Diarinho Titulo Desafios da locomoção
Superação sobre rodas

Crianças da região que usam cadeira de rodas contam sobre seu dia a dia

Tauana Marin
Diário do Grande ABC
20/01/2019 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Helena de Oliveira Monferron, 9 anos, de Santo André, esbanja energia nas atividades que compõem sua agenda diária. Ela necessita de cadeiras de rodas para ir de um lado para outro, mas o acessório não a atrapalha quando o assunto é participar das aulas de hip hop, se exercitar na natação e fazer teatro. Além de frequentar a escola à tarde, faz sessões de acupuntura (técnica da medicina chinesa com o uso de agulhas), hidroterapia (exercícios feitos na água) e outros tratamentos médicos que auxiliam na melhora de sua qualidade de vida como cadeirante, como são conhecidas pessoas que necessitam da cadeira como meio de locomoção.

A estudante da 5ª série nasceu com síndrome chamada artrogripose múltipla congênita, quando o bebê nasce com deformidades nos pés e pernas. Helena já passou por nove cirurgias para correção dos membros inferiores e já se prepara para outra, em fevereiro. “(Ser cadeirante) Não é um incômodo. Sou independente e faço tudo sozinha: tomo banho, me troco, danço e ajudo em casa”, afirma, contando que colocar a comida e água para o cachorro e preparar o lanche do fim da tarde estão na lista de obrigações.

Entre as atividades preferidas estão idas à igreja, aulas de teatro na ONG Viver Bem (que reúne pessoas com alguma deficiência), passar tempo na internet, ouvir músicas pop internacionais e se maquiar. Ir ao Parque Antônio Fláquer (Ipiranguinha), na Vila Alzira, também é passatempo. “Brinquei muito nos brinquedos quando era bebê e, hoje, me sinto bem no parque. Adoro a natureza.”

Na escola, sempre foi bem recebida pelos alunos. “A turma me ajuda quando algo cai no chão, por exemplo”, explica. “Nas aulas de educação física já fiquei no gol e fui atacante jogando futebol. Só eu podia arremessar a bola com as mãos. Quando não consigo fazer algo, sempre tenho um amigo para conversar ou brincar com jogo de tabuleiro.”

Para o futuro, diz encontrar opções trabalhando como maquiadora, dentista ou designer de interiores.
Ter a companhia das rodas também é realidade de Gabriel Vicente da Silva, 6. A cadeira é a extensão do corpo do andreense desde os 2 anos. “Ando muito bem com ela. Acho fácil.” Ele não movimenta os membros da cintura para baixo por conta de doença chamada mielomeningocele, que resulta em malformação congênita (com montagem diferente de órgãos) do bebê já dentro da barriga da mãe, com hidrocefalia (excesso de água no cérebro). “Não sinto dores, só nas minhas costas, às vezes”, explica, citando o reflexo de estar sentado a maior parte do tempo.

Uma das coisas que Gabriel mais gosta de fazer é ir para o colégio. Em especial, sempre se diverte nas aulas de educação física, onde também tem atividades que envolvam bola. Além dos estudos, possui agenda cheia com visitas ao Nanasa (Núcleo de Natação Adaptada de Santo André), à sala de recursos (espécie de aula extra) e às sessões de fisioterapia no Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André. O menino recorda com carinho dos tratamentos médicos que realizou até o ano passado na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), em São Paulo. “Me sinto em casa. Brinco de pega-pega com meus colegas.”

Gabriel amplia sua movimentação ao deixar a cadeira de rodas de lado para se locomover com ajuda das mãos. “Gosto de assistir a desenhos e de brincar com meus brinquedos (entre eles uma guitarra e um pandeiro).” Quem vê o garoto hoje esbanjando sorrisos não imagina que ele já passou por quatro cirurgias, duas delas realizadas logo que nasceu. Entre seus personagens favoritos está o Homem-Aranha, admirado pela grande agilidade. Ele também sonha em ser um herói, mas atuando como bombeiro.

Leis específicas asseguram direitos dos cadeirantes e ajudam na inclusão

E se um cadeirante ou qualquer outra criança com algum tipo de deficiência entrasse em sua sala de aula? Não é tão fácil saber lidar com esse tipo de diversidade. Antes das necessidades especiais, há sempre alguém que gosta de carinho, atenção, de conversar e também ensinar muitas coisas. Isso se chama inclusão. Fazer com que todos participem de grupos, brincadeiras, conversas e da rotina da turma dentro e fora da escola.

Especialmente em relação aos cadeirantes, há muitos direitos adquiridos. A mobilidade é fundamental, ou seja, a pessoa conseguir se locomover com sua cadeira com facilidade e segurança. Acesso a espaços como cinemas, teatros e edifícios por meio de rampas é necessário. É sempre positivo ajudar de qualquer forma. Respeitar as vagas demarcadas para deficientes, por exemplo, também é direito, já que são projetadas para melhorar a movimentação dos cadeirantes.

“Teve um período em que fiquei seis meses sem frequentar a escola porque havia feito grande cirurgia e quando retornei haviam tirado os brinquedos no parquinho que eram acessíveis (quando a cadeira é encaixada), como balanço e gira-gira”, conta a estudante Helena de Oliveira Monferron, sobre um dos momentos em que lhe tiraram a felicidade. “Aquele dia chorei, porque nunca havia ficado de fora das brincadeiras. A saída foi sugestão da minha mãe: levar brinquedo diferente a cada dia que íamos no parque e ver se algum amigo, ao invés de ficar correndo, gostaría de sentar e brincar comigo. Todos gostaram da ideia, não fiquei mais sozinha e fiz novos amigos.”

A necessidade da cadeira de rodas ocorre por problema de saúde ou por conta de acidente que faça a pessoa perder os movimentos das pernas. 

Consultoria de Valquíria Stafocher, coordenadora do núcleo de acessibilidade da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). 




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