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Levantamento arqueológico mostra origens da ocupação colonial do Grande ABC
Bruno Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
20/07/2008 | 07:07
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Santo André não é a única cidade da região a possuir um passado que remete aos tempos do início da colonização portuguesa. Ao contrário. O ‘berço' do Grande ABC é São Bernardo. Por sorte, essa cidade está adiantada na preservação de seus sítios arqueológicos, fruto da necessidade desse tipo de estudo para a série de obras viárias que a cidade executa com financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

O arqueólogo Paulo Zanettini, responsável pela análise dos fragmentos de cerâmica encontrados em Santo André, é o mesmo contratado para elaborar o diagnóstico do patrimônio histórico e arqueológico de São Bernardo. A contratação dele obedece à Lei 3.924/61, que proíbe a destruição de sítios arqueológicos. Assim, obras que alterarão áreas antigas precisam desse tipo de levantamento.

A arqueologia anda lado a lado com a história. Os trabalhos de campo consistem em um tipo de escavação chamado de prospecção. A idéia é que, se houve ocupação humana em uma área, ela deixou rastros que foram enterrados ao longo dos anos. Se uma cidade pretende construir um viaduto em cima de um desses vestígios, o sítio arqueológico será perdido, provavelmente para sempre. A prospecção é importante para salvar esse patrimônio - cujo resultado comprova ou contradiz teorias sobre o passado da região.

PASSADO
As vias congestionadas, as indústrias e a explosão habitacional desordenada do Grande ABC de hoje não têm nada a ver com a região do início do século. Depois que o bandeirante João Ramalho abandonou a vila que fundou no século 16, a vocação da região foi só para descanso: tropas que saíam do Litoral passavam por aqui rumo ao interior do Estado. Não havia povoados. "Havia a Vila de São Paulo e a Vila de São Vicente. Entre elas, 26 aldeias indígenas alvo de ações de jesuítas catequistas", diz a pesquisadora Gisela Saar, que leu diversas das cartas dos jesuítas. "O Grande ABC era área de descanso para os tropeiros. Ribeirão Pires, por exemplo, chegava a abrigar tropas com 200 mulas", completa.

Essa função local passou a ser mudada por volta de 1770, quando monges beneditinos fundaram fazendas na área onde hoje é São Bernardo. Esse local passou a fornecer gado e vegetais para São Paulo, aproveitando as rotas já consolidadas.

A ocupação da área se deu de São Paulo para o Litoral. Foram surgindo mais fazendas, imigrantes foram chegando e as primeiras manufaturas foram surgindo - ainda aproveitando a facilidade de locomoção da área. A conseqüência disso foi fornecer à região as bases necessárias para o surgimento da indústria - que trouxe desenvolvimento e deu ao Grande ABC destaque nacional.

PRESENTE
"As obras do Rodoanel vão mudar radicalmente a dinâmica do Grande ABC. Até agora, a ocupação é resultado dos caminhos para o mar (que foram a base para as rodovias Anchieta e Imigrantes) e da estrada de ferro (hoje linha 10 da CPTM). No futuro, o desenvolvimento será diferente, como conseqüência dessa nova dinâmica", explica o arqueólogo Paulo Zanettini. Para realizar os estudos para as obras do Programa de Trânsito Urbano São Bernardo Moderna, foi preciso formar um conhecimento sólido da história local.

"A somatória de estudos é um resultado inédito para o patrimônio da cidade. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e o Condephaat (Conselho Estadual de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico) já foram notificados. Agora, isso tudo é acervo do município", afirma Paulo Guidette, assessor de Projetos Especiais da Prefeitura.




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