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Núcleo quer cinema de autor no Grande ABC
Nelson Albuquerque
Da Redaçao
21/10/2000 | 18:50
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Transformar idéias em imagens. Assim é o chamado cinema de autor, tao pouco valorizado em tempos de filmes comerciais, mas que começa a reunir simpatizantes no Grande ABC. Criado há pouco mais de dois meses, o núcleo Atentado Cinematográfico surge para promover exibiçoes, realizar pesquisas e eventos sobre cinema e produzir filmes. Tudo de forma independente.

Para levar adiante um projeto com essas características nao basta gostar da arte. É necessário personalidade e brio. "O núcleo nasceu por causa de nossa força de vontade e um pouco por raiva", diz William Chicarelli, um dos líderes do Atentado. O próprio nome, aliás, revela esse perfil.

"É também uma opçao para quem quer estudar Cinema, afinal a Faap (Fundaçao Armando Alvares Penteado) é cara e a USP, difícil de entrar", completa Vebis Stevanin Júnior, integrante do núcleo.

O grupo é formado por alunos de Comunicaçao Social da Umesp (Universidade Metodista de Sao Paulo), em Sao Bernardo. "Para fazer cinema é preciso bastante gente, por isso estamos abertos a novas idéias", convida Chicarelli. Os contatos podem ser feitos pelo telefone 6948-1108 ou pelo e-mail atentadocinematografico@yahoo.com.br.

Durante esse mês, o Atentado leva exibiçoes gratuitas, às segundas-feiras, ao Teatro Lauro Gomes, em Sao Bernardo. Na segunda, às 21h30, será mostrado Açao Entre Amigos, de Beto Brant. Na última segunda, o filme Estorvo atraiu 150 espectadores e, no mesmo dia, foi realizada uma palestra com o diretor de fotografia Marcelo Durst.

"Passamos filmes de arte e com conteúdo, sejam nacionais ou europeus. A idéia é fugir de Hollywood", afirma Chicarelli. Conseguir os espaços também nao é tarefa simples. "Sao Paulo é muito grande e pouco acessível. O Grande ABC é mais humano e por isso temos melhores resultados por aqui", diz.

As pesquisas que o núcleo pretende fazer serao dividas por regioes ou nacionalidade, como, por exemplo, o cinema paulista e o cubano. Essa é outra iniciativa louvável, já que, se bem realizada, deixará bom material de consulta para os candidatos a cineasta.

Dois integrantes do núcleo fazem um curso ministrado por Carlos Reichenbach em Sao Paulo e prometem uma boa notícia para 2001. "Já conversamos com ele (Reichenbach), que por sua vez se interessou bastante em trazer esse curso para o Grande ABC", comemora Chicarelli.

Em termos de produçao de filmes, o grupo já engatinha. Estao sendo feitos Assassinaram o Camarao, de Chicarelli, O Reino do Silêncio, Um Mundo de Vezes, de Diogo Noventa, e Ela, em Meus Braços, de Stevanin Júnior. Todos estao em fase de pré-produçao e serao produzidos com câmera digital.

Atualmente, quando se fala em cinema independente, um dos primeiros assuntos relacionados é a utilizaçao de câmeras digitais. Com a qualidade que mais se aproxima das gravaçoes feitas em película, esse equipamento tem outra vantagem: o custo bem mais baixo. "Enquanto uma filmadora de 35 mm vale cerca de R$ 100 mil, uma digital custa uns R$ 2,5 mil", avalia Chicarelli.

O produtor independente de vídeos Eduardo Gonçalves, de Santo André, confirma as vantagens técnica e financeira e destaca os novos recursos da câmera digital. "Ela é leve e ágil, também dá para fazer rastros em cenas, filmando com velocidade baixa. Tudo isso faz parte de uma nova linguagem", completa.

O interesse pelo tema está crescendo, tanto que os principais festivais internacionais promovem debates. A 24ª Mostra Internacional de Cinema em Sao Paulo realizará encontro sobre tecnologia digital na próxima quinta-feira (dia 26), às 21h, na Sala UOL (r. Fradique Coutinho, 361. Tel.: 5096-0585). "Já estao usando esses recursos até no cinema, mas é preciso ter bom senso", opina Gonçalves.

A cineasta independente Andrea Pasquini, de Sao Paulo, finaliza o curta A História Real, uma ficçao que apresenta um panorama da saúde pública no Brasil e que foi feita em película.

Mas a próxima produçao nao contará com o mesmo privilégio. "Faremos um longa, mas nao temos a menor esperança de usar película", diz Andrea. A soluçao serao os equipamentos digitais: "Nao é só uma questao de linguagem, é também financeira".

Além de ser uma saída para diminuir custos, torna-se uma necessidade entre os profissionais. "Já faço captaçao digital. Temos de nos atualizar", afirma o videomaker Pérsio Gimenes, representante de Santo André na fase final do Mapa Cultural Paulista deste ano.




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