Economia Titulo
A ilusão de óptica da inflação
Carolina Rodriguez
Do Diário do Grande ABC
30/06/2001 | 18:54
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É comum os consumidores duvidarem da inflação medida pelos institutos de pesquisas do país. Para eles, a variação de preço em determinado período é sempre bem maior do que o índice anunciado pelas entidades. Nesta briga, no entanto, não há certos nem errados. Na realidade, a inflação medida pelos institutos de pesquisas é diferente da inflação sentida pelo consumidor, mas as duas estão corretas.

O que provoca esta sensação no consumidor é o modo como a inflação é calculada. Isso porque o índice final apurado pelos institutos é a média ponderada de todas as variações de preços pesquisadas naquele período. Por exemplo, se o feijão subir 6% no mês, mas em contrapartida o arroz registrar queda de preço de 2%, o índice da inflação para estes dois produtos será de 4% no período.

Por conta deste cálculo médio ponderado, a inflação não reflete o aumento de preço de um único produto, mas sim a variação de todos os itens listados na cesta de pesquisa do instituto. Enquanto uns registraram aumento, outros apresentaram reduções ou se mantiveram estáveis, o que contribui para equilibrar o índice final.

“A dona de casa faz uma observação da inflação diferente da dos institutos. Geralmente, ela vai todo mês ao mesmo supermercado comprar aquele determinado tipo de produto, sendo que nós comparamos preços de vários produtos em estabelecimentos diferentes. Quando há uma promoção, por exemplo, esta redução é contabilizada no índice, e nem sempre a oferta foi realizada no supermercado onde ela costuma comprar”, disse Osmar Domingues, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) medido pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano (Imes), válido para as cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano.

Rendas diferentes – Os tipos de produtos e serviços pesquisados na medição do IPC do Imes também contribuem para que o consumidor sinta no bolso uma inflação diferente da medida pelos institutos. O IPC do Imes, por exemplo, toma como base hábitos de consumo de famílias com renda de dois a 14 salários mínimos por mês, ou seja, de R$ 360 a R$ 2.520. Já o IPC da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), válido para a cidade de São Paulo, apura a rotina de famílias com rendimento de um a 20 salários, ou seja, R$ 180 a R$ 3,6 mil, cerca de 80% da população do município, de acordo com o coordenador Heron do Carmo.

Por conta disso, os moradores da região que tiverem renda mensal superior à faixa pesquisada pelo Imes terão, com certeza, hábitos de consumo diferentes dos pesquisados e, portanto, uma inflação diferente. Além disso, as marcas dos produtos também influenciam no resultado final. As famílias de classes mais altas tendem a comprar produtos mais caros do que as famílias de baixa renda. Veja um caso: em sua apuração do índice, o Imes pesquisa os preços do leite tipos A, B, C, vendido em saquinho na padaria, e os de caixinha, chamados de longa vida. Cada família, de acordo com a renda, consome o seu tipo de leite, mas todos entrarão na composição da inflação.




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