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PF cita Vicentinho no
relatório do Mensalão
Por Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
05/04/2011 | 07:03
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O deputado federal reeleito por São Bernardo Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT), é citado como hipotético beneficiário do Mensalão, suposto esquema de corrupção e compra de votos de parlamentares deflagrado em 2005, terceiro ano do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, na tribuna da Câmara, ele negou qualquer participação no episódio.

Vicentino aparece no caso seis anos após o escândalo, em relatório final da Polícia Federal entregue ao STF (Supremo Tribunal Federal) no fim de fevereiro e revelado pela revista Época no fim de semana. O Ministério Público avaliará se o documento, de 332 páginas, será anexado ao processo, que ainda não foi julgado pela corte.

Segundo o relatório, o produtor Nélio José Batista Costa recebeu R$ 17 mil em sua conta, no dia 9 de agosto de 2004. O dinheiro fora depositado pela empresa Estratégia Marketing, cujo dono é o publicitário Marcos Valério, um dos pivôs do Mensalão - organizava o suposto caixa dois para pagamentos ilegais.

Para a Polícia Federal, Costa disse que a verba se referia a serviços prestados à campanha de Vicentinho à Prefeitura de São Bernardo, em 2004. O petista disse à revista que não se lembra do produtor, pois já se passaram sete anos da candidatura.

O comitê financeiro do deputado gastou R$ 865.447,75 na tentativa de assumir o Paço, segundo dados fornecidos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Na prestação de contas não há referência a Nélio José Batista Costa ou da Estratégia Marketing como fornecedores.

Vicentinho obteve 88.533 votos, equivalentes a 24,88% dos válidos, perdendo a disputa no primeiro turno para William Dib (então no PSB, hoje deputado federal pelo PSDB), reeleito prefeito com 295.487 votos (76,37%).

Antes do parlamentar petista, a única da região dentre as 38 pessoas indiciadas no processo do Mensalão era Luiz Carlos da Silva, o Professor Luizinho (PT), ex-deputado federal por Santo André. Seu assessor teria sacado R$ 20 mil das contas de Marcos Valério. Ressalta que o episódio é uma "barbárie", que reviraram sua via sem encontrar provas de seu envolvimento no caso e que confia na absolvição do STF.

O relatório da Polícia Federal confirma a existência do Mensalão no governo Lula, após seis anos de investigação. O ex-presidente tem declarado e tenta provar que o esquema nunca existiu.

O documento acrescenta novos detalhes ao enredo do escândalo, como outros nomes de políticos e empresas envolvidas. Segundo a conclusão da PF, as empresas de Marcos Valério receberam cerca de R$ 350 milhões do governo Lula.

Até agora, na ação que tramita no STF foram feitos interrogatórios dos réus, testemunhas de acusação e defesa, além de quebra de sigilos fiscais. Resta incluir provas e reunir as alegações finais das partes, para que o ministro Joaquim Barbosa prepare relatório para julgamento dos réus pelo plenário da Suprema Corte brasileira.

 

‘Não fui eu quem recebeu ou pagou'

 

O deputado Vicentinho usou a tribuna da Câmara Federal, ontem, para se defender do suposto envolvimento no mensalão, como sugere a reportagem da revista Época. "Não fui eu quem recebeu ou pagou", afirmou, referindo-se à participação da empresa Estratégia Marketing na sua campanha a prefeito de São Bernardo, em 2004.

Dizendo-se "surpreendido" com o texto jornalístico, o qual classificou em seu Twitter de "matéria injuriosa", o petista ressaltou que a companhia prestou serviços na corrida eleitoral pelo Paço, mas por intermédio do tesoureiro nacional do PT à época, Delúbio Soares.

"Em 2004, portanto antes da crise chamada Mensalão, o Delúbio nos mandou uma agência de propaganda para fazer a minha campanha, a mesma que também atuou na campanha do companheiro Emídio de Souza, em Osasco. Este fato é de conhecimento público desde aquela época. Eu aceitei e agradeci com muita alegria a presença da agência e por essa importante colaboração do Partido dos Trabalhadores... Depois soube que a empresa pertencia ao senhor Marcos Valério. Jamais imaginei que tudo isso poderia acontecer. Pois, se soubesse, nunca teria aceitado", justificou o parlamentar.

Sobre o produtor Nélio José Batista Costa, que citou à Polícia Federal o recebimento de R$ 17 mil da empresa de Valério, por ter prestado serviço à campanha de Vicentinho, o deputado ressaltou que, ao consultar integrantes da coordenação da candidatura de 2004, constatou que "não somente eu, mas nenhum deles, conheceu este senhor Nélio". "Logo, nunca tivemos qualquer tipo de transação com esse cidadão. Ele nunca foi nosso assessor. Nunca trabalhou conosco. A não ser que ele tenha sido uma espécie de ‘eminência parda' da agência e que nunca se mostrou."

Vicentinho criticou ainda a atuação da Polícia Federal no caso. "Considero um erro grave a Polícia Federal ter ouvido este senhor Nélio e, em nenhum momento, durante sete anos, ter procurado a mim ou à minha assessoria para nos ouvir, pondo em riso a nossa história de vida de forma irresponsável."

E completou: "Como todos sabem da minha luta e do meu compromisso ético, luta esta construída durante toda a minha vida, eu não posso aceitar que esta matéria e comportamentos eivados de erros ponham em dúvida a minha trajetória", frisou o deputado, informando que as contas da campanha de 2004 foram aprovadas pela Justiça Eleitoral".




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