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Falta de internet é obstáculo para estudantes no sistema remoto

Alunos de bairros afastados não têm conexão; pesquisa diz que só 23,8% assistem aulas on-line

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
20/09/2020 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


A rotina de estudos do jovem Matheus Silva Bezerra, 18 anos, morador da Vila São Pedro, em São Bernardo, não depende apenas das aulas que cursa no segundo semestre de engenharia química. Depende da estabilidade – ou instabilidade – da sua conexão com a internet. Sem contar com o serviço de grandes operadoras no seu endereço, a família do jovem usa serviço local que não tem atendido às suas necessidades.

O estudante relata que o sinal de internet sempre foi ruim na localidade e que contratar de um grande provedor ficava caro, então, optavam por um serviço que atua apenas na sua região. Quando há algum pico de energia e o fornecimento é momentaneamente interrompido, a internet demora para voltar. “Diversas vezes tive que usar a internet do celular para acompanhar as aulas. Fica travando, é complicado”, reclamou.

A dificuldade em enviar os trabalhos, assistir às aulas on-line, por causa da falta de qualidade do sinal, é uma das coisas que fazem Bezerra cogitar em se mudar do bairro. Os problemas também o fazem ter saudades das aulas presenciais, interrompidas devido à pandemia de Covid-19. “Sinto que on-line não tenho o mesmo ensino presencial”, completou.

O caso dele não é único. levantamento da Apeoesp (Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) junto aos docentes concluiu, em junho, que só 23,8% dos estudantes da rede estadual estavam conseguindo acompanhar o conteúdo. A falta de conexão adequada com a internet é uma das principais razões para a falta de adesão ao modelo proposto pelo governo do Estado.

No bairro Santa Terezinha, também em São Bernardo, o jovem Pedro de Souza Martins, 19, é outro que reclama da conexão. As aulas do curso técnico em logística, concluídas no fim do primeiro semestre deste ano, foram feitas com dificuldades. “Perdi mais de dois terços de algumas aulas por causa disso”, afirmou.

Também em São Bernardo, no bairro Santa Cruz, região pós-balsa, a falta de sinal é um desafio para os estudantes. Mesmo aqueles que usam o aplicativo Centro de Mídias SP, que funciona sem acesso à internet, falta a possibilidade de fazer pesquisas para um trabalho ou tarefa. É o caso do filho de Alessandra Maria da Silva, 40, o estudante do 2º ano do ensino médio Pierre Patrick da Silva, 18. “A gente tem (internet), mas não dá para usar sempre que quer, porque oscila muito o sinal”, reclamou Alessandra.

No bairro Parque Real, em Diadema, a estudante Geovanna Gomes Silva de Assis, 14, está no 8º ano do ensino fundamental em uma escola particular e já chegou a quase perder o prazo de envio das respostas de uma prova por causa da falta do sinal da internet. “A gente reclama, o técnico vem, mas não melhora. Tem dias que só consigo assistir a aula se usar a internet do celular”, reclamou.

O Diário questionou as duas empresas que prestam serviços de internet fixo para os entrevistados. Por meio de nota, a Vivo informou que no dia 8 de setembro,  alguns clientes do Grande ABC podem ter encontrado dificuldades ao utilizar os serviços de telefonia fixa, banda larga e dados, devido a falha nos equipamentos que atendem a região. Segundo a empresa, foi uma falha pontual e o serviço já foi normalizado. “A Vivo orienta a população para que entre em contato quando identificar problemas ou irregularidades”, completou o comunicado.

Já a Claro informou, também por meio de nota, que sua rede está funcionando normalmente no  Grande ABC e que a operadora investe constantemente em qualidade e expansão de sua cobertura. A empresa afirmou também que firmou parceria com a plataforma Descomplica para que estudantes pudessem ter acesso a conteúdo de preparação para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). O acesso é gratuito para clientes da operadora e sem consumo de dados.

Na região, apenas duas cidades estão prontas para instalar antenas 5G

Enquanto a internet banda larga ainda é de baixa qualidade no Grande ABC, o País se prepara para ingressar na tecnologia 5G, a mais avançada em telefonia celular e que promete mais velocidade de navegação. O governo federal deve realizar no ano que vem o leilão de frequências (para determinar como cada operadora vai operar a sua rede), mas apenas duas cidades do Grande ABC já estão com a parte de legislação pronta para implantação das antenas.

Em Santo André, lei aprovada em dezembro de 2019 e sancionada em julho de 2020 adequou os processos na cidade para a futura necessidade de implantação das antenas. A legislação municipal desburocratizou os procedimentos de licenciamento das infraestruturas, inclusive com licenciamento digital pela plataforma Acto. Também estabeleceu prazos de aprovação de projetos alinhados com a legislação federal, além de ter dispensado de licenciamento as infraestruturas de pequeno porte (muito importantes na constituição das redes 5G), mediante comunicação. A cidade ainda promoveu o estímulo à implantação de infraestruturas harmonizadas à paisagem e aos biosites (modelo de infraestrutura de menor porte e baixo impacto paisagístico).

Em razão destas adequações, Santo André recebeu, em outubro, a premiação Cidade Destaque no ranking de Cidades Amigas da Internet, promovido pelo Sinditelebrasil (Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e Rede Móvel), por ter sido o município que mais ganhou posições no ranking desde a última edição.

Em São Caetano, toda a parte de legislação também já foi adequada e já foi constituída a Caerb (Comissão de Análise de Estação de Radiobase). A Secretaria de Obras já está pronta para atender a qualquer pedido de instalação de antena, tendo pronto mapeamento de toda a rede de fibra ótica da cidade, bem como tubulações de gás e água, para o deferimento ou não do pedido.

“Queremos atrair as empresas e as operadoras do setor para  a cidade. Muitas empresas já enxergam São Caetano como um lugar bom para testar iniciativas e já temos operadoras querendo fazer os testes para depois copiar para o restante do País”, explicou o subsecretário de Tecnologia e Inovação, Luiz Morcelli.

São Bernardo informou que está trabalhando na atualização da legislação municipal para adequação à Lei Federal 13.116/2015, conhecida como Lei das Antenas. “O objetivo é habilitar o município ao processo de instalação de antenas de redes móveis”, informou em nota a Prefeitura. As outras cidades não responderam aos questionamentos do Diário até o fechamento desta edição. 
 




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