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'Azulão' era a menina dos olhos de Tortorello, fundador do clube
Por Evandro De Marco
Especial para o Diário
18/12/2004 | 13:04
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Nos três mandatos à frente da Prefeitura de São Caetano, Luiz Olinto Tortorello (PTB) sempre deixou claro que o esporte era uma das prioridades, especialmente o futebol. A postura rendeu-lhe críticas e até uma ameaça de racha na base aliada, principalmente na primeira gestão. Tortorello tinha o objetivo de elevar o nome da cidade por meio das práticas esportivas. Entre as principais ações do prefeito estão a criação do time de futebol São Caetno, do time feminino de vôlei – equipe Colgate-Palmolive –, da equipe de atletismo, judô e da liga sulcaetanense de futsal.

O time de vôlei chegou a ser comandado pelo técnico José Roberto Guimarães, que esteve à frente da Seleção Brasileira masculina na conquista da então inédita medalha de ouro olímpica em Barcelona, em 1992. No atletismo, um dos grandes nomes que defenderam a cidade foi Valdemar Pereira dos Santos, vice-campeão da São Silvestre de 1990.

Porém, o maior investimento e a menina dos olhos do chefe do Executivo sempre foi o time de futebol profissional. Em 1989, em seu primeiro mandato, Tortorello conseguiu fundar a Associação Desportiva São Caetano. Para isso, o prefeito precisou convencer a diretoria da Sociedade Esportiva Recreativa União Jabaquara, clube da Vila Prosperidade, a alterar seus estatutos e mudar o nome. Caso contrário, seriam necessários três anos de disputa no circuito amador do Estado para que o São Caetano pudesse entrar na liga profissional.

Escândalos – Entre 1989 e 1992 não foram raras as críticas e problemas enfrentados por Luiz Tortorello para conseguir colocar seu projeto esportivo em prática. A priorização das atividades esportivas fez com que o prefeito destinasse mais verbas para os clubes e atletas da cidade do que para entidades assistenciais e ações que minimizassem os problemas causados pelas fortes chuvas da época, que resultaram em grandes enchentes no município.

O Orçamento de 1990, aprovado no ano anterior, não previa verbas para o time de futebol, mesmo assim, a A.D. São Caetano recebeu Cr$ 500 mil na época.

No ano seguinte, o time receberia Cr$ 1,2 milhão – enquanto a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) ficava com apenas Cr$ 200 mil – e teria motivos de sobra para comemorar, uma vez que o projeto do Executivo contemplava 85 das 108 entidades candidatas a receber uma ajuda da Prefeitura.

Também em 1991, a Câmara teve de votar em caráter de urgência um projeto de Tortorello que previa verba de Cr$ 15 milhões para a Liga Sulcaetanense de Futebol, o que causou revolta entre os vereadores da oposição. "Do orçamento aprovado para este ano, consta apenas a dotação de Cr$ 2 milhões para a limpeza do Ribeirão dos Meninos, um dos principais responsáveis pela ocorrência de enchentes na cidade", reclamou, na época, o então vereador pelo PRN, Adauto Campanella, em entrevista ao Diário.

O prefeito Luiz Tortorello se defendia das acusações de beneficiar o setor de esportes. Tortorello alegava que saía a campo para conseguir parcerias com empresas que viabilizassem a dedicação dos atletas e o funcionamento dos clubes. "Eu ia às empresas pedir que adotassem um atleta. Eles registravam o jogador como um funcionário, pagavam os encargos e os salários, e ele atuava pelo time."

Queda – Para se ter uma exata noção da importância e influência do prefeito na atuação do time de futebol da cidade basta confrontar os números. O São Caetano chegou à Primeira Divisão do futebol paulista em 1992 depois de ser vice-campeão da então Divisão Intermediária do campeonato estadual. Porém, o então presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, criou as Séries A-1, A-2 e A-3 e deixou a equipe do Grande ABC e o Clube Atlético Taquaritinga – campeão da Segundona – na A-2.

Durante o mandato do prefeito Antonio José Dall'Anese (1993-1996), o São Caetano decaiu. Segundo o historiador José Pires Maia, a falta de incentivo da Prefeitura foi o principal fator. "Neste período houve uma total inércia do Azulão e uma queda vertiginosa pelo descaso da Prefeitura naquele momento", afirma Maia.

No final da gestão de Dall'Anese, o São Caetano encontrava-se na Série A-3 do Campeonato Paulista.

Retomada –Com a volta de Luiz Tortorello como chefe do Executivo em 1997 houve a retomada dos incentivos ao esporte e a instalação do projeto Atleta do Futuro com a contratação de jogadores de outras cidades para defender São Caetano. Na época, foi formada a base do time que subiria ao primeiro escalão do futebol do Estado de São Paulo e também nacional no ano 2000, com a conquista da Série A-2 e o vice-campeonato da Copa João Havelange, que renderam, finalmente, a ascensão do time do Grande ABC ao futebol de elite.

Mesmo assim, Tortorello garantia que, na segunda gestão e na atual, ele atuava apenas como mero torcedor e incentivador. "A partir de 1997 o futebol mudou. O São Caetano conseguiu patrocinadores bons e a Prefeitura só cede o campo (Estádio Municipal Anacleto Campanella) para o time."

A influência de Tortorello, que mantinha o posto de Presidente de Honra do São Caetano, é assinalada por Adhemar, um dos jogadores mais antigos do clube. "Eu sempre ia visitá-lo no gabinete e o prefeito conversava muito com a gente. Falava que queria ser o melhor em tudo e que nós também deveríamos pensar assim."

Conquistas – Os esportes amadores continuam em alta em São Caetano. A cidade teve bom desempenho em Jogos Regionais e conta com atletas que representam não só a cidade, mas também o país em edições dos Jogos Pan-Americanos e Olímpicos, como é o caso da equipe de judô, formada por Carlos Honorato, Marcos Sabino, Tiago Camilo e Edinanci Silva; e do atletismo, com Vanderlei Cordeiro de Lima, medalha de bronze na Maratona nos Jogos Olímpicos de Atenas deste ano, quando a cidade colaborou com o envio de mais de 20 atletas.

Para o coordenador da equipe de boxe, Servílio de Oliveira, Tortorello vai fazer falta ao esporte municipal. Ele espera que o futuro prefeito, José Auricchio Júnior (PTB) – que foi apoiado por Tortorello – dê continuidade às políticas voltadas ao esporte. "O prefeito Tortorello vai fazer muita falta para o esporte municipal como um todo. Acredito que o Auricchio vai manter o apoio que recebemos desde a parte moral até ajuda de custo e acompanhamento médico."

No futebol, o sucesso não foi diferente. Além do vice-campeonato na Copa João Havelange de 2000, o Azulão também foi o segundo colocado no Campeonato Brasileiro de 2001, na Copa Libertadores de América de 2002 – torneio continental mais importante – e conquistou o Campeonato Paulista deste ano.




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