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Pronta para loucuras

Taís Araújo diz que a vida tem sido generosa com ela e que se sente responsável pior ajudar a abrir portas

Márcio Maio
Da TV Press
20/07/2008 | 07:02
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Taís Araújo é bem mais frágil que as personagens que vem interpretando na TV ultimamente. A atriz, que se diverte atualmente com as insanidades de sua rebelde Alícia, em A Favorita, não tem idéia de onde tira a suposta força que seus papéis carregam. Mas talvez por isso mesmo, esteja se dando tão bem com esse tipo de interpretação. "Acho tudo hilário na Alícia. Essa distância entre mim e a personagem acaba me deixando livre na atuação. Posso dizer que é uma delícia interpretar uma pirada", conta, às gargalhadas, enquanto relembra cenas da novela. Como as dos primeiros capítulos, quando a jovem tirou a roupa em um comício do pai, Romildo, de Milton Gonçalves. "Não sei o que posso esperar dela, mas sei que tenho de estar preparada para qualquer loucura", confessa.

No ar em dose dupla - a atriz também é apresentadora do programa Superbonita, do canal pago GNT -, Taís terminou neste semestre o curso de Jornalismo. E, com os rumos que sua vida profissional tomou, comemora o fato de servir de exemplo a vários negros do País. Tanto que até hoje se emociona com os agradecimentos e o estímulo que recebe desses fãs. "Cada porta que se abre para mim, vejo como uma oportunidade que surge para todos os que têm a minha cor", filosofa. Taís estuda teatro desde os 11 anos. Em 1995, garantiu sua estréia na Manchete, em Tocaia Grande, e mal sabia que começava a definir naquele trabalho seu futuro. "Minha atuação de estréia na TV me rendeu o papel de protagonista de Xica da Silva no ano seguinte, em 1996", lembra a atriz.

Sucesso é incentivo a atores negros

A Alicia de A Favorita tem uma sensualidade mais bem trabalhada do que suas últimas personagens. Como você está lidando com essa mudança?

TAÍS ARAÚJO - Não tenho pensado muito sobre isso. Sei que posso esperar qualquer coisa dela, porque uma das primeiras cenas que gravei foi tirando a roupa em um comício do pai dela. Mas não tenho medo dessa exposição até porque não vejo espaço para vulgaridade nesse horário. O Ricardo Waddington é um diretor elegante, requintado, não permitiria qualquer desvio aí. Mas é claro que de cara eu me toquei que ia precisar de uma preparação física para encarar esse lado sexy desse trabalho.

Que tipo de preparação?

TAÍS - Não sou muito ligada nesses assuntos, tanto que nem sei quantos quilos eu perdi. Mas não vou negar que assim que eu vi o figurino e comecei a construir a Alicia, caiu a ficha de que eu precisava me controlar na alimentação porque o bicho ia pegar. Só tinham roupas curtíssimas e justas. E a Alicia é uma mulher da noite, achei que seria mais convincente se ela fosse uma daquelas magricelas, figurinhas fáceis nas boates. Depois que definimos a cara dela, com maquiagem, cabelo e roupas, surgiram os outros detalhes que construíram a personalidade e o comportamento dela.

Como foi esse processo?

TAÍS - Assim que você enxerga a ‘carcaça' de um personagem, tudo fica mais fácil. O visual ousado e provocativo fez aparecer esses traços também no jeito dela andar, falar e olhar para as pessoas. Existe um conflito forte entre ela e o pai e isso faz com que todas suas atitudes sejam tomadas com o intuito de prejudicá-lo. É bacana porque ela não é má, mas essa revolta lhe dá características de grandes vilãs.

O texto irônico da sua personagem e suas cenas com o Iran Malfitano e o Cauã Reymond têm um tom de comédia. É difícil dosar o drama e o humor na mesma personagem?

TAÍS - Em Cobras & Lagartos tinha um pouco disso também, mas acho que a Alicia foi desenhada de uma forma muito proveitosa. Essa é a terceira novela do João Emanuel Carneiro que faço, fui do elenco de todas que ele escreveu até hoje. Isso facilita os dois lados, porque ele sabe o que esperar de mim e eu entendo o que ele quer só de ler os capítulos.

Desde 2004, você só faz novelas do João Emanuel. Não se sente limitada com isso?

TAÍS - Eu não quero outra coisa da minha vida! Não, estou brincando. A verdade é que adoro trabalhar com o João. E o intervalo entre as novelas dele foi mais ou menos o mesmo que eu costumava ficar fora do ar. Mas tem outros autores com quem ainda tenho que trabalhar na Globo e isso não deve demorar muito para acontecer.

Quais autores?

TAÍS - O Walcyr Carrasco, por exemplo. Fizemos Xica da Silva e foi um baita sucesso na Manchete. Depois disso, nós dois assinamos com a Globo, mas nunca consegui estar disponível para ele. Já conversamos, sabemos que, assim que der, vamos fazer uma parceria aqui. Mas por enquanto, não rolou.

Você já declarou várias vezes que Xica da Silva foi o trabalho da sua vida. Ainda pensa assim?

TAÍS - Agora você me pegou. Eu tinha 17 anos quando tudo começou e encabeçava um elenco com mais de 60 pessoas. Achava que seria muito difícil voltar a protagonizar uma novela. E o meu futuro foi definido ali. Eu estava entrando no mercado de trabalho e nunca tinha tentado ingressar. E foi um sucesso estrondoso mesmo fora da Globo. Mexeu muito comigo porque tive de crescer como atriz e como mulher de uma hora para outra.

Você protagonizou outra novela depois, Da Cor do Pecado. Mas suas duas protagonistas eram negras na sinopse. Incomoda não disputar vagas para papéis principais com atrizes brancas?

TAÍS - Não, mas essas coisas já estão mudando. Hoje acho uma grande besteira fazer protagonista. Claro que é importante valorizar os negros e ainda acontece de você só ser escalado para personagens que são negros desde a sinopse. Mas já existem personagens dramaticamente ricos para nós. Não esqueço que vivemos em um país cheio de preconceitos, mas confesso que hoje eu não abro mais a boca para falar sobre isso. A vida tem sido muito generosa comigo e acho que a melhor forma de retribuir é fazer o meu melhor. O meu sucesso abre portas para que outras negras consigam esse espaço. O Superbonita mesmo aumenta a auto-estima de toda a população negra que assiste.

Os negros conversam com você sobre isso nas ruas?

TAÍS - Sim, demais. As pessoas me param e dizem que se sentem representadas, que eu tenho de fazer bonito para mostrar que somos iguais. E tenho noção dessa responsabilidade. Penso que quando as portas se abrem para mim, é um sinal de que elas vão se abrir mais fácil no futuro para minha prima, para meus filhos que ainda nem nasceram, enfim, para todos.

Você sente falta de outras atrizes negras com oportunidades como as suas na TV?

TAÍS - Sinto, mas já temos grandes exemplos. Acho que Duas Caras foi muito importante nesse sentido. A Sheron Menezes e a Juliana Alves fizeram um grande sucesso e mostraram que essa diferenciação tem de acabar. Já estamos no caminho certo. As coisas acontecem devagar, mas pelo menos elas estão acontecendo.




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