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Culto ao ódio
Por Rodolfo de Souza
03/10/2019 | 07:00
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Deu no noticiário que a polícia tirou a vida da menina que estudava, dançava e dava muito orgulho à família, agora desesperada. Ela morava na favela, e a cor de sua pele não contribuía muito, por colocá-la em desvantagem frente ao órgão que fora criado unicamente para seguir os preceitos da lei, mas que ora esbanja autoridade, de fuzil em punho e dentes à mostra. Soberba para pobres, em especial, os negros.

Mas a menina não tinha idade para discernir sobre as contingências da vida, que implicam também em muito ódio. Como toda criança, ela sonhava e fantasiava. Seu sorriso, eternizado pela foto, revela uma felicidade que por certo viajou com ela para as estrelas.

Deu ainda no noticiário a atuação de um soldado que apeou da viatura apontando arma de grosso calibre para os transeuntes. Ameaçou-os com gritos e gestos de quem tinha licença para agir daquela forma. Afinal, discursos que propagam o ódio servem para isso, sobretudo, se proferidos por quem está no comando. E o sujeito, valente e histérico que só vendo, vociferou e deixou claro sua intenção de meter uma ou várias balas no coro de quem, segundo seu precário julgamento, fosse considerado suspeito. Andava de um lado para o outro como fera, e deixava de olhos assustados os que tiveram o azar de passar por ali naquele momento de fúria do profissional da segurança pública, que se empregara um dia para exercer a nobre função de proteger as pessoas. Teria se esquecido de fazer a lição de casa, penso eu.

E deu no noticiário também o caso do procurador que confessou ter entrado no recinto da Suprema Corte, portando arma de fogo. Tencionava tirar a vida de outro magistrado. Talvez não fosse com a cara do sujeito, afinal.

No avião, o político fora duramente agredido por indivíduo que, sentado ao seu lado, usou de palavras ofensivas para denegrir a sua imagem. Achincalhou com desprezo o homem que só queria viajar. Na verdade o agressor tivera sua opinião construída segundo o que ouvira dizer, ou seja, sem bases sólidas. Fora, sem dúvida, movido pelo ódio gratuito.

Assim é, pois, esse sentimento que sempre conduz ao rancor e à tristeza. É mesmo coisa antiga. Remonta os tempos em que o homo se tornou sapiens, atravessou séculos, esteve em alta nas duas grandes guerras, e agora retorna com força total.

E o que se viu até agora neste breve comentário, serve só para fazer mergulhar o leitor numa reflexão em torno de problema que vem engolindo por uma perna esta pobre e desamparada Pátria, e que até já ganhou um ar de normalidade. Falo obviamente do lado violento da personalidade humana, sempre propenso a lançar mão da força bruta como forma de fazer valer a sua opinião acerca de fato qualquer.

E essa cultura do ódio nasce a partir de um comportamento que normalmente provém de pessoa pouco esclarecida, desprovida de senso crítico e fadada à violência para se fazer ouvir e obedecer. Gente que promove a idolatria de líderes, seus pares principalmente na arrogância. Talvez seja sua principal estratégia, enfim, a arrogância, que faz o ser humano se sentir eternamente melhor do que o seu semelhante. Pura bobagem!




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