas. Os casos, no entanto, estavam em investigação e foram confirmados neste período.

Com os números divulgados ontem, 1% da população brasileira já está oficialmente infectada pelo novo coronavírus. Da população de mais de 211 milhões, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2.231.871 foram infectados. Isso representa 1,05% de contaminação. Ainda assim, o Brasil testa pouco a população, ou seja, os números podem ser muito maiores do que os registrados.

Além de distribuir menos testes do que o projetado, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) também tem feito entregas de kits incompletos, sem um dos reagentes essenciais para processar as amostras. Em alguns locais, como São Paulo e Rio de Janeiro, só faz o teste quem está internado com quadro grave e sintomas.
Essa marca de ter 1% da população infectada não é exclusividade do Brasil. Nações como San Marino, Catar, Estados Unidos, Kuwait, Chile, Peru, Omã, Panamá, Bahrein, Armênia e Andorra também já registram mais de 1% de sua população contaminada pelo novo coronavírus, conforme as informações do site Worldometers. Isso sem contar Guiana Francesa e Mayotte, que são departamentos franceses.

Além de estar neste pequeno grupo de alta incidência da Covid-19 em sua população, o Brasil é o segundo país com mais casos da doença no mundo. Só perde para os Estados Unidos, que somam 3.941.741 de contaminações confirmadas, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins. O terceiro país mais afetado é a Índia, com 1.193.078 casos. Os três juntos são responsáveis por quase metade de todos os casos registrados no mundo.

O Estado de São Paulo, que desde o início da pandemia é o epicentro da doença, contribuiu para o alto número de casos ontem com mais 16.777 infecções registradas em 24 horas, além de 361 morte, com 20.532 no total (leia acima). O Rio de Janeiro vem na sequência da lista de Estados mais afetados, com 150 mortes registradas por Covid-19 e 3.502 novos casos. Agora são 12.443 mortes e 148.623 casos no total. Em todas as regiões brasileiras, exceto a Norte, houve recorde de casos ontem. (do Estadão Conteúdo)




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