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Baixa renda puxa varejo da construção
Daniel Trielli
Do Diário do Grande ABC
28/04/2007 | 07:01
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A construção de grandes prédios residenciais pode estar em plena potência, mas o que impulsiona o varejo de materiais não são projetos monumentais de classes abastadas, mas sim, as pequenas reformas realizadas pelas camadas mais pobres da população.

A conclusão é de pesquisa Construção na base da pirâmide, do Data Popular, é mostra que o varejo de materiais de construção tem de prestar mais atenção nas classes D e E. Isso porque essas camadas são as que mais gastam no setor. De acordo com dados da Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção), as compras feitas por consumidores de baixa renda movimentam cifra superior a R$ 37 bilhões por ano.

De acordo com Renato Meirelles, sócio-diretor da Data Popular, essa força da classe D e E está no modo em que eles consomem. “As casas da baixa renda estão em eterna construção”, diz.

“O sonho do brasileiro é ter uma casa melhor”, conta Meirelles. “Como muitos trabalhadores de baixa renda estão na informalidade, não têm dia certo para receber o salário. Por isso, eles vão fazendo a reforma aos poucos. É como se eles fossem construindo a prazo.”

Meirelles lembra que existem no Brasil 5,5 milhões de trabalhadores na construção civil, a grande maioria nas camadas mais baixas da sociedade. “Essas pessoas (de classe D e E) não são só compradores, como influenciadores. São eles que escolhem a marca do produto. Os patrões escolhem a cor da tinta, mas os pedreiros é que sabem qual é o melhor tipo, ou o melhor cimento.”

Quem deveria estar atento a esta tendência são os varejistas de materiais de construção. Para Meirelles, as iniciativas voltadas ao mercado popular ainda são insuficientes. “Os grandes varejistas têm de entender que o presente e o futuro do mercado de materiais de construção está na base da pirâmide”, resume.

Nem o aumento da disponibilidade de crédito para financiamento imobiliário muda esse cenário, especialmente porque essa facilidade não é voltada às camadas de baixa renda. “O sistema de crédito não dialoga com as classes D e E”, diz Meirelles.

Em primeiro lugar, a média da área dos novos imóveis para baixa renda está por volta dos 47 m², aquém das necessidades de uma família. Em segundo, a forma de pagamento dos financiamentos não leva em conta as flutuações de renda condizentes com o trabalhador da informalidade.

“E há uma terceira questão: diferente da elite que aceita mudar de bairro para morar melhor, na baixa renda não há disponibilidade para isso. Porque se ela mudar de um local para outro, ela perde o sistema de apoio da comunidade”, conta.




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