D+ Titulo Solidariedade
A arte de contar histórias

Jovens de S.Bernardo aprendem a interpretar
literatura para ensinar crianças e adolescentes

Caroline Ropero
Do Diário do Grande ABC
08/12/2013 | 07:00
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Claudinei Plaza


O mundo da fantasia é prato cheio para quem gosta de aventuras e quer desculpas para fugir da realidade. Basta abrir a página de um livro e viajar pela imaginação. A sensação é tão boa que os jovens do projeto Contando Histórias, da Fundação Criança de São Bernardo, querem passar a experiência adiante.

Os participantes organizam contações e apresentam peças aos alunos da rede municipal e, toda semana, assistem a aulas de arte, cultura e cidadania. O programa, com parceria da Secretaria de Educação, oferece formação para quem tem de 15 a 17 anos, além de bolsa auxílio de R$ 200 (saiba mais no www.fundacaocrianca.org).

Antes de participar, Aline Santos da Silva, 18 anos, trabalhava no farol. “Ia escondida da minha mãe. Ficava das 9h às 18h embaixo de chuva e sol forte, mas era o jeito de ganhar dinheiro”, conta. Certo dia, foi encontrada por assistente social e começou a participar dos projetos da Fundação. Desde então, a arte mudou sua vida. Além de sair das ruas, passou a se relacionar com as pessoas, melhorou a confiança e a autoestima. “Ficava no meu canto sem falar com ninguém. Agora, não tenho vergonha. Minha mãe me elogia bastante, diz que estou sempre feliz e sorridente. ”

Histórias como a de Aline são comuns entre jovens do projeto. “A arte é terapia. A pessoa mostra o que tem de melhor, aprende entonação de voz, a mexer o corpo e conhecer a si mesmo”, explica a psicóloga Maria Regina Azevedo, professora do departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC.

Desde que participa do grupo de contadores, Eloah Lopes, 18, viu o teatro e a literatura mudarem vidas de quem conta e ouve as histórias. “É incrível olhar nos olhos da criança enquanto assistem à apresentação. Muitas são carentes e quando damos atenção elas retribuem. Algumas nos veem como referência ou acreditam que somos os personagens de verdade”, diz . Para Geovana de Paula, 16, trabalhar com a imaginação ajuda a enfrentar desafios. “A gente se identifica com o personagem. Se ele pode superar obstáculos, nós também conseguimos”, afirma.

Com o programa, Kelvy David de Lima, 17, adquiriu o hábito de ler. “Hoje sei que toda história tem um significado e nos faz crescer e aprender”. Para Caroline Soares, 16, os livros também ajudam a enxergar além da aparência. “Abre a mente, nos faz pensar diferente e aceitar novas opiniões.”

Segundo a psicóloga, a leitura enriquece o universo afetivo, emocional e intelectual. “A pessoa escreve corretamente, conhece concordância, tem vocabulário rico e sabe se colocar”. Enquanto a contação colabora com a imaginação. “Dependendo de como conta, faz sentir até o perfume das flores. É um momento mágico.”

Nas telonas - O filme O Contador de História (2009) narra a trajetória de Roberto Carlos Ramos, um dos maiores contadores de histórias do Brasil. Aos 6 anos, foi deixado na Febem (atual Fundação Casa) pela mãe. Aos 7, fugiu pela primeira vez e, com 13, acumulou 132 fugas. Foi considerado irrecuperável. Mas, quando a pesquisadora francesa Marguerit Duvas visitou a instituição, se interessou pela história do garoto e o adotou. Na França, Roberto aprendeu a ler e a escrever, e percebeu que as pessoas adoravam suas histórias, diziam que era talentoso. Aos 19, voltou ao Brasil e se formou em Pedagogia. Fez estágio na mesma Febem em que viveu na infância. Hoje, roda o País dando palestras e espalhando seu repertório de histórias, baseadas em lendas do folclore brasileiro.

Qualquer um pode embarcar nessa - Para ser bom contador é importante ler bastante, buscar histórias originais, ouvir profissionais no assunto, como Regina Machado, e prestar muita atenção na narrativa e na reação do público enquanto a trama é desenvolvida. “Tem de pensar onde se posicionar, o que vestir, o tempo de duração, se vai mudar a voz ou mostrar imagens. Tem de estar atento a tudo”, dá as dicas a contadora Maria Inês Breccio, professora da disciplina A Palavra é Sua, a História é Nossa, da Universidade Metodista.

No entanto, há situações que exigem treinamento específico e mais profundo, como acontece com os voluntários da Associação Viva e Deixe Viver de Contadores de Histórias, que trabalha com crianças hospitalizadas. Por exigência dos hospitais, só pode participar quem tem acima de 18 anos.

“Queremos levar o lúdico e vivenciar as histórias para ajudar a abstrair as sensações dolorosas”, explica Valdir Cimino, fundador da instituição. “Vivemos em sociedade individualista. É lindo quando a criança ou o jovem se preocupa com o outro. A contação melhora o mundo.”

Saiba mais sobre a formação da associação no www.vivaedeixeviver.org.br. Já a Metodista oferece o curso A Arte de Contar Histórias. As inscrições devem abrir no começo de 2014.




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