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Alcool combustível impulsiona inflaçao em SP
Do Diário do Grande ABC
02/11/1999 | 17:46
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As atençoes hoje estao voltadas para o possível reflexo da recente alta do dólar sobre os preços, mas um produto que nada tem a ver com a cotaçao da moeda norte-americana vem sendo responsável por grande parte da inflaçao na capital paulista: o álcool combustível, cujo preço sobe a taxas superiores a 20% há quase um mês.

Durante meses, o álcool combustível contribuiu como um item de alívio para a inflaçao, mas o setor canavieiro conseguiu recuperar preços e a situaçao se inverteu. De setembro de 1998 a setembro deste ano, o álcool ficou 14,64% mais barato - enquanto a gasolina teve reajuste de 46,09% no período.

Já na terceira semana de pesquisa da Fundaçao Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o produto correspondeu a 0,24 ponto percentual da taxa de inflaçao de 1,18%, com alta de 17,83%. E a tendência é de que o preço continue subindo, já que as recentes altas ainda nao foram capazes de levá-lo aos patamares anteriores.

O aumento do álcool é atribuído por analistas e produtores a um movimento de recomposiçao de preços, que nao tem ligaçao com a recente valorizaçao do dólar. "Os produtores chegaram a vender o litro do álcool a R$ 0,10, enquanto os custos de produçao giravam em torno de R$ 0,30", diz Cláudio Manesco, da área de comunicaçao da Unica, a associaçao das usinas canavieiras de Sao Paulo.

Ele explica que o governo liberou o preço do álcool, que antes era tabelado, em época de superproduçao. "Como havia muita oferta e os preços passaram a ser regulados pelo mercado, os valores de compra e venda do álcool despencaram", comenta.

A combinaçao do esforço dos produtores e usineiros com o do governo resultou no aumento do preço do álcool nas bombas. Somente uma empresa, a Brasil Alcool, por exemplo, retirou do mercado cerca de 1,3 bilhao de litros para provocar recuperaçao dos preços. Com menos oferta do produto sem alteraçao na demanda, o resultado natural seria o reajuste de preços. O governo federal fez sua parte, comprando 700 milhoes de litros como estoque regulador. O litro de álcool combustível nas bombas dos postos está nesta terça-feira em R$ 0,60, preço que estava em torno de R$ 0,30, R$ 0,40 no início do ano.

Embora a escalada do álcool siga firme, Manesco nao acredita que o preço do produto supere 70% do valor da gasolina, o correspondente a cerca de R$ 0,80. "Isso diminuiria a demanda por álcool e a competitividade do produto", avalia. Se o preço nao chegar a esse patamar, o custo de vida agradece.

Pelos cálculos de Heron do Carmo, coordenador do Indice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, se o preço do álcool combustível subir 60%, chegando próximo a R$ 1, haverá uma pressao adicional de 0,80 ponto percentual sobre o IPC-Fipe. "O álcool tem peso significativo no índice, de 1,7%", destaca o economista. Essa contribuiçao prejudicaria até mesmo a inflaçao do ano, hoje estimada entre 7% e 7,5%.

Mas se depender dos produtores, o preço ainda deve subir um pouco, por conta da retirada de subsídios ao produto que o governo anunciou no mês passado. Apesar de nao mais controlar os preços diretamente, o governo, por meio da Agência Nacional de Petróleo (ANP), pagava R$ 0,045 por litro de álcool hidratado (o que chega aos postos) aos produtores. Ou seja, se nao conseguir recuperar nos preços a perda do subsídio, o setor alcooleiro enfrentará mais dificuldades.

Açúcar - O comportamento dos preços do álcool influencia diretamente o preço do açúcar. Pela pesquisa da Fipe, o produto vem subindo na mesma proporçao do álcool em outubro (13,30% na terceira quadrissemana do mês). "Além disso, os preços do açúcar no mercado internacional estao se recuperando, depois de longo período de quedas", observa Manesco, da Unica. Segundo ele, com mais recursos por causa dos melhores valores obtidos com exportaçoes, os produtores têm como regular o mercado por meio de estoques.

O açúcar, ao lado de álcool e carne, tem provocado o aumento da inflaçao em Sao Paulo. Carmo, da Fipe, lembra ainda os incentivos do governo do estado à produçao de álcool combustível (criaçao de frota verde, estímulo à fabricaçao de carros a álcool e reduçao de impostos) tendem a diminuir a produçao de açúcar e, por conseqüência, a elevar os preços. Sao Paulo detém 65% da produçao nacional de cana-de-açúcar.

Carmo avalia que o preço do álcool tende a cair "porque quando sobe muito, a demanda trata de reduzi-lo", mas observa com atençao seu comportamento. Com dólar ou sem dólar, o álcool pode continuar pressionando o custo de vida.




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