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O bode de bigode

O caro leitor pode ver que se noticiam os escândalos do Senado como se fossem incomuns, ou como se tivessem sido descobertos agora

Carlos Brickmann
26/07/2009 | 00:00
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Dizem que, em jornalismo, notícia é o fato incomum - por exemplo, um homem morder um cachorro. Não é bem assim: o caro leitor pode ver que se noticiam os escândalos do Senado como se fossem incomuns, ou como se tivessem sido descobertos agora. Mas nada é novidade: a imprensa sabia de tudo, ou devia saber. Pois José Sarney já não foi presidente da República e, como presidente, não distribuiu à vontade concessões de rádio e TV?

E não é só Sarney, não: como diz Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp, nossos políticos agem "como se fossem proprietários da coisa pública". Sarney deu emprego ao namorado da neta; Fernando Henrique, ao marido da filha (que, ao separar-se, deixou o cargo); e, há mais tempo, o governador mineiro Benedito Valadares arranjou um cartório como presente de casamento para o genro, o escritor Fernando Sabino (que, ao separar-se, devolveu o cartório). E, procurando bem, muita gente está ou esteve na boquinha - gente que não é parlamentar mas usou o serviço médico do Congresso, editou livros pela Gráfica do Senado, e periodicamente escolhe um bode expiatório para purgar os pecados de todos.

Muitos se locupletam e querem que a moralidade seja mantida como fachada. É difícil atingir o Bode de Bigode: o senador Gim Argello, ligadíssimo ao Governo, já lhe mandou o recado de que tudo vai dar certo. Se não der, tudo bem: é complicado defendê-lo. E os outros vão continuar na festa.

O SUPER-PREFEITO
João Castelo, do PSDB, prefeito de São Luís do Maranhão, ganha R$ 25 mil mensais - R$ 500,00 acima do teto do serviço público. É mais do que ganha um ministro do Supremo. Castelo, aliás, sempre custou caro: foi ele, quando governador, que ergueu o estádio de São Luís, modestamente batizado de Estádio Governador João Castelo. É tucano, mas não muito: ficou no partido que o aceitou quando seu líder Sarney rompeu com ele.

SEM PILOTO
Não leve a sério as notícias de que Solange Vieira, presidente da Anac (Agência Nacional da Aviação Civil), estuda a reformulação de rotas para pousos e decolagens no Rio, para evitar que a população de bairros elegantes seja incomodada com o barulho. É jogo para a torcida, já que a Anac não tem poder legal para definir rotas. Quem cuida disso é o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), ligado ao comando da Aeronáutica.

POR DEBAIXO DOS PANOS
Um detalhe está passando despercebido: o tiroteio se voltou exclusivamente contra Sarney. Não que ele não mereça, mas por que só ele? Os cento e tantos diretores do Senado, os 80 e tantos funcionários que atendem a cada senador, os empregados que recebem do Congresso e trabalham na casa de Suas Excelências, em Brasília, nos Estados ou até fora do país, as passagens internacionais para senadores, parentes e amigos, a investigação das cumplicidades dos atos secretos, tudo silenciou.

O SUB DO SUB
Acredite; e, se não acreditar, confirme pessoalmente no endereço http://www.presidencia.gov.br/presidente/gabinete_pessoal/quem_e_quem/. No gabinete pessoal do Presidente da República, existe um chefe de gabinete do chefe do Gabinete. O sub do sub se chama Diogo de Sant'Ana.

OLHA A CARTEIRA!
Prepare-se: para financiar gastos como os descritos nas duas notas acima, aliados do governo devem voltar com a idéia da CPMF neste segundo semestre. A desculpa é a de sempre: novas fontes de recursos para a Saúde.

CIRO A SÉRIO
O presidente Lula pediu ao PT paulista que leve Ciro Gomes a sério. O presidente manda e o PT segue suas determinações. Os petistas de São Paulo vão levar a candidatura de Ciro Gomes a sério assim que pararem de rir.

A FALTA QUE JÂNIO FAZ
Fernando Henrique, nascido no Rio mas politicamente paulista, era candidato a prefeito contra Jânio Quadros. Jânio o fulminou, lembrando que Fernando Henrique "nem sabe onde fica Sapopemba". E ganhou a eleição.

NEGOCIAÇÃO FÁCIL
Se alguém esperava encontrar um interlocutor difícil no presidente do Paraguai, Fernando Lugo, enganou-se: o presidente Lula descobriu a maneira mais fácil de negociar com ele. Foi só ceder em tudo e concordar com todas as reivindicações paraguaias. A energia de Itaipu, principal ponto de discórdia, será vendida ao Brasil pelo triplo do preço atual. E o Paraguai deixa de se submeter às cláusulas do Acordo de Itaipu que o obrigam a vender a energia à Eletrobrás: se o preço do mercado livre for maior, pode vendê-la a qualquer empresa brasileira. Pronto: a reunião entre os presidentes de Brasil e Paraguai se realizará em clima de festa e confraternização.




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