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Vida toda de cantoria

Músico andreense de 80 anos, Lauro Braz é dono de mais de 700 composições

Vinícius Castelli
13/01/2019 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Cabeça e mãos de Lauro Braz não param de criar. A inspiração, quando chega para ele, não avisa. Ele corre, então, em busca de caneta, lápis e pedaço de papel qualquer, ainda que seja aquele que embrulhou o pão do dia anterior. Natural de Itapuí, no Interior de São Paulo, e andreense de coração, o morador do Parque Jaçatuba, no auge dos 80 anos, é compositor ferrenho e dono de vasto vocabulário.

Mas sua história com a arte, mais especificamente com a música, vem de longe. Aos 4 anos já cantarolava no dia a dia, por exemplo, temas de Tonico & Tinoco, dupla cujo trabalho Braz tem paixão até hoje. Aos 14 começou a escrever as primeiras músicas. Algumas das canções que criou foram além do papel e estão imortalizadas no primeiro e único disco que registrou, em 1979, batizado Cidade Progresso, cuja faixa título é homenagem a Santo André. Há ainda temas como Coração Caboclo, ao lado de Tonico.

A obra não é assinada com seu nome de batismo, mas como é conhecido no universo artístico: Sumaré. Fez o álbum ao lado do companheiro Pedro Bassani, que assinava sob o pseudônimo Jaçanã. O álbum da dupla sertaneja, ilustrado por 12 canções e lançado pelo famoso selo Continental, é raridade.

“Na época do lançamento fizemos várias apresentações na televisão, na Bandeirantes. Fomos no programa do Carlos Aguiar, na época na Gazeta, e também no do Geraldo Meirelles, na Record. E tinha um show ou outro aqui e ali”, recorda Braz.

A dupla, no entanto, teve início bem antes disso, em 1954. À época, quem assinava como Jaçanã era Sebastião Palma. O trabalho de Sumaré e Jaçanã seguiu até 1996, quando Bassani morreu. Apesar da perda, Braz não parou de escrever.

Hoje em dia tem na atividade da escrita de canções algo que faz bem. “É uma terapia para mim. Quando aparece (a ideia), tenho que escrever na hora. Rabisco onde for. Faço o rascunho e depois passo para o computador. Daí, meu filho Evandro tira cópias, faz caderninhos com todas as músicas e tudo está separado por décadas”, explica o compositor, feliz pelo herdeiro, que é fã da banda britânica Queen, participar da rica produção.

Hoje em dia, o veterano músico, que também toca violão e admira compositores como Noel Rosa e Ataulfo Alves, possui cerca de 700 canções escritas. As coisas mais antigas ele conta que jogou fora. “Um amigo até perguntou onde coloquei para ele ir lá buscar”, brinca. Braz gosta de escrever sobre o Interior, da roça, de boiadas. Mas vai além. Uma das músicas, inclusive, feita no fim de 2018 e cantarolada para a equipe de reportagem, é uma resposta à canção Samba do Arnesto, de Adoniran Barbosa e cantada por décadas, até hoje, pelo grupo Demônios da Garoa.

O tema original conta de Arnesto, que convidou grupo para um samba no bairro do Brás, em São Paulo. A turma, ao chegar lá, não encontrou ninguém. O personagem, depois, se desculpa, mas a turma não aceita. Para resolver a questão, o andreense coloca Arnesto, mais uma vez, diante dos colegas para lhes explicar o motivo de seu atraso e para que as coisas fiquem bem entre todos.

Uma das vontades de Braz, hoje em dia, é ver suas canções registradas por outros nomes da música. “Muitos dos que eu gostava já se foram”, diz. O universo atual dos sertanejos universitários ele diz não ser seu estilo. “Sou mais raiz”, enfatiza.

Craveiro e Cravinho é uma dupla que deixaria Braz feliz se gravasse um de seus temas. Mas quando fala sobre seu maior sonho, não pensa duas vezes em citar o Demônios da Garoa gravando sua canção. “Poxa, vida. Já pensou se conseguisse?”, encerra.




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