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Conversa na Varanda - O amor na História XI
Regina Navarro Lins
Especial para o Diário
03/02/2008 | 07:04
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Os jovens dos anos 1960 e 1970 temiam a hipocrisia e queriam preservar a espontaneidade e o frescor da existência. Compreendiam que a vida sexual de cada um é assunto privado. A valorização da individualidade vai colocar os valores tradicionais em xeque. Houve mais celebração do sexo em 20 anos, até o começo dos anos 1980, do que em qualquer outro período da história. Os antigos laços – a família, a comunidade, a igreja – se rompem, e o sexo substitui, só ele, todos os valores que se desmoronam.

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com a destruição de Hiroshima e Nagasaki, a ameaça da bomba atômica paira na cabeça dos jovens. Com o sentimento de insatisfação que isso provoca, eles começam a questionar os valores de seus pais. Muitos deles, principalmente nos Estados Unidos, se recusam a dar continuidade a um estilo de vida que consideram medíocre e superficial. Ao contrário de se enquadrar nos papéis determinados pela sociedade, estavam dispostos a buscar uma verdadeira liberdade, com emoções diferentes e novas sensações. Surge a Geração Beat, composta de jovens intelectuais norte-americanos que, em meados dos anos 1950, resolvem – regados a jazz, drogas, sexo livre e pé naestrada – fazer sua própria revolução cultural através da literatura.

O rock liberou toda a juventude do conformismo. Imoralidade, luxúria, sexualidade desenfreada, estas palavras enchiam as manchetes dos jornais. O rock incentivou o comportamento rebelde em relação à sociedade, um comportamento ofensivo para os conservadores. Os jovens não perdiam tempo no momento em que seus hormônios fervilhavam.

O rock’n’roll se expande. Quando Elvis Presley rebolava sensualmente, e a TV da época só podia mostrá-lo da cintura para cima, era sinal de que a revolução sexual estava começando. Os beats abriram essa porta e a geração seguinte fez muito sexo ao som de Jimmi Hendrix ou com a voz rouca de Janis Jo-plin ao fundo. Mas essa mudança só foi possível porque o desenvolvimento tecnológico permitiu que um novo produto chegasse ao mercado.

A pílula anticoncepcional é a principal responsável pela mudança radical de comportamento amoroso e sexual observado a partir dos anos 1960. O sexo foi definitivamente dissociado da procriação e aliado ao prazer. As mulheres se libertaram da angústia da maternidade indesejada.

Para os jovens dos anos 1960, a geração que ficou conhecida por seu interesse em sexo, drogas e rock’n’roll, e cujo slogan favorito era make love, not war (faça amor, não faça guerra), o sexo vinha indiscutivelmente em primeiro lugar. A busca era por uma gratificação sexual plena. A liberdade sexual foi o traço de comportamento que melhor caracterizou o Flower Power. Os jovens contestam os costumes e os padrões de nossa sociedade judaico-cristã, nossas tradições e preconceitos. Enfim, nossas instituições sociais. A palavra de ordem era drop out – cair fora do sistema – , já que havia a recusa do modo de vida burguês, considerado careta.

Essa geração foi a primeira a colocar em questão a tradição do amor romântico, passivamente aceita pelas gerações anteriores. A descoberta da possibilidade de se amar várias pessoas ao mesmo tempo e ter uma vida afetiva mais rica, mais diversificada foi a grande revelação. Todo mundo podia transar com todo mundo. A liberdade inédita, a famosa permissividade da contracultura, foi duramente criticada pelas gerações anteriores como promiscuidade e degeneração.

A contracultura foi um acontecimento essencialmente pacífico. “Pela primeira vez na história da humanidade, enormes massas humanas, mais especificamente jovens, informalmente se organizaram em todo o mundo ocidental, para lutar com paz e amor. Não exatamente contra a miséria e a fome. Contra temas que em geral vêm oprimindo os homens desde os primórdios das sociedades humanas, independentemente da classe social a que pertençam. Depois dela, passamos a lutar por um novo modo de viver já. Aqui e agora. A contracultura plantou uma nova idéia de família, de casamento, das relações sexuais; de uma outra atitude para com a natureza, para com o próprio corpo e para com Deus”, diz o professor Armando Ferreira Almeida.

Como o renascimento dos séculos 15 e 16, a contracultura alterou as correlações de força na sociedade, desfez preconceitos, ridicularizou falsos poderes, legitimou movimentos que surgiam e criou paradigmas culturais que vieram para ficar, como o modo de vestir, fazer arte e se relacionar. Os movimentos hippie, gay, feminista e o black power surgiram desse renascimento, todos explodindo em maio de 1968, em Paris, como um tsunami de idéias.

Regina Navarro Lins, psicanalista e sexóloga, é autora de O Livro de Ouro do Sexo (Ediouro). E-mail para a coluna: rlnl@uol.com.br. Site: www.camanarede.com.br




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