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Jornada para conhecer a si mesmo

Identificação de gênero é elemento essencial na vida de uma pessoa não binária

Por Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
22/03/2020 | 07:00
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 O poder da identificação é enorme. É capaz de conectar um indivíduo a diversos tipos de grupos e tribos por meio da resolução entre o que ele sente de maneira pessoal e o que o mundo lhe oferece em diferentes aspectos. Dentro desse conceito, a não binariedade reflite a forma como certas pessoas observam que seu ‘eu’ não se limita às categorias de homem e mulher, sendo que não há exclusividade sobre ser de um ou do outro gênero. Acaba por ser uma análise pessoal, muito mais ligada à mente do que ao corpo. No meio de curiosidades possíveis que surgem em torno do tema, pessoas reais e personagens ficcionais ajudam a explorar o assunto.

“Quando a gente nasce, o médico olha para sua genitália e, com aquela informação, as pessoas começam a te atribuir um papel a ser interpretado socialmente. Como se você nascer com uma vagina, fizesse automaticamente você ter uma vontade imensa de usar salto”, comenta Igor Moura Augustineli, 23 anos, de São Paulo. “É importante ter em mente que ser homem, mulher ou não binário não se trata apenas de um sentimento, mas de uma identificação. Não é escolha, é uma troca entre o que você percebe em si e o que a sociedade percebe em você.”

Funcionário concursado de São Bernardo, o jovem relata que seu processo de reflexão passou por comentário de pessoa próxima, que disse que “eu nunca devia dizer que eu era homem, porque eu não era. E isso foi o estopim para eu começar a refletir: será que sou reconhecido como homem?”. Ele nunca conseguiu pertencer a nenhum grupo masculino que observava. “Cada pessoa é um universo diferente e deve ser respeitada por aquilo que se identifica.”

Augustineli é completamente esclarecido sobre si mesmo, tendo que ver o mundo ao seu redor buscar por mais detalhes sobre o fato de ser não binário. “Para os meus pais, eu sou homem, já que no dia a dia me visto ‘como homem’. Meus amigos não entendem exatamente, a não ser que eu explique, mas respeitam bem e já sabem que meu gênero se expressa para as pessoas quando estou sendo ‘espalhafatoso’.”

Parte do universo da não binariedade vem à tona hoje à noite, com estreia da série Todxs Nós, produção nacional e da HBO. Na história, Rafa é uma jovem de 18 anos que deixa a família no Interior de São Paulo para se mudar para a Capital, na casa do primo. Ela se identifica com pronome neutro (até pede para ser chamada de prime ao invés de prima) e promete levar os espectadores a caminhos de exploração do termo por meio de questionamentos pessoais. Os oito capítulos do programa vão ao ar nas noites de domingo, sempre a partir das 23h, com reprises ao longo da programação da rede do canal pago.

Há exemplos de não binários na cultura pop no animê Sailor Moon, no desenho Steven Universo, no jogo Pokémon GO e no curta brasileiro Flush. “Produtos ficcionais, como seriados, filmes, livros, ajudam muito, desde que sejam bem orientados na produção. Não adianta nada falar para milhares de pessoas sobre o assunto e falar besteira”, alerta Augustineli.

Seu cotidiano também abre espaço para trabalho voluntário no papel de coordenador da ONG Fórum Municipal LGBTI de São Bernardo. Ele acredita que, mais do que informação, falta conhecimento geral sobre o assunto, assim como espaços para se discutir e tempo para leitura específica. “É essencial toda essa explicação para compreender o tema. Isso porque o ‘ser homem’ e o ‘ser mulher’ são ideias que, depois de milênios de propaganda, entraram no automático do nosso cérebro e quase ninguém questiona os motivos de ser”, analisa.




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