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Mercado de casamentos gira R$ 80 mi na região

Setor sobrevive à crise econômica e, embora não
espere crescimento, segue com o ritmo de 2014

Por Soraia Abreu Pedrozo
Marina Teodoro
01/06/2015 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O casamento é um ato de união que oficializa o que já está claro entre os noivos: o amor. Com a crise na economia, porém, imagina-se que as comemorações do enlace sejam adiadas, ou mesmo deixadas de lado, já que se têm inúmeros outros gastos ao se iniciar a vida a dois. Ledo engano. Mesmo em tempos turbulentos e de insegurança, especialmente no Grande ABC – fortemente afetado pelas dificuldades pelas quais atravessa o setor automotivo, o que tem efeito em cadeia e gerado demissão ou ameça de perda do emprego –, o setor vai muito bem, obrigado. Ao menos é o que garantem empresários do ramo, que, inclusive, estão lançando dois espaços exclusivos para o mercado de casamentos em Santo André, com investimentos que superam R$ 1 milhão. A expectativa, inclusive, é que esse segmento movimente neste ano R$ 80 milhões, conforme estimativa da Associação Rua das Noivas do ABC, estabilidade em relação ao ano passado – o que tem sabor de crescimento, em tempos em que a maior parte das atividades tem amargado queda ante 2014.

A festa é, para muitos, um sonho a se realizar. Buffet, convites, decoração, vestido, fotos e um salão ou sítio para comemorar, além da cerimônia na igreja, são algumas das preocupações do casal, que terá que despender quantidade generosa com esses gastos, conforme o tamanho desse sonho. Segundo o empresário Márcio Casablanca, da Casablanca Noivas, atualmente cada noiva desembolsa, no Grande ABC, em torno de R$ 30 mil por casamento.

Pensando nisso, em parceria com Meno Joli, da Joli Noivas, Casablanca investiu R$ 1 milhão para lançar espaço específico para o tema em Santo André no início de maio, o Shopping Casar ABC, na Vila Gilda. O montante foi aportado na locação do espaço de 1.500 metros quadrados, com capacidade para 35 lojas, reforma com troca de piso, colocação de gesso e ar-condicionado, e instalação de sistema de segurança. A ideia surgiu da feira de casamento Reality Expo Noivas & Debutantes, criada para estimular esse mercado, e hoje realizada duas vezes no ano, em janeiro e agosto. “As noivas se queixam que têm de fazer peregrinação em lojas da região e de São Paulo. A mesma reclamação recebíamos de quem tinha de organizar festas de debutante e eventos corporativos”, explica Casablanca.

O Casar ABC é a primeira iniciativa do tipo na região, em espaço fechado, além da Rua das Noivas do ABC, que funciona no Centro andreense a céu aberto. O local, que divide espaço com o Shopping Lar ABC, contempla 80 vagas, área para desfiles e salas para palestras. Das 35 lojas, 30 estão ocupadas. O aluguel varia de R$ 2.500 a R$ 4.000, dependendo do tamanho, que oscila de 14 a 25 metros quadrados e inclui água, luz e condomínio.

A expectativa, segundo Casablanca, é que cerca de 200 noivas por mês passem por ali e movimentem o comércio do local. A perspectiva se dá com base na demanda gerada pela feira, de 1.200 noivas pelo semestre. O empresário espera que o shopping fature em torno de R$ 250 mil mensais. “Acreditamos que em dois anos devemos recuperar o investimento”, afirma. E a projeção é de geração de 100 empregos diretos (70 já criados) e 200 indiretos (80 contratados). “Mesmo com a crise econômica, casar é o sonho de toda mulher. É algo arraigado na nossa cultura. Portanto, mesmo que não faça do jeito que havia imaginado num primeiro momento, ela não deixa de fazer. Por isso, é um setor que sobrevive à crise”, assinala Casablanca.

Outro dado que mostra que o segmento passa bem pela crise é o número de listas de casamento na região, que cresceu 10% em 2014 ante 2013. E, para este ano, Casablanca projeta alta de 2%. “É um serviço que tem tido cada vez maior adesão.”

SEGUNDO SEMESTRE

Também com a ideia de unir todas as etapas de uma cerimônia completa, o Atrium Shopping, em Santo André, decidiu construir espaço voltado a esse setor que, de acordo com o coordenador da administração geral da AD Shopping, empresa que gerencia o estabelecimento da região, Claudio Nembri, só aumenta.

“Percebemos que o mercado de casamentos teve crescimento de 10% nos últimos anos”, afirma. A ideia de juntar espaço como esse em um centro de compras também é pioneira no Grande ABC, e os investidores, segundo Nembri, estão felizes com a escolha do tema. “Fizemos pesquisa em diversos segmentos que poderiam ser inseridos naquele espaço. Escolhemos o de casamento porque estamos acompanhando o aumento de demanda.” Para ele, a oportunidade é única e o fato de mesclar os serviços já oferecidos pelo shopping com espaço voltado para noivas, que futuramente quer reunir 42 serviços específicos do setor, vai dar casamento. “A ideia é aumentar pelo menos em 20% no movimento do shopping.”

As lojas estarão dentro do empreendimento, em corredor que, inicialmente, contará com 15 estabelecimentos, mas que pretende expandir esse número para 37. A primeira fase tem previsão de inaugurar no início de agosto. O investimento não foi divulgado.

Noivas diminuem requinte, mas não abrem mão da festa

Para viabilizar o sonho do casamento, mesmo em tempos de crise na economia, a analista Rebeca D''Almeida, 22 anos, de Santo André, preferiu abrir mão de alguns serviços para diminuir o custo do evento, que será realizado daqui há um ano. “Optei por eu mesma fazer a decoração. Estou confeccionando com a minha irmã flores de papel. A meta é chegar em 10 mil unidades, mas, se não conseguirmos a tempo, comprarei o que faltar.”

Rebeca também optou por alugar uma chácara fora da região. “Aqui no Grande ABC os preços são surreais. Tivemos que mudar os planos iniciais, e alugamos em Jundiaí, por R$ 3.000”, comenta ela.

O menu também tem sido algo a ser driblado. “No início de 2014, um buffet com cardápio simples, sem bebida alcoólica, estava custando R$ 60 por pessoa. Neste ano, o preço foi para R$ 85. Não entendo de onde vem essa inflação”, questiona. De fato, o aumento foi de 41,6%, enquanto o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial, acumulada em 12 meses até abril atingiu 8,17%. Por enquanto, a analista já gastou R$ 5.000, mas pretende investir até R$ 20 mil para concluir a festa.

O que antes era preciso ir para São Paulo para comprar, há algum tempo já é encontrado na região, porém, os preços mudaram bastante. “Acho que o mercado percebeu que algumas noivas estavam preferindo vir para a região comprar, porque era mais barato. Agora a situação mudou e os preços estão fora da realidade”, afirma Rebeca.

A publicitária de São Caetano Daniela Lopes, 23, que se casa no ano que vem, também comenta os preços altos. “Contando com o aluguel de uma chácara em Guarulhos, DJ, buffet e decoração, já gastamos R$ 26 mil. Achei tudo bem caro” conta ela, que pretende gastar mais R$ 10 mil entre fotos, vestidos e convites.

Daniela ainda não teve que tirar nada da lista, porém, afirma que se o orçamento apertar, ela mesma irá cuidar da confecção dos convites. “Nos planejamos muito antes, financeiramente, para então casar. Além disso, estamos pesquisando bastante para poder incluir tudo que queremos.”

SONHO ALCANÇADO

Para a cirurgiã dentista Letícia Souza Mascaro, 27, de Santo André, que vai se casar em um mês, o investimento vale a pena, e ela diz que não quer abrir mão de nada do que planejou. “Sonho é sonho, e quando a gente quer, se aperta financeiramente e consegue”, diz.

“Tudo está muito caro, mas tenho pesquisado bastante. Estou me esforçando para que nada do que eu quero fique para trás”, comenta ela, que já gastou em torno de R$ 50 mil com buffet, decoração, foto e filmagem, vestido, salão de beleza, igreja e convites. “Ainda faltam alguns detalhes, como o carro para levar a noiva, lembrancinhas e bem-casado. Estamos pesquisando bastante, e sempre que vamos fechar algo, nada sai menos que R$ 1.000. Mas, mesmo assim, acho que vamos conseguir tudo.”

Com um ano e meio de preparação para o grande dia, a noiva também destaca que optou por estabelecimento em São Paulo, no Tatuapé, apesar de o casal morar no Grande ABC. “Além dos locais da região não me encantarem como esse que escolhi, os preços eram menos acessíveis.”

Já o vestido, foi em Santo André que Letícia conseguiu o que queria. “Deu trabalho. Achei o modelo perfeito em feira de noivas na região. Porém era muito caro, cerca de R$ 11 mil. Fiquei com aquele vestido na cabeça, mas não podia pagar aquele preço. Até tentei ir na fabricante original, mas, ainda assim, ficou muito caro. Até que fui em uma loja em Santo André e pedi para que confeccionassem o vestido. Saiu menos que R$ 6.000.”

Para conseguir fazer a festa dos sonhos, o casal economizou bastante. “Vimos que saídas para comer pesavam no nosso orçamento. Cortamos tudo.” Além disso, os noivos fizeram orçamentos em diversos lugares até encontrar condição acessível. “Feiras e shoppings especializados são ótimos para economizar. Lá a gente consegue negociar preços bacanas.” (Marina Teodoro) 




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