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Coleta de leite humano porta a porta salva vidas

Diariamente, equipe de profissionais visita doadoras e recolhe material para bebês internados na UTI

Por Bianca Barbosa
Especial para o Diário
02/09/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Vestida de branco dos pés até o sorriso, a técnica em nutrição Kátia Cristina China, 49 anos, responsável pela coleta de leite materno excedente em residências de São Bernardo, trabalha das 7h às 16h de casa em casa, para se certificar de que o banco de leite do HMU (Hospital Municipal Universitário) tenha estoque suficiente para oferecer o material aos bebês internados. Faça chuva ou sol, ela e outras 13 técnicas da cidade chegam a visitar até dez casas por dia.

Kátia é adorada pelas mamães que visita toda semana. Ela trabalha neste ofício há 16 anos, fez parte da primeira equipe de técnicas em nutrição do Banco de Leite do HMU. Foi aprovada em concurso público para o banco de leite e se apaixonou pelo trabalho. Desde então, cuida desde a coleta nas casas das doadoras até o fracionamento do leite para os bebês, a pasteurização do alimento e os cuidados com os pacientes. “Fiquei um pouco assustada no início, não sabia se ia conseguir dar conta do recado. Hoje, digo que tenho até ciúmes do meu local de trabalho”, contou.

Independentemente do clima, o trabalho da equipe deve ser realizado durante 24 horas por dia, de domingo a domingo. “Adoro o que faço, principalmente na casa das doadoras”, revelou Kátia.

O trabalho faz com que técnicas e doadoras se tornem amigas. Mesmo quando a doação termina, e as funcionárias deixam de visitar os lares, elas continuam se comunicando. “Sempre tem alguém que me para na rua e fala: você foi na minha casa”, ressaltou.

VISITA AMIGA
O serviço do banco de leite é facilitar ao máximo a doação para as mães. Por isso as técnicas vão até a casa das doadoras para buscar os potes com leite e levar os objetos vazios e esterilizados. Cada um comporta meio litro de leite.

Na sexta-feira, a equipe do Diário acompanhou a visita de Kátia à casa da química Rosângela Camargo da Silva, 36, que a recebeu com um abraço que envolveu até o pequeno Luiz Roberto, 3 meses.

O procedimento costuma ser rápido. As duas conversam sobre o bebê e, caso a mãe tenha alguma dificuldade com a coleta, a funcionária a orienta.

“Acho que todas as mães deveriam doar leite. Os nutrientes que a mãe passa para o bebê são o que ele precisa para ter saúde. Meu filho nunca ficou gripado, nunca teve febre ou reação de vacina”, contou Rosângela.

Segundo Kátia, o peito da mulher durante o período de amamentação é uma ‘caixa d''água’, que precisa ser esvaziada. “Ao contrário do que muita gente pensa, quanto mais leite é retirado do peito, mais se estimula a sua produção e menor é o risco de empedrar.”

Kátia e Rosângela se encontram a cada 15 dias, período entre uma visita e outra. Segundo a química, a sensação de doar é a melhor possível. “Fico imaginando que o bebê que tomou o meu leite tem os mesmos anticorpos do meu filho. Divido ele com outras crianças, me sinto mãe de várias outras crianças”, falou, emocionada.

Bancos do Grande ABC têm estoque abaixo do ideal

Embora o estoque de leite humano do HMU (Hospital Municipal Universitário) de São Bernardo esteja em situação confortável, com média de 200 litros de alimento a cada mês e 200 doadoras cadastradas, os demais equipamentos da região precisam da colaboração de mães com leite excedente.

É o caso do banco de leite do Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein, em Santo André, que possui capacidade de estoque para 100 litros, mas que no momento conta apenas com 45 litros armazenados. Conforme o centro de Saúde, desde a sua implantação, no fim de 2008, 45 bebês já foram beneficiados por mês. O local possui 108 doadoras registradas.

Também em Santo André, o Hospital Estadual Mário Covas está com seu estoque em estado crítico, com apenas 25 litros disponíveis. O ideal, conforme o equipamento é alcançar a marca de 80 a 100 litros. “A capacidade de armazenamento da unidade é de 140 litros. Por isso, o hospital convida as mães da região que estão amamentando a doarem o leite excedente.”

A Prefeitura de Mauá informou que o Hospital Dr. Radamés Nardini tem setor de coleta de leite, mas não é um banco de leite. Ribeirão Pires não possui banco de leite, mas utiliza os serviços do HMU e promove ações para conscientizar e orientar moradoras sobre o aleitamento materno.




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