Cultura & Lazer Titulo Especial
E dá-lhe Henfil

‘Coleção Fradim’ será premiada com Troféu
HQ Mix na categoria Publicação de Clássicos

Vinícius Castelli
11/09/2014 | 07:00
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Divulgação


Quem viveu a década de 1970 já deve ter visto personagens como Cumprido e Baixim, a Turma da Caatinga – formada por Bode Orelana, Capitão Zeferino e a Graúna – e também os fradins, do cartunista Henrique de Souza Filho, o Henfil. A ONG Henfil Educação e Sustentabilidade – cuja primeira unidade surgiu em Mauá –, em parceria com o Instituto Henfil, colocou neste ano no mercado a Coleção Fradim. São 31 revistas (R$ 15 cada) publicadas originalmente entre os anos de 1971 e 1980. Uma edição extra, batizada de Edição 0, também está nas prateleiras. Os trabalhos fazem parte das comemorações dos 70 anos do artista.

Os relançamentos, que ilustraram a FliParanapiacaba, em Santo André, no último fim de semana, renderam prêmio na categoria publicação de clássicos do 26º Troféu HQ Mix. A entrega da premiação será realizada sábado, a partir das 17h, no Sesc Pompeia, em São Paulo. Tradicional, o evento existe desde 1989 e reúne editores, pesquisadores e jornalistas para escolher os destaques do segmento.

Mateus Prado, educador, presidente de honra do instituto Henfil Educação e Sustentabilidade e idealizador do projeto de relançamento, conta ao Diário que descobriu toda a coleção do Fradim depois da fundação da ONG. Antes, conhecia partes da obra. Ele diz que a cada livro lido, ele saía mais disposto à construção de um Brasil melhor.

“No momento em que se completaram 25 anos da morte do Henfil, demos um passo fundamental para trazer seus traços e ideias para mais próximo das novas gerações com o lançamento dessa edição comemorativa da Coleção do Fradim. E agora, com este prêmio, a sensação que dá é que todos os nossos esforços no sentido de recuperar, preservar e promover a obra dele não estão sendo em vão. A arte do Henfil continua a cativar e encantar o público, seu desenho ficou e, fazer parte disso, é uma satisfação muito grande”, diz.

Nem a ONG e nem Ivan Cosenza de Souza, filho do Henfil, possuíam todas as 31 revistas lançadas neste período. “Foi um trabalho de garimpagem localizar todas as edições junto a colecionadores, arquivos, lojas de raridades do HQ, além do gigantesco acervo do Ivan”, conta Prado.

O idealizador diz que foi impactante perceber o quanto a obra do Henfil, “além de uma criatividade ímpar, se mantém muito atual até hoje e instiga a reflexão sem perder nenhuma piada e, nem por isso, cai no óbvio ou é apelativa”.

À exceção do selo 25 Anos Sem Henfil – Morro, Mas Meu Desenho Fica, as reedições são idênticas às originais. “Nossa intenção foi sermos absolutamente fiéis ao projeto gráfico e editorial que o próprio Henfil aprovou em vida, por isso optamos por não alterar nada”, afirma Prado.

O ilustrador do Diário Seri tem parte da coleção original e acompanhou a obra de Henfil. “Ele era militante do cartum. Acho que estaria revoltado com a falta de informações dos chargistas em geral. Hoje não se busca conteúdo para calcar as charges”, explica.

Prado conta que na época em que esses personagens surgiram, ajudaram o povo brasileiro a vivenciar a possibilidade que a “catarse do riso tem de ser um instrumento de reflexão e até de mudança. O Henfil, sem dúvida, foi um pioneiro nesse sentido, e foi muito bem-sucedido”.

De acordo com Prado, o legado deixado por Henfil é a lição de como fazer crítica social sem ser chato e de como dizer muito por meio de poucos traços e com o menor número de palavras, além, é claro, de como rir de si mesmo – “de sua cultura, de seus costumes, de seus preconceitos – é uma das melhores formas de repensar os caminhos seguidos e questionar os valores praticados pelo senso comum. São lições que não podem ser esquecidas”.




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