O dólar paralelo disparou nesta terça-feira na Argentina e obrigou o Banco Central do país (BCRA) a realizar sua primeira intervenção no mercado desde a adoção do câmbio duplo, vendendo reservas para baixar a cotação da moeda norte-americana. O dólar chegou a bater 2,05 peso para a venda, mas caiu a 1,95 peso no final dos negócios (1,75 peso para a compra), uma alta de 14,7% em comparação com a véspera. No mercado futuro, US$ 1 chegou a bater 2,30 pesos para operações a 30 dias.

Segundo uma fonte do BCRA citada pela agência internacional de notícias Reuters, a instituição vendeu lotes de US$ 500 mil, a 1,70 peso por US$ 1, no paralelo para segurar a cotação. Segundo a Agência France Presse, o BCRA vendeu US$ 8,8 milhões nesta terça.

A equipe do ministro Jorge Remes Lenicov espera que o dólar paralelo se mantenha o mais próximo possível da cotação oficial, estabelecida em 1,40 peso e só vigente para transações do governo. Dentro de aproximadamente quatro meses, os dois câmbios devem convergir e flutuar.

Na prática, esta terça-feira foi apenas o terceiro dia de vida do câmbio paralelo na Argentina. Apesar de a oficialização do câmbio duplo já contar dez dias, as casas de câmbio e bancos só voltaram a operar com dólares na sexta-feira passada. Nos três dias de operação integral do paralelo, a desvalorização do peso frente ao dólar já passa dos 50%.

Assim como ocorreu nos dois dias anteriores, as casas de câmbio do centro de Buenos Aires registraram filas nesta terça-feira. Segundo a edição eletrônica do jornal argentino Clarín, o maior movimento foi de populares que queriam se desfazer de dólares para adquirir pesos para as despesas cotidianas. O 'corralito', impopular restrição à movimentação bancária implantada por Fernando de la Rúa e mantida por Eduardo Duhalde, impõe que os correntistas só podem sacar de suas contas 1.500 pesos por mês – para o caso de contas em que são depositados salários; nas demais, o limite é 1.200 pesos/mês.

Cambistas citados pelo Clarín disseram que as transações no paralelo se concentraram em torno de US$ 200 ou US$ 300. Diante da pouca liquidez no mercado, algumas compras isoladas de grandes investidores levaram o paralelo a disparar e romper a barreira dos 2 pesos.

Ajudou ainda o aumento de pequenos compradores no mercado paralelo, que andaram na contramão e trocaram pesos para garantir 'hedge'. Como há pouca moeda circulando (sejam pesos ou dólares), movimentos esparsos de procura podem elevar a cotação da moeda americana.