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Dirceu garante que União tem verba para Rodoanel
Por Roney Domingos
Do Diário do Grande ABC
20/02/2005 | 17:08
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O governo federal está atento ao debate sobre a falta de investimento no trecho Sul do Rodoanel. E considera que articulação para pressionar a União empreendida pelo Palácio dos Bandeirantes tem cunho eleitoral. A declaração do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, não deixa dúvidas: “Deixa o Alckmin fazer política. Nós vamos fazer a nossa parte. Quero ver ele fazer a parte dele”. Dirceu fez o comentário durante jantar em sua residência, quinta-feira, com o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho, que tem base eleitoral em Santo André. Luizinho afirmou que o ministro não falou detalhes sobre a participação do governo federal na obra, mas adiantou que o Rodoanel faz parte de uma política de governo Lula, atento à necessidade de acabar com os gargalos de infra-estrutura. “Não pode o candidato a presidente Alckmin fazer guerra política e jogar sobre os outros algo que é responsabilidade dele. A obra não é federal, é estadual.”

A reação do ministro e do líder do governo Lula na Câmara é o primeiro sinal de que o Palácio do Planalto está preocupado com a transformação do Rodoanel em palanque político em 2006. Alckmin encerrou o trecho Oeste do Rodoanel em 2002, mas só agora, em janeiro de 2005, às vesperas de novas eleições, anunciou provas concretas de que vai investir R$ 750 milhões na construção do trecho Sul do Rodoanel, que corta a região. Em contrapartida, liberou o prefeito José Serra (PSDB) de participar financeiramente na obra e interpela a União sobre a disposição de investir R$ 150 milhões por ano para concluir o projeto em cinco anos. O governo federal, que se comprometeu a investir no Rodoanel, também patina na liberação de verbas. Pagou R$ 25 milhões do trecho Oeste deixados pendentes por Fernando Henrique Cardoso e, apesar da pressão da bancada paulista de 70 deputados federais e três senadores, libera sempre muito menos do que o necessário para o projeto deslanchar. Foram pedidos R$ 140 milhões e aprovados R$ 17,5 milhões em 2004. Para este ano, respondeu com R$ 35 milhões para a um pedido de R$ 140 milhões.

Os prefeitos do Grande ABC sempre deram atenção ao tema, mas a pressão, primeiramente sobre o Palácio dos Bandeirantes, ganhou ênfase em janeiro, quando o prefeito de São Bernardo, William Dib (PSB), aliado do governador, foi eleito presidente do Consórcio Intermunicipal e escolheu o Rodoanel como pauta prioritária. Vale dizer que o padrão do diálogo tende a melhorar porque Alckmin tem cinco aliados entre os sete novos prefeitos, contra dois petistas. Na gestão passada, a razão era inversa: cinco petistas para dois aliados.

Dib também conseguiu fazer o que os deputados federais e prefeitos petistas jamais fizeram publicamente desde o início do governo Lula. Marcar audiência com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e cobrar dele o repasse contínuo de verbas para o Rodoanel. No entanto, o mesmo Dib confessa que antes de saber o que o governo estadual tem a oferecer seria impossível cobrar qualquer centavo do governo federal. O prefeito convidou os colegas das demais cidade e todos vão juntos brigar pelo mesmo objetivo. Falta harmonia no diálogo entre os parlamentares e dessa briga Dib prefere ficar longe.

Contribuiu para a articulação política o fato de Edinho Montemor, primeiro suplente, ter assumido uma cadeira na Câmara dos Deputados. Em um mês o parlamentar mudou do PSB para o PL e caiu nas graças do presidente nacional da sigla, Waldemar Costa Neto, homem influente na República, padrinho do ministro dos Transportes Alfredo Nascimento e amigo do vice-presidente, José Alencar. Edinho ligou para Waldemar, que marcou a audiência em Brasília e acompanhou o correligionário.

Uma vez no gabinete do ministro, Edinho Montemor fez questão de mostrar que não vai aceitar que outros parlamentares ofereçam concorrência na discussão do Rodoanel. Na quarta-feira passada, após o encontro com o ministro, Edinho disse ao Diário que não convidou os demais parlamentares porque o encontro foi marcado de um dia para outro durante o processo de eleição da presidência da Câmara. Também ressaltou que deve partir dos colegas o interesse pelo assunto. “É uma questão que deve envolver a todos a partir do momento em que todos tenham efetivo envolvimento nisso. E não começar a querer pegar carona. Estou chegando agora. O Rodoanel está aí rodando faz tempo.” Na sexta-feira, Edinho reiterou que não vai convidar ninguém. “Não vou convidar porque tem deputado que diz que é uma obra do Geraldo Alckmin. Tenho certeza de que Lula não tem essa visão pequena. O governo Lula participando vai ser uma demonstração de que essa obra está acima de qualquer picuinha política que possa existir.”

Carona – A parte da “carona” citada por Edinho Montemor foi o que mais irritou os deputados petistas ouvidos pelo Diário. O líder do governo, Professor Luizinho, afirmou que só será possível o governo federal mandar dinheiro para o Rodoanel porque também está comprometido com infra-estrutura. Segundo porque a bancada paulista votou dinheiro para o Rodoanel. O deputado que diz que não dá carona só pode discutir o assunto porque tem verba. “Quero parabenizar o deputado pela audiência com o ministro e fazer convite para que não tivéssemos divisão.” Luizinho disse que está disposto a participar da reunião. “Acredito que o ministro não me deixaria na porta”, ironizou. “Aqui no ABC quem faz a divisão para achar que leva vantagem pessoal, sofre derrota. Isso é educação dada pela região. Não adianta querer ganhar sozinho.”

Wagner Rubinelli (PT) quer esclarecer se a reunião está marcada em nome do deputado ou em nome do Consórcio Intermunicipal. “Se foi o Edinho que marcou, é legítimo que só ele participe. Mas se estiver organizada pelo Consórcio é incompreensível que os deputados federais fiquem de fora. Isso é brincar de fazer política e querer ser mais esperto do que os demais.” Rubinelli afirma que não considera elegante participar de uma reunião para a qual não foi convidado. Rejeita a idéia de que estaria pegando carona. “Foram os deputados federais que fizeram constar a verba no Orçamento e trabalharam em conjunto com o governador Geraldo Alckmin. Não tem esse negócio de pegar carona. A discussão não começou agora, começou há muito tempo. Fazer panelinha não ajuda”, afirma.

Normalmente considerado o petista mais crítico, dessa vez Ivan Valente foi quem deu a declaração aparentemente mais moderada. “Todo deputado tem direito e pode tomar iniciativas para defender os interesses da região. Mas para que seja efetivo, o melhor é trabalhar unitariamente. A experiência mostra que é melhor fazer coisa unitária”, afirma. O deputado federal Vicentinho Paulo da Silva (PT) foi procurado, mas não deu retorno até o fechamento dessa edição.

Mesmo que fossem convidados, provavelmente os deputados petistas não poderiam participar do encontro marcado para essa terça-feira, às 11h, no gabinete do ministro dos Transportes. É que no mesmo horário será realizada a eleição para o líder do PT na Câmara dos Deputados. Por enquanto, a função está sendo disputada por Paulo Rocha, do Pará, representante do campo majoritário e por Maninha, do Rio de Janeiro, representante da esquerda do partido.



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