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Vida dedicada aos palcos

Antônio Petrin, ator que fez história em Santo André, segue firme no trabalho aos 80 anos

Caroline Manchini
28/05/2018 | 07:00
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João Caldas/Divulgação


Por fora a arquitetura diferenciada chama atenção. Dentro as cadeiras estofadas com tom forte de vermelho, enfileiradas simetricamente em frente ao palco, dezenas de refletores, que brincam com as cores, e caixas de som ampliando vozes e canções mostram a grandiosidade do Teatro Municipal de Santo André. Inaugurado em 13 de abril de 1971, era, na época, um dos espaços culturais mais modernos do País.

Antônio Petrin, 80 anos, ator fundamental para a ascensão do teatro no município e até mesmo do Brasil, foi, ao lado de Sônia Guedes e outros, o primeiro a pisar no palco andreense com o espetáculo Guerra do Cansa Cavalo, de Osman Lins, produzido pelo GTC (Grupo de Teatro da Cidade), do qual fazia parte. “Foi uma honra para mim”, relembra Petrin, em entrevista ao Diário.

Quem lê ou conhece essa história não imagina que ele, anos antes, nem sonhava em se tornar ator profissional. Nascido em uma família simples de Laranjal Paulista, Interior do Estado, e radicado em Santo André – hoje mora em São Paulo –, teve seu primeiro contato com o teatro na Paróquia Senhor do Bonfim, no Parque das Nações, bairro onde viveu grande parte de sua vida.

Aos 10 anos, coroinha da igreja, encenava diversas peças religiosas, mas nunca pensou em se especializar ou seguir carreira nos palcos. “Fazia apenas por diversão”, lembra. Tanto é que, tempos depois, tornou-se desenhista industrial e exerceu a profissão por vários anos.

A oportunidade de retornar ao teatro surgiu quando o diretor Ademar Guerra (1933-1993) abriu seleção para compor o elenco da peça Gente Como a Gente, que seria apresentada no Teatro do Alumínio, em Santo André. Petrin fez testes e conseguiu um personagem. “Montamos o espetáculo e foi um grande sucesso. Foi aí que o Ademar me incentivou a procurar escolas profissionalizantes, já que os grupos do Teatro do Alumínio eram amadores”, explica. Motivado, entrou na EAD (Escola de Artes Dramáticas) da USP, única no País que formava, na época, atores. Após concluir o curso, Petrin começou a trabalhar profissionalmente e, em 1968, foi convidado por Helena Guariba, uma de suas professoras, a criar um núcleo de dramaturgia. Como havia estudado com alguns amigos, que também moravam na região, decidiram fundar o Grupo de Teatro da Cidade, o primeiro profissional do Grande ABC.

Durante dez anos, Petrin, Sônia Guedes – renomada atriz andreense – e outros artistas desenvolveram diversos trabalhos artísticos na região. “Todos os conhecimentos adquiridos em Santo André foram essenciais para minha carreira. Nessa cidade, que foi inspiradora, fundamentei e exerci minha profissão. Não só eu, Sônia Guedes também”, diz.

Carreira essa que já soma 50 anos. Nesse ínterim interpretou grandes personagens no teatro, cinema e televisão, além de dividir palco com grandes nomes da dramaturgia brasileira, como Bibi Ferreira e Paulo Autran. Seu sucesso foi tamanho que o jornalista Orlando Margarido (ex-repórter do Diário), escreveu, em 2010, a biografia intitulada Antônio Petrin – Ser Ator. O reconhecimento do trabalho é resultado de muita dedicação. “Sempre procurei, dentro da minha profissão, ter vasto repertório e fazer o meu melhor”, explica.

Aos 80 anos Petrin continua se dedicando à arte e, por hora, está ensaiando com a atriz Bárbara Paz, no Rio de Janeiro, a peça inglesa Heisenberg, que terá direção de Guilherme Piva e está prevista para estrear em julho. “Depois provavelmente viremos para São Paulo”, adianta o ator.

ESCOLA LIVRE DE TEATRO
“A criação da ELT foi fundamental para a região. Deu oportunidade para quem queria estudar teatro e, acima de tudo, mostrou que Santo André não tinha apenas aspecto industrial, tinha também fonte de conhecimento artístico e cultural”. É assim que Petrin define a existência da instituição inaugurada em 1990. Ele relembra ainda que, por conta da qualidade de ensino e das poucas opções de escolas profissionalizantes na época, pessoas de outros Estados brasileiros chegavam à cidade procurando pela ELT. “A instituição era e continua sendo referência em dramaturgia”, finaliza.  




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