Diarinho Titulo
Em um passe de mágica
Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
31/01/2010 | 07:25
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É difícil acreditar no que os olhos veem. É assim que, em geral, a gente se sente quando assiste a um número de mágica. Mas se não fosse desse jeito, não teria graça! O ilusionismo - como também pode ser chamada - é a arte de fazer algo impossível parecer que aconteceu de verdade.

Isso ocorre porque o mágico tem muita habilidade com as mãos e bom papo para enganar a plateia. Além disso, dispõe de muitos equipamentos e acessórios, que o auxiliam a desenvolver o número.

A profissão é séria. No Brasil foi regularizada em 1978. Por isso, o profissional precisa ter registro do Ministério do Trabalho. Tem de estudar e se dedicar, treinar coordenação motora, expressão corporal e técnicas teatrais. Tudo para que o público não descubra o segredo.

Por falar nisso, os ilusionistas não gostam quando surgem ‘mágicos', como o Mister M, revelando como os truques são feitos. Uma das regras é nunca mostrar o mistério; exceto quando ensinam alguém a executá-lo. "Ninguém pode saber, senão, perde a graça", afirma Nikolas Sanchez, 5 anos, de São Caetano. Filho do mágico Barbarossa, ele sempre pede para o pai lhe ensinar os truques.

Kenzo Ossamá Sato, 5, e a irmã Milena, 3, de São Bernardo, também convivem diariamente com a mágica: são filhos do ilusionista Ossamá Sato. Os dois querem seguir a profissão do pai quando crescer. Embora em número muito reduzido, há mulheres nessa profissão. Milena não tem truque preferido. "Todos são bonitos", diz. "Mágico precisa treinar bastante para ficar bom", completa Kenzo.

Hoje, os mágicos fazem shows em variados lugares, como programas de TV, festas, teatros e confraternizações de empresas. O ilusionista Barbarossa, por exemplo, também trabalha no Hospital Albert Einstein, onde diverte pacientes que aguardam para fazer exames.

HOJE é o Dia do Mágico, mesma data da comemoração de São João Bosco, considerado patrono dos ilusionistas. Ele era padre e viveu na Itália entre 1815 e 1888. Admirador das artes circenses, fazia mágicas para atrair a atenção do povo. Depois convidava todos para rezar. Dedicou-se à educação de crianças e jovens. Em 1934, virou santo da Igreja Católica.

Ciência ajuda muito a criar os truques
A mágica certamente não existiria sem a ciência. As duas têm segredos; a diferença é que uma não pode revelá-los e a outra faz de tudo para descobri-los. Desde que o ilusionismo começou a se desenvolver como arte, mágicos utilizam o conhecimento científico na criação de truques. Por isso, eles têm de estudar bastante.

Há muito tempo, a engenharia mecânica, por exemplo, é utilizada na fabricação de máquinas usadas em grandes números de ilusionismo, como aqueles em que homens ou animais desaparecem da cena. Atualmente, a eletrônica também está presente na realização de truques, que deixam os espectadores de boca aberta.

Muitas ilusões não seriam feitas sem os conceitos de ótica (parte da física que estuda a relação da luz com objetos e ambiente) e o uso de espelhos. Essa ciência é uma das mais adotadas quando o assunto é enganar o olho humano, fazendo as pessoas acreditarem que a mágica aconteceu de verdade.

E não é só isso. Reações químicas também podem se transformar em espetáculo. Em alguns casos, ocorrem de fato, como nos que mostram líquidos mudando de cor ou no qual o ovo entra na garrafa. Além disso, sem o desenvolvimento das tecnologias, os mágicos não teriam novos materiais para usar nas apresentações.

A MÁGICA É MUITO ANTIGA, mas ninguém sabe ao certo como surgiu. O primeiro documento sobre ela é o Papiro Westcar, com cerca de 4.700 anos. Está exposto no Museu de Berlim, na Alemanha. Foi encontrado no século 19 e narra a apresentação que o mágico Dedi fez para o faraó Quéops. Na Antiguidade, algumas religiões que acreditavam em vários deuses a associavam a acontecimentos sobrenaturais. Mas quando o Cristianismo começou a se espalhar pela Europa, por volta do ano 300, os mágicos foram expulsos de várias regiões. Eram considerados bruxos. No ano 1.000, um decreto na França condenava à morte quem fizesse mágica. Mesmo assim, essa arte não desapareceu. Ressurgiu no século 16, quando os ilusionistas passaram a se apresentar em luxuosos palácios. Naquela época, também trabalhavam nas ruas e em feiras. No século 19, foram criados teatros dedicados especialmente à apresentação de truques. No século seguinte foi a vez de grandes companhias de mágicos percorrerem o mundo. O sucesso permaneceu até a Segunda Guerra Mundial (1938-1945). Depois disso, tiveram de se apresentar em espaços menores, como circo e festas infantis. Nas últimas décadas, ganhou força e tecnologia.

O MINEIRO João Peixoto dos Santos (1879-1946) foi o primeiro a importar e fabricar equipamentos para ilusionistas no Brasil. Apaixonado por mágica, escreveu três livros de 500 páginas cada, que falam sobre a história dessa arte e ensinam truques.

O FRANCÊS Jean-Eugène Robert-Houdin (1805-1871) é o pai da mágica moderna. Em 1847, inaugurou um teatro muito chique em Paris. Seus números inspiraram muitas gerações de ilusionistas, como o húngaro Harry Houdini (1874-1926), que adotou esse nome para homenageá-lo.

DAVID COPPERFIELD também é um dos ilusionistas mais famosos do planeta. Certa vez fez um truque em que a Estátua da Liberdade (com 57 metros de altura e escada interna de 354 degraus) desapareceu diante dos olhos das pessoas!

A PALAVRA ABRACADABRA é usada há 2.000 anos. No passado, muitos acreditavam que era realmente mágica, capaz de curar algumas doenças. Estudiosos não sabem sua verdadeira origem. O curioso é que está presente em todo o mundo e é pronunciada quase da mesma forma na maioria dos idiomas.

EM CARTAZ - Enquanto Houver Encanto mistura números de mágica e mímica para mostrar a viagem de um homem e um ratinho ao espaço. Está no Teatro Alfa (Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, São Paulo, tel.: 5693-4000), até dia 21. Ingresso: R$ 12 e R$ 24.

KIT DE TRUQUES - Vários shoppings têm quiosques do Planeta das Mágicas (www.planetadasmagicas.com, tel.: 2296-1682): ABC Plaza (Av. Industrial, 600, Santo André); ABC (Av. Pereira Barreto, 42, Santo André); Central Plaza (Av. Dr. Francisco Mesquita, 1.000, São Paulo).

Histórias legais
As prateleiras estão cheias de livros com aventuras de mágicos e outros que ensinam truques. Confira:

O GRANDE LIVRO DAS MÁGICAS (de Joe Fullman, editora Girassol, 124 págs., R$ 45) ensina os primeiros truques para quem quer se transformar em mágico de verdade.

LILI, A BRUXA (de Knister, WMF Martinsfontes, 92 págs., R$ 19,80) conta as travessuras da aprendiz de feiticeira, que apronta na escola. O livro ensina truques fáceis de fazer.

OS SEGREDOS DA MÁGICA E DO ILUSIONISMO (The Oriental Magic Show, Editora JBC, 82 págs., R$ 30) ensina passo a passo como fazer um monte de truques, por meio de fotos.

O MÁGICO ERRADO (de Luiz Galdino, FTD, 40 págs., R$ 24,40) traz as aventuras do atrapalhado Arquibaldo Serafim. Da sua cartola surgem gambás em vez de coelhos.

RUBIÃO GATÃO, O MÁGICO TRAPALHÃO! (de Lilian Sypriano, Saraiva, 32 págs., R$ 25,50) fala sobre o bicho que quis ser mágico, mas criou muita confusão.

Consultoria de Célio Amino, mágico e físico, Enio Finochi, presidente da Academia Brasileira de Artes Mágicas, Ossamá Sato, do The Oriental Magic Show, e do ilusionista Barbarossa




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