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Greve dos caminhoneiros e Copa golpeiam emprego

Indústrias da região demitem 1.300 operários; é a primeira vez no ano que setor fecha no vermelho

Por Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
18/07/2018 | 07:00
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Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas



O combo formado por greve dos caminhoneiros e Copa do Mundo nocauteou o emprego na indústria do Grande ABC. Em junho, as fábricas regionais demitiram 1.300 operários. Foi a primeira vez no ano em que o saldo (contratações menos demissões) de vagas do setor ficou negativo – o último mês em que isso ocorreu foi em dezembro, quando haviam sido registrados 4.231 cortes.

Trata-se do pior resultado para o período desde junho de 2015, quando foram eliminados 3.700 postos de trabalho. No ano passado, nessa mesma época, o saldo estava negativo em 350 vagas e, há dois anos, em 900. Em maio, para se ter ideia, as 340 contratações configuravam o melhor resultado para o mês em sete anos. Os números foram divulgados ontem pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).

Os dados demonstram que o otimismo da recuperação econômica não se sustentou aos primeiros obstáculos. A greve dos caminhoneiros, que se estendeu de 21 de maio até 1º de junho, represou insumos e mercadorias e reduziu tanto o volume quanto a velocidade de produção e vendas. Na sequência, o Mundial de Futebol, que começou no dia 14 do mês, arrematou o cenário tomado pelo ritmo mais lento e, diante da menor demanda, os empregadores optaram por dispensar pessoal.

“Houve uma reavaliação por parte das indústrias nas projeções para este ano após esta ‘paradeira’. A perspectiva de uma retomada mais consistente não se confirmou até o momento, e o ambiente de incertezas provocado pela eleição de outubro só piora a situação”, avalia o diretor do Ciesp de Diadema, Anuar Dequech. “E isso não se restringe à região, mas à economia como um todo, haja vista a redução da perspectiva de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), que começou em 3%, passou a 1,6% e, agora, 1,1%. Diante disso, as fábricas preferiram demitir agora do que esperar e não ter dinheiro para dispensar mais para frente.”

Segundo Dequech, contribuiu o fato de, hoje, boa parte dos profissionais ter menos tempo de casa, então está mais barato demitir do que no auge da crise, entre 2015 e 2016, quando os empregadores postergaram ao máximo o corte dos seus funcionários, apesar da baixa demanda, por faltarem recursos.

REFLEXOS - Pesquisa do Sebrae-SP mostra que as MPEs (Micro e Pequenas Empresas) da região diminuíram o faturamento em 13,7% em maio, com perdas de R$ 500 milhões. A greve dos caminhoneiros também deixou um legado calcado no aumento dos preços de alimentos e combustível. A inflação do mês disparou em 1,26%, a maior alta para junho desde 1995, conforme o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Ontem, a Apas (Associação Paulista de Supermercados) divulgou que a inflação dos supermercados registrou a maior alta da história, aos 3,55%.

Além disso, o dólar alto, oscilando entre R$ 3,70 e R$ 3,80, mesmo sendo favorável a quem exporta, também tem encarecido o custo de produção, uma vez que boa parte dos insumos é importada, e pressionado ainda mais a inflação.

A valorização da moeda norte-americana tem, inclusive, reduzido os volumes de compras de produtos brasileiros, especialmente veículos e peças, por outros países, como Argentina e México.

NO SEMESTRE - Apesar da inversão de tendência ao setor industrial, a qual Dequech não acredita que se reverta até o último trimestre do ano, o saldo de vagas na indústria do Grande ABC, no semestre, está positivo em 350 postos. Desde 2013, as dispensas não superavam as admissões e, nos primeiros seis meses daquele ano, era contabilizada a criação de 200 vagas. Nos anos seguintes, o que se viu foram desligamentos em massa: 2.900 (2014), 12,7 mil (2015), 9.100 (2016) e 2.250 (2017).
 




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