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Artesanato fotográfico ganha destaque em exposição
Por Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
30/05/2005 | 07:54
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Em tempos de proliferação da imagem digital, é o fazer artesanal da fotografia que ganha destaque na nova exposição do Itaú Cultural, em São Paulo. A série Caixas de Quase Nada - Inscrições de D. Cândida contém 16 imagens produzidas no Rio pela fotógrafa Fátima Roque, de Santo André, por meio da primitiva técnica do pinhole (basicamente uma caixa escura cuja entrada de luz se dá por um pequeno orifício feito por agulha). A visitação começa na terça-feira e segue até 10 de julho - a abertura, só para convidados, é nesta segunda-feira à noite.

Conhecido pela atenção que dedica à relação entre arte e tecnologia, o Itaú Cultural abre espaço para os primórdios da fotografia. Desde o "ver invertido", descoberto há centenas de anos, até a fixação da imagem, que se deu no século XIX. A exposição não é didática, mas essas informações estão embutidas no trabalho da artista.

Fátima utilizou duas latas de presente (cerca de 20cm) para fazer a captação. Durante três anos, viajou pelo menos 30 vezes à capital fluminense - algumas delas exclusivamente para a série - e fez cerca de 200 fotos. "Fazia as imagens sem muito compromisso, sem tema específico. Saía sem preocupação com hora. É um prazer imenso", afirma.

O cenário é o Rio a partir do ano 2000, visto sem aquele olhar de exaltação do potencial turístico. As cenas, nebulosas e manchadas, causam estranhamento. "A idéia é provocar sensações, mesmo que seja o desconforto de uma imagem com marcas de dedo", diz. As manchas são por causa do derretimento da emulsão, que é uma das camadas do filme. "Usei papel fotográfico P.B. (preto-e-branco) e manuseava dentro de um saco preto. Com o calor do Rio a emulsão acabava derretendo. O resultado é esse aspecto deteriorado", explica a fotógrafa.

As latas de Fátima não contêm lente, apenas um furinho de agulha em papel alumínio. "Essa exposição tem a ver com a matéria, o fazer, o mais simples", diz. A paixão da artista pelo processo artesanal não significa preconceito contra técnicas modernas, como a digital. "É só uma escolha de expressão, não de equipamento. Serve apenas como meio para chegar onde quero".

Fátima ainda leva para a mostra uma câmera escura - uma caixa de madeira de 40cm x 30cm - para que o visitante possa manusear e conhecer o pinhole. Outro atrativo é a projeção de uma imagem. Duas das fotos expostas foram premiadas, ano passado, no 32º Salão de Arte Contemporânea de Santo André. A artista também ganhou prêmio no 10º Salão de Arte Contemporânea de São Bernardo, com outro trabalho, em 2004.

Projeto - A exposição de Fátima inaugura a segunda edição do projeto Mezanino de Fotografia, realizado pelo Itaú Cultural com curadoria de Helouise Costa. Depois da artista de Santo André, o espaço receberá trabalhos de Patrícia Yamamoto (26 de julho a 11 de setembro) e de Marcelo Vaz (27 de setembro a 11 de novembro).

Este ano, o Mezanino tem como novidade o diálogo com a literatura. O curador literário Nelson de Oliveira escolheu a escritora pernambucana Adrienne Myrtes para produzir um texto inspirado nas fotos de Fátima. O resultado é Cavalo-do-cão, publicado no folder da mostra. "Nem conversamos antes e o conto que ela fez tem tudo a ver com o trabalho", afirma a fotógrafa.




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