A indústria calçadista brasileira, em queda de produção há cinco anos consecutivos, deverá reverter o sinal negativo em 2010, segundo a expectativa de executivos do setor. Medidas governamentais para limitar a importação de calçados da China e o aquecimento do mercado interno tiveram efeitos sobre o desempenho deste segmento já no quarto trimestre do ano passado.

Após queda de 15,7% na produção no primeiro semestre e recuo de 8,5% no terceiro trimestre de 2009, a produção calçadista aumentou 11,5% nos últimos quatro meses do ano passado, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O diretor executivo da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), Heitor Klein, explica que a reação do setor reflete a expansão do mercado doméstico e, sobretudo, a medida provisória de antidumping editada pelo governo federal em setembro de 2009, que passou a nivelar em US$ 12,47 o par de calçados procedentes da China.

Segundo dados da Abicalçados, com a norma, que Klein espera que torne-se definitiva a partir da próxima semana, no ano passado foram importados 9 milhões de pares a menos do que no ano anterior. Em 2008, foram importados pelo País, sobretudo da China, 39 milhões de pares, ante 30 milhões no ano que passou.

Klein explica que, com a redução das importações, o emprego no setor voltou a subir. Dados também apresentados por ele apontam aumento de 4% no número de vagas nas indústrias de calçados em 2009, ante o ano anterior.

Segundo o executivo, o mercado interno, destino de 75% dos calçados produzidos no País, tem ajudado bastante na recuperação do setor, sobretudo com os produtos nacionais tomando espaço dos importados. "A venda de calçados depende de renda e o aumento da massa salarial impulsiona o setor", explica.

Apesar do otimismo com o desempenho das vendas no mercado interno neste ano, Klein acredita em prosseguimento das dificuldades no Exterior. Segundo ele, as exportações do setor caíram 28% no ano passado ante 2008, por causa da valorização do real e a retração da demanda mundial em meio à crise.

EMPREGOS - No Polo Calçadista de Birigui, São Paulo, principal produtor de calçados infantis do País, a expectativa é que o emprego retorne ao nível de 2008 este ano, após perda de 2.000 postos de trabalho em 2009.

O presidente do Sinbi (Sindicato das Indústrias de Vestuário e Calçados de Birigui), Sérgio Gracia, afirma que o segmento empregava 19,5 mil pessoas em 2008, tendo reduzido para 17,5 mil no ano passado. Até o fim do ano, os postos perdidos, segundo ele, serão restabelecidos.