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Amor de outros carnavais
Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
04/01/2010 | 07:03
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Dalva de Oliveira e Herivelto Martins protagonizaram um dos capítulos mais importantes da história da música brasileira: o período do samba-canção. E é essa história que a Globo apresenta de hoje à sexta-feira, às 22h, em Dalva e Herivelto, Uma Canção de Amor.

Escrita por Maria Adelaide Amaral e com direção de Dennis Carvalho, a minissérie focaliza o amor do casal e um dos períodos mais relevantes da história cultural do País. Adriana Esteves e Fábio Assunção, que interpretam o casal protagonista, voltam até 1937, período em que surge o Trio de Ouro, grupo musical fundado por Herivelto com o amigo Nilo Chagas (Maurício Xavier) e que encontrou na voz de Dalva a equação do sucesso. Canções como Ave Maria no Morro, Praça Onze e Ceci e Peri, além de inúmeras marchas carnavalescas, marcam o tempo áureo do conjunto.

Até então, a carreira do trio, separadamente, era inexpressiva. A música brasileira, no período, não ultrapassava o samba e o carnaval. Carmen Miranda fazia sucesso entoando seus sambas-exaltação (reza a lenda que Dalva, antes de ser famosa, colocou os agudos em gravações da Pequena Notável). Aracy de Almeida já era porta-voz do poeta da vila, Noel Rosa. Aracy Cortes era uma famosa atriz do então chamado Teatro de Revista, espetáculos musicais realizados em teatros e inspirados em folhetins populares.

Dalva e Herivelto vieram consolidar um gênero que liderou as audiências até a década de 1960, período em que a bossa nova derrubou as orquestras de sopros e cordas e as vozes impostadas da era de ouro do rádio.

O canto de Dalva, peculiarmente agudo, foi escola das cantoras que vieram depois: Dolores Duran, Angela Maria, Elizeth Cardoso, Maysa, Maria Bethânia. Esta última, sobre Dalva, confessa: "As seguidoras de Dalva são todas as cantoras do Brasil. Através dela, tivemos a bênção de entender cantar o amor".

NA TELINHA - A história, na televisão, começa no final da vida de Dalva de Oliveira, morta em 1972, agonizando de câncer em uma cama de hospital. A cantora está à espera do seu grande amor, Herivelto Martins, de quem se separou em 1949. Enquanto espera pelo ex-marido, que nunca chegou, a cantora rememora toda sua história.

Da formação e do sucesso do Trio de Ouro, que capta um dos cenários mais efervescentes da cultura brasileira, o período em que o rádio dominava a comunicação no mundo, dos famosos shows realizados em cassinos e dos blocos carnavalescos de rua, Dalva chega até a maternidade, a carreira solo, o apogeu do seu sucesso e o declínio de sua trajetória.

Separados - em uma atitude que escandalizou a sociedade da época e que foi ecoada através da mídia, aumentando o rebuliço para cima dos dois -, eles passaram a se bombardear nas canções que compunham e executavam. No duelo musical Dalva entoava Errei Sim, Tudo Acabado e Abajur Lilás. Enquanto Herivelto contra-atacava compondo Caminho Certo, Vingança e Palhaço.

FINAIS INFELIZES - A briga era tão partidária quanto a das rainhas do Rádio, Marlene e Emilinha Borba. Quem tomasse partido de Dalva, era porque enxergava no amor sem limites o maior consolo da vida. Do lado de Herivelto, moralistas que acusavam Dalva quase que de prostituta, por causa do desquite, de sua mania de beber e sua carreira independente.

Herivelto, depois de um tempo, progressivamente foi se afastando da mídia, enquanto Dalva foi firmando-se como uma das vozes mais importantes do País com sucessos como Kalu, Que Será? e Bandeira Branca.

A partir da década de 1960, novos estilos musicais, como bossa nova e rock and roll, viriam moldar a conduta da nova geração, que se exibia agora através da televisão. Com isso, Dalva foi excluída do meio musical. Acabou considerada datada e cafona, calando, aos poucos, a voz que fez trilha, durante décadas, de muitos carnavais e amores no Brasil.




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