Economia Titulo
Sobe número de pessoas com nome sujo
Vinicius Gorczeski
Especial para o Diário
26/04/2011 | 07:00
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A consulta dos lojistas nos serviços de proteção ao crédito cresceram 1,43% no acumulado do ano. Junto com esse aumento subiu, 22%, a inadimplência. A alta mais expressiva do ano foi verificada em março - 6,87% contra fevereiro. O resultado é reflexo da alta demanda no consumo, fruto de mais emprego e renda - fatores intensificados no ano passado, quando foram criados 280,7 mil empregos no Brasil.

No entanto, quando se compara março contra o mesmo mês do ano passado, houve queda de 5,17% no número de consultas. 

Tradicionalmente, o terceiro mês do ano representa aperto no orçamento familiar, com despesas acumuladas do Natal junto a débitos sazonais - como impostos e material escolar. Assim, os registros, que significam consumidores com nome sujo na SPC Brasil, dispararam neste mês: elevação de 22,61% contra fevereiro.

A expressividade do percentual ocorreu em razão de menos dias úteis contra o mês imediatamente anterior. O Carnaval também contou, pois é um período em que são destinados maiores volumes de dinheiro para viagens. Tal cenário prejudica o controle orçamentário das famílias e, por tabela, o número de calotes.

Já no trimestre, 1,81% mais consumidores foram caracterizados como inadimplentes na base de dados da entidade contra o primeiro trimestre de 2010. O professor de Economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Marcos Biffi afirmou que o crescimento desses indicativos é comum no início de ano. "Mesmo com o 13° salário recebido, muitas pessoas jogam as dívidas do cartão de crédito e cheque especial para os primeiros meses do ano", explica. "Priorizam o necessário, como alimentação, matrículas de escola. De forma que deixam outras dívidas, especialmente as que têm menores taxas de juros, para outro momento."

Num cenário em que as perspectivas são de juros mais caros, o superintendente da SPC Brasil, Nival Martins, diz que é hora de contenção de gastos. Para adequar as dívidas ao orçamento, reduzir as parcelas - que pesam mais no bolso, por conta dos juros - e optar por entradas maiores são alternativa. "Nesse quadro econômico, adiar as compras para depois é a melhor opção."

Para quem não vê horizonte para quitar as dívidas acumuladas, Biffi afirma que uma saída de curto prazo é pedir a antecipação da restituição do IR (Imposto de Renda). Opção com juros menores (3%) que no empréstimo pessoal, que é de 5% em média.

 "Os bancos fazem isso porque é quase garantido que vão reaver 100% de volta. Você quita débitos atuais com uma nova dívida, mas com juros lastreados sobre o IR", diz o economista. No entanto, para optar por essa modalidade de financiamento é preciso cuidado, porque mesmo que o contribuinte caia na malha fina terá de pagar o valor no prazo.

Outra opção é o CDC (Crédito Direto ao Consumidor). "Mas é preciso cuidado, pois esse financiamento tem taxa de até 10%. Se esse for o caso, o melhor é pagar parcelas em 12 meses com juros de 3% ao mês. Ainda é caro, mas pode ser mais barato do que a dívida que se tem hoje."

Ele afirma que o consumidor sairá perdendo de qualquer jeito nessas modalidades. Mas a troca do perfil da dívida é uma forma de pagar o que se deve com taxas menores.

 

Lojistas têm mais cautela para liberar crédito

Num cenário em que o governo e o BC (Banco Central) intensificam as ações para segurar a inflação e diminuir o ritmo de crescimento, a tendência é que subam as consultas dos lojistas nos serviços de proteção ao crédito.

Apesar de a inadimplência no SPC Brasil acumular expansão no trimestre, o superintendente Nival Martins minimizou o resultado. Ele garantiu que, mesmo com quadro de aperto econômico, a projeção é de que a cautela dos comerciantes cresça em ritmo moderado nos próximos meses. "Pela movimentação e medidas do governo, o cenário caminha para isso."

Mas, caso o consumidor não diminua o ritmo de compras, irá sofrer mais para honrar os empréstimos. A Selic (taxa básica de juros), está em 12% ao ano. O governo elevou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 1,5% para 3% a pessoas físicas. As ações tornam, na prática, qualquer tipo de financiamento mais caro do que antes (a Selic era de 8,75% em março de 2010).

Artifícios necessários para pôr as contas em ordem, mas com consequências que geram críticas: "O governo cedeu a demagogias eleitorais, e o crédito correu solto. Tinha muito dinheiro na economia, os bancos aumentaram livremente fluxos de financiamentos e a inflação está estourando", diz o professor da USCS, Marcos Biffi.

 

Mulheres honram mais dívidas que homens

Apesar de as consumidoras gerarem mais consultas entre os lojistas para compras parceladas (54,15%) que os homens, elas ainda são o perfil mais preocupado em limpar o nome, segundo a SPC Brasil. Em março, 54,6% desse público honrou as dívidas no País. Nos homens, o índice era de 45,3%.

Mas o público feminino ainda lidera o número de inadimplência nas compras financiadas. Tanto que, no mesmo mês do levantamento, elas representaram 56% de dívidas no órgão fiscalizador, contra 44% dos homens.

Para o superintendente da SPC Brasil, Nival Martins, as mulheres gastam mais e são maioria no País. "Elas compram por impulso e esses gastos, na maior parte das vezes, não estão programados. Tanto que o número de devedores é maior no segmento de roupas, calçados e acessórios", compara, ao destacar que o homem deve mais para os bancos.

Já o professor de Economia da USCS Marcos Biffi afirma que as mulheres adquiriram mais responsabilidades financeiras, sendo chefes de família, em alguns casos. Fato que impulsionou ainda mais os gastos.

"As mulheres até ocuparam posições profissionais de mais destaque e até por ganharem mais do que os maridos", diz Biffi, ao listar que novas atitudes de consumo, como veículos e viagens, por exemplo, impulsionaram as despesas das mulheres.




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