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Encantos de Lisboa

Capital, porta de entrada da Europa, é das mais econômicas e explica muito sobre as origens brasileiras

Por Soraia Abreu Pedrozo
03/03/2016 | 07:00
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Ari Paleta/DGABC


 Lisboa é daqueles lugares que dá vontade de visitar muitas vezes na vida. Primeiro porque não tem preço a sensação de estar em território europeu e falar praticamente o mesmo idioma – praticamente porque, se falado rapidamente, algumas palavras são incompreensíveis e há muitas delas com significados diferentes dos nossos, o que gera boas risadas. Tanto que os portugueses dizem que nossa língua é brasileira. Da qualquer forma, faz com que a gente se sinta em casa.

Segundo porque a cidade, porta de entrada do continente, é uma das mais econômicas da Europa – e mesmo que não se pretenda, em uma primeira viagem, explorar os inesquecíveis encantos do país, pode ser incluída em qualquer roteiro de uma euro trip, a partir de escala de alguns dias, só para deixar um gostinho de quero mais.

Terceiro porque a capital dos alfacinhas (como são chamados os nascidos em Lisboa) e seus arredores – o que inclui Sintra e Queluz – são muito sedutores. Sob vários aspectos. É lá que está o berço dos nossos costumes, nomes e sobrenomes, e de muitos dos nossos ascendentes. Explica muito sobre quem somos. Mesmo quem não é aficionado em história volta fascinado e com vontade de pesquisar mais sobre as origens. Sem contar que é puro colírio para os olhos, com seus monumentos centenários e as dezenas de mirantes em praças situadas em locais estratégicos com vistas inesquecíveis, a exemplo do de São Pedro de Alcântara. E a comida? Ah, a comida... é um capítulo à parte. Ainda quando não se senta à mesa para comer direito e se opta por refeições rápidas em padarias, por exemplo, é de lamber os beiços.

BOM O ANO TODO - Por estar próxima ao mar, Lisboa tem temperaturas agradáveis o ano todo. O frio geralmente é mais ameno do que em outras cidades europeias e, com a roupa certa (casaco, cachecol e botas bastam), é facilmente encarado. É quando se tem a beleza das paisagens bucólicas dos galhos secos e das folhas no chão. A única desvantagem é que, por volta de 17h, escurece nos meses de outono e inverno. Porém, o clima é mais favorável para degustar a extensa carta de vinhos portugueses – com destaque para os do Alentejo, Azeitão e Douro –, e do extraordinário queijo da Serra da Estrela, feito de leite de ovelha, que derrete na boca e a enche d’água só de lembrar – além de outras iguarias oriundas do mesmo leite ou do de cabra.

O calor pode ser bem intenso, mas vem acompanhado de um ventinho gostoso e conta com muita sombra, já que a capital é margeada pelo Rio Tejo e é extremamente arborizada. E a maior vantagem no período de primavera e verão é o dia muito longo, pois o Sol se põe lá pelas 21h. Dá para fazer muita coisa ao ar livre. E, aprender a degustar – e driblar os espinhos – das tipicamente portuguesas e saborosas sardinhas, acompanhadas das refrescantes cervejas Super Bock e Sagres, além do tradicional vinho verde. É giríssimo (muito legal), ora pois!

Como se estivéssemos em casa, só que não

Ao pisar em solo lisboeta nós, brasileiros, temos admiração e identificação imediatas com o local. É como se fosse um pouco nosso também – até porque, durante 322 anos, até o dia do Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, quando Dom Pedro I proclamou a Independência do Brasil, éramos colônia de Portugal, portanto, nossa metrópole é grande influenciadora de nossos costumes. E com belezas singulares devido às construções seculares que estão incrivelmente preservadas, mesmo após a tragédia mais lembrada pelos alfacinhas, o terremoto de 1755. A calamidade veio acompanhada de tsunami e muitos incêndios, devastou o centro da cidade e destruiu a maioria das igrejas – é verdade que muitas coisas foram reconstruídas, mas mantiveram-se fiéis aos conceitos arquitetônicos da época em que foram erguidos; outras, foram redesenhadas, caso das ruas centrais, que deixaram para trás o aspecto medieval de vias estreitas para ganhar espaços mais largos e organizados, mantidos até hoje.

Um marco que, em partes, ‘sobreviveu’ à catástrofe foi o Convento do Carmo, erguido em 1389 que, pelo fato de não ter sido reconstruído, passou a ser conhecido como Ruínas do Carmo. O espaço é mantido para visitação (3,50 euros a entrada), como espécie de testemunha da tragédia, com seus enormes arcos neogóticos em um pátio, que devido à grandeza podem ser observados lá de baixo, da Praça do Rossio, um dos principais e mais agradáveis locais do Centro – para subir até la basta encarar a fila e tomar o Elevador da Santa Justa.

Deste mesmo ponto se, em vez de olharmos para a direita, de quem está indo sentido Rio Tejo, olharmos para a esquerda, o queixo cai um pouco mais, pois tem-se a vista de uma das mais lindas construções portuguesas, o Castelo de São Jorge. Construído em meados do século 11, por muçulmanos que dominavam a Península Ibérica à época, por isso a forte influência árabe nas edificações, o local era uma fortaleza que abrigava as elites que ali viviam. Por estar bem no alto do bairro de Alfama, tem-se uma das mais emblemáticas vistas panorâmicas da cidade e do Rio Tejo. Foi morada de reis dos séculos 13 ao 16. De 17 ao 20, abrigou quartéis militares. Hoje, é aberto ao público (ingresso custa 8,50 euros). Para ir até lá, é possível se aventurar a pé pelas vias de pedra e subindo uma longa escadaria ou esperando o eléctrico (bonde) 12 ou 28 – o que, dependendo do dia, requer certa paciência. Mas é uma delícia se perder entre as ruelas, observar os varais com roupas para o lado de fora e a vida cotidiana de quem é abençoado por morar ali.

Aliás, não à toa Lisboa é conhecida como a cidade das sete colinas, pois tem sete delas bem íngremes, que dão canseira em qualquer um, mas rendem vistas lindíssimas. Descendo o morro, literalmente, em Alfama, é possível passar por inúmeras lojinhas de souvenirs – dominadas por imigrantes de Bangladesh –, onde é preciso, muitas vezes, treinar o inglês, já que boa parte não passa nem perto de falar o Português.

A graça está em descer sem se preocupar com o tempo, apenas passeando e adquirindo ímãs de geladeira do Galo de Barcelos, abridores de garrafa ou, ainda, rolha de garrafa de vinho (a cortiça também é tradicional de lá) – a lenda lusitana diz que o animal é símbolo de inocência, justiça e que traz boa sorte, por isso, muitos dos turistas o levam para dar de presente. Ainda, é possível investir nas lindas imagens coloridas de Santo Antônio que, a propósito, nasceu ali. Tanto que a Igreja de Santo Antônio foi construída no local em que veio ao mundo, próximo à Catedral da Sé.

Inesquecível festejo de Santo Antônio

Se estiver em Lisboa lá pelo dia 13 de junho, dia em que o santo da Igreja Católica conhecido por sua fama de casamenteiro morreu, já em Pádua, na Itália, vai testemunhar grande evento. Na verdade, junho inteiro é marcado por festas em Lisboa. As ruas ficam todas enfeitadas. Na data, é feriado, e praticamente nada abre. Na véspera, porém, Dia dos Namorados para os brasileiros – que no Hemisfério Norte é comemorado em 14 de fevereiro com o nome de Valentine’s Day ou dia de São Valentim – a festa toma conta das ruas, em vários bairros.

A Avenida Liberdade, uma das principais da cidade, é fechada para os desfiles das marchas populares. Parece-se muito com o nosso Carnaval, guardadas as devidas proporções, com fantasias, alegorias e muita música, sempre com temáticas que exaltam as riquezas e a cultura portuguesa. Cada bairro lisboeta tem sua equipe, que se prepara durante o ano todo para a apresentação. Eles disputam entre si a mais bonita e com o canto mais contagiante. É um pouco inocente e, ao mesmo tempo, muito bonito de se ver, pois mostra o orgulho de suas origens. É emocionante.

Mais tarde, na virada da noite, é quando se tem a oportunidade de comer a sardinha assada no pão, muito típico da festa, e o tradicional caldo verde. As solteiras jogam moedas na escultura de Santo Antônio, em frente à igreja, para conseguir matrimônio. As que já têm um par, geralmente são presenteadas por vasos de manjericão com plaquinhas de dizeres românticos e cravos de papel. Tanto que há inúmeras bancas vendendo os vasinhos e as flores pelas ruas abarrotadas de gente.




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