Pandemia causada pelo novo coronavírus faz com que crianças lidem com saudade dos amigos
O isolamento físico voluntário aceito pelas famílias acaba por afetar a vida das crianças, assim como a decisão de suspensão de aulas presenciais até segunda ordem do governo. As mudanças têm sido feitas para tentar combater a proliferação do novo coronavírus nos últimos meses, fazendo com que o contato com pessoas queridas seja temporariamente não recomendado. A distância, principalmente dos amigos próximos, origina saudade de se divertir e conversar pessoalmente, brincar de maneira coletiva e abraçar quem gostamos. Uma pesquisa analisou a evolução de sentir falta dos companheiros da rotina comum em meio à pandemia da Covid-19 (veja mais abaixo) e todos precisam aprender a lidar com isso.
Para Téo Marinho do Amaral, 9 anos, de Santo André, a distância é válida pela segurança de todos. “Por causa da Covid, se alguém chegar muito perto de mim e espirrar, tossir e até encostar, eu posso ficar doente. Daí posso colocar minha família toda em risco.” Ele faz parte de um grupo de escoteiros e sempre conta com ajuda de aplicativos no celular da mãe, como WhatsApp e Zoom, para interagir com a equipe. O universo dos games é o assunto preferido, com as conversas em vídeo também envolvendo ações com brinquedos, cada um na sua sua casa.
“Convivia muito com eles (amigos e amigas). A gente saía, se encontrava em festas, na escola, e faz muita falta”, conta a andreense Ana Elisa Schiavini Odlevati, 11, sobre os antigos costumes. Papos sobre vários assuntos diferentes, com menos tempo falando sobre temas ligados às aulas on-line, e muitas risadas estão no repertório das conversas pela internet, principal meio para manter contato. “Amo mexer em redes sociais, principalmente para ver o que eles estão fazendo de interessante nesta quarentena.”
Bonecos do Hulk e do Senhor Cabeça de Batata, por exemplo, são convocados por João Vitor Gonçalez Pavani, 7, de São Caetano, para lhe fazer companhia de vez em quando. Ligações e chamadas ao vivo se tornaram hábito para manter o contato com sua turma do mundo real no dia a dia. “Gosto muito de conversar por vídeo, porque daí a gente consegue se ver e mata um pouco a saudade”, explica. Crianças e adultos ainda precisam esperar um tempo para que a falta dos mais ‘chegados’ seja resolvida.
Pesquisa avalia ‘nível’ de saudade
Os últimos meses têm sido marcados pelo distanciamento físico de grupos de famílias, parentes, amigos e aglomerações de pessoas em geral. As mudanças de comportamento geram alterações emocionais e cada indivíduo enfrenta a nova realidade de uma maneira. Pesquisa realizada pelo aplicativo Dynamo (com atividades para o público infantil), em parceria com o site de notícias Mobile Time (especializado na indústria móvel), perguntou às crianças: ‘Como você está se sentindo agora?’ e ‘O que você gostaria de fazer em uma hora livre?’
O Brasil esteve entre os países participantes do projeto e as questões foram feitas ao público de mais de 1.000 entrevistados, com idade entre 8 e 12 anos, em diferentes momentos da pandemia da Covid-19, com etapas entre fevereiro e abril.
As variações de sentimento de felizes ou muito felizes atingiram entre 65% e 66,8% dos participantes, com o percentual de quem respondeu triste ou frustrado ficando de 12,3% a 13,4%. A proximidade com a família e as alterações na agenda costumam agitar a faixa etária.
Sobre a segunda pergunta, notou-se alta quando a opção mais desejada era estar com os amigos. O ‘nível de saudade’ entre os pequenos brasileiros passou entre 14,4%, no fim de fevereiro (quando o novo coronavírus ainda não tinha se espalhado pelo País), para 16,8%, no meio de março (já com a doença motivando o isolamento físico) e para 22,6% no fim de março. Na segunda quinzena de abril, o índice caiu para 22,3%, mas é possível notar que a falta dos amigos no dia a dia está sendo muito notada.
Sentimento gera reflexões positivas
Apesar de surgir em momento desagradável, a saudade é um sentimento positivo. Ela ocorre quando uma pessoa sente falta de alguém ou de algo baseado em emoções como amor, alegria e felicidade. Lembranças de um indivíduo, objeto, lugar ou situação aparecem quando recordamos de momentos agradáveis, de interações feitas presencialmente com os amigos antes da pandemia.
A sensação pode fazer com que a pessoa fique chateada. O importante é lembrar que será possível reviver algumas experiências em breve. Ferramentas tecnológicas, como celulares e aplicativos de mensagens (por texto e por vídeo) ajudam bastante. Em casos mais extremos, como quando há impossibilidade de certos reencontros, lembranças boas e reflexão sobre lições aprendidas são caminhos para acalmar o coração.
O distanciamento físico recomendado, desde o meio de março, contra a proliferação da Covid-19, traz à tona aprendizados sobre limitações, medos e frustrações entre pessoas de diferentes idades. Questões como o valor de sentimentos diversos e a vida em sociedade estão sendo discutidas de maneira um tanto quanto obrigatória, uma vez que um momento como este não é nada comum. Valorizar a presença das pessoas e o significado de alguns lugares fica como aprendizado.
Consultoria de André Correia, psicólogo clínico de São Bernardo.
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