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Na região, 63% dos partos são realizados por meio de cesáreas

OMS preconiza que apenas 15% dos procedimentos sejam feitos com intervenção cirúrgica

Vanessa de Oliveira
17/02/2018 | 07:00
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Agência Brasil


Embora a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomende que apenas 15% dos partos sejam realizados por meio de cesáreas, 63,23% dos nascimentos no Grande ABC foram feitos via intervenção cirúrgica em 2016. Os dados integram o DataSus (banco de dados do Ministério da Saúde) e correspondem aos números mais atualizados disponíveis. No País, o índice é de 55,6%.

Na contramão do que pede a agência subordinada à ONU (Organização das Nações Unidas), o Grande ABC observou leve aumento nas taxas no período de dez anos – 1,5% (veja mais detalhes na arte acima).

A cesárea, cirurgia de médio porte, é recomendada em casos de complicações para a mulher e para o bebê, no entanto, especialistas atribuem a alta taxa de intervenções do tipo na região à comodidade, compatibilização de agendas entre mães e médicos (principalmente na rede privada), à relativa praticidade do procedimento cirúrgico – que não dura mais do que duas horas –, e também ao receio que muitas mulheres cultivam em relação ao parto normal.

Para a professora responsável pela disciplina de Tocoginecologia da Uninove (Universidade Nove de Julho) Maria Aparecida dos Santos Traverzim, a diminuição do índice depende da “desmistificação do medo da dor durante o trabalho de parto, da utilização de técnicas de alívio do sintoma e do pagamento diferenciado aos médicos para a realização de parto normal em relação ao parto cesárea”.

Na visão do professor de Obstetrícia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Mauro Sancovski, tem sido feito trabalho constante de conscientização das equipes médicas e da população. “Temos trabalhado com parto humanizado para que a paciente tenha a menor intervenção possível.”

No entanto, há casos em que a cesárea se faz necessária. A profissional de RH (Recursos Humanos) Ariane Aparecida Negrão, 31 anos, de Mauá, submeteu-se ao procedimento cirúrgico para dar à luz sua primeira filha, há dois anos. “Optei por parto normal, mas após algumas horas de trabalho de parto e nove dedos de dilatação, a bebê virou e os batimentos cardíacos caíram para 34 por minuto, quando deveriam ser 134”, conta. Grávida do segundo filho, ela espera que desta vez consiga ter a criança via parto normal. “Acredito que seja melhor para a saúde e para a recuperação.”

 

ESFORÇO

As secretarias de Saúde da região afirmam que atuam para a redução do quadro ainda longe do ideal. Em Santo André, no Hospital da Mulher, a taxa de cesáreas em 2017 foi de 37,7%, de total de 4.367 nascimentos. “Esse número resulta do trabalho das equipes de Saúde básica para ampliar o atendimento pré-natal”, informou a Pasta.

São Bernardo ressalta que, no HMU (Hospital Municipal Universitário), 60% dos partos são normais. O equipamento possui duas salas individuais de pré-parto sob conceito de concepção humanizada.

Em São Caetano, a gestão destaca que promove campanhas rotineiras de esclarecimento, como cursos para gestantes.

Ribeirão Pires observou que a rede de Saúde conta com ginecologistas e obstetras, além de exames laboratoriais e de imagem, que permitem a detecção precoce de fatores de risco. As demais cidades não retornaram.

 

Com o objetivo de reverter situação, OMS anuncia 56 recomendações

A OMS (Organização Mundial de Saúde) anunciou 56 medidas que objetivam minimizar o número de partos feitos por meio de cirurgia.

Um dos alertas é que a dilatação cervical precisa ser repensada. O ritmo de um centímetro por hora de dilatação na primeira fase do trabalho de parto – padrão usado para medir o progresso do caso – seria “irrealista” para algumas mulheres e poderia ser “inexato para identificar gestantes sob risco”.

Pelas novas recomendações da OMS, taxa de dilatação mais lenta não deve ser indicador de rotina para determinar se uma intervenção deve ou não ocorrer para acelerar o trabalho de parto.

A OMS ressalta que o envolvimento da mulher nas decisões do trabalho de parto poderia mudar essa realidade. A entidade pede que os médicos informem às grávidas sobre a duração do parto.

A organização frisa ainda que uma redução no número de cesáreas desnecessárias liberaria recursos para casos nos quais o risco é real. 




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