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Travesti salva bebê do abandono
Por Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
04/06/2004 | 22:27
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O preço de um filho: R$ 50. Foi este o valor pago pela costureira Adriana Santos Feitoza, 29 anos, para que alguém abandonasse sua filha L..B., de apenas oito meses de vida, em um banheiro do Hospital São Caetano na tarde desta quinta. Adriana não contava, no entanto, com a humanidade da pessoa escolhida, a travesti Vanessa, nome usado por Rogério Porfírio, 26 anos, de Santo André. Em vez de cumprir a missão que Adriana lhe atribuíra, Vanessa entregou o bebê à polícia e devolveu o dinheiro.

A travesti desceu com a criança do carro da costureira em frente ao hospital, no bairro Santo Antonio, em São Caetano. Vanessa esperou o veículo da costureira se afastar, perguntou onde ficava a delegacia mais próxima e caminhou até a avenida Goiás, ali perto. Ela teve o cuidado de anotar a placa do carro de Adriana, um Gol.

Na Delegacia Sede da cidade, pôs o bebê nos braços de um policial e contou sua história. Vanessa foi abordada por Adriana na avenida Industrial, em Santo André. “Ela me perguntou se eu faria uma loucura e ofereceu os R$ 50 para ajudá-la a sumir com a criança”, relatou Vanessa ao Diário. A travesti contou que ficou preocupada com o que Adriana iria fazer com a menina, e resolveu entrar no carro, fingindo que aceitava a proposta. A caminho de São Caetano, Adriana explicou que queria deixar a filha em um banheiro do hospital. “Jamais faria isso com uma criancinha, é muito cruel”, disse Vanessa, que afirma gostar muito de crianças e que tem um carinho especial pelos três sobrinhos.

Com a placa do carro em mãos, a polícia não teve dificuldades para encontrar Adriana. Ela foi presa em seu apartamento, no Jardim Lavínia, em São Bernardo, no final da tarde desta quinta. Para se livrar da cadeia, pagou fiança de R$ 300 e aguardará seu processo em liberdade. Se for condenada, a costureira pode pegar de seis meses a três anos de prisão. Na delegacia, Adriana pediu desculpas à Vanessa e insistiu que a travesti aceitasse os R$ 50. No que foi atendida.

Para a psicóloga Rosana Britzki de Sordi, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Adriana pode sofrer de depressão pós-parto mal curada, que teria se estendido por oito meses. Segundo a família, os últimos dias não têm sido fáceis para Adriana. No último domingo, ela brigou com o marido, o vidraceiro Luiz Magno Lemos Barbosa, e o mandou embora de casa. Segundo Adriana contou à polícia, ela estava arrependida e queria que o marido voltasse.

No entanto, Barbosa teria se recusado a fazer as pazes com a mulher. “Agora tenho mais que motivos para não morar com ela”, disse o vidraceiro nesta sexta, ainda surpreso com a atitude da esposa.

Para a avó materna da criança, Maria Félix da Silva, 51 anos, a filha pode estar doente. Evangélica, a mulher também atribui a atitude da filha “ao afastamento de Jesus”. “Há 12 anos ela não vai à igreja. Pode ser uma cobrança de Deus.”

Maria contou que trabalhou muito esta semana e, por isso, não pôde prestar atenção ao estado emocional de Adriana. Elas moram no mesmo prédio, mas em apartamentos diferentes. O de Adriana é impecável. Os móveis foram recém-trocados. Há três televisores e dois aparelhos de som. “Acho que a minha filha ficou louca. Ela ama as três filhas, faz de tudo por elas”, lamentou a cozinheira. As outras meninas têm cinco e 13 anos. Adriana é viúva do pai das filhas mais velhas. Recebe pensão e faz trabalhos eventuais de costura.

Após ouvir a família, a polícia encaminhou o bebê ao Conselho Tutelar de São Caetano. Segundo o conselheiro tutelar Enéas Gonçalves, a menina foi levada a uma instituição filantrópica da cidade, onde ficou até a tarde desta sexta, quando sua guarda foi concedida à avó materna por determinação do promotor da Infância e Juventude de São Caetano, Lélio Ferraz Siqueira Neto. O processo será encaminhado nesta segunda-feira ao Ministério Público de São Bernardo, onde a família reside.

O pai do bebê, Luiz Barbosa, que está separado de Adriana há uma semana, afirmou ao promotor que gostaria de ficar com a filha, mas que em razão de seu trabalho não teria como cuidar dela. Adriana teria passado o dia desta sexta na casa de um amigo e não foi localizada.




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