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Bilbao: a cidade que reinventou seu futuro
Silvio Tadeu Pina
Especial para o Diário
28/06/1999 | 01:18
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Cidades Criativas é o tema da série de reportagens que o Diário começa a publicar no Raio X das Câmaras. A série vai enfocar cidades brasileiras e estrangeiras que enfrentaram problemas econômicos, sociais e políticos, mas souberam se recuperar e - por meio da inovaçao e da ousadia - reinventaram seu futuro. A primeira delas é Bilbao, a capital da província de Vizcaya, no País Basco. Bilbao era um importante centro industrial espanhol até fins dos anos 80, quando suas siderúrgicas e estaleiros começaram a fechar e o desemprego chegou a 23%. É um exemplo de como uma liderança política obstinada e visionária conseguiu inventar uma nova vocaçao econômica - o turismo cultural - e reorientar todo o desenvolvimento regional, a partir da instalaçao do Museu Guggenheim de Bilbao. A capital basca foi uma das regioes européias visitadas pelo grupo de dirigentes e lideranças do Grande ABC que, em maio último, foi conhecer a experiência de cidades que amargaram a decadência industrial e urbana e, agora, redescobrem o caminho da prosperidade.

Um dos mais extraordinários monumentos arquitetônicos do século, o Museu Guggenheim de Bilbao, do arquiteto Frank Gehry, é uma obra de arte desde a origem posta a serviço do desenvolvimento econômico da principal cidade do País Basco espanhol.

A magnífica e polifórmica construçao de 24 mil metros quadrados, às margens do rio Nervión, quase toda revestida de 33 mil chapas de titânio brilhante que vibram com o vento do mar Cantábrico, é o mais espetacular exemplo contemporâneo de como a cultura pode ser o motor da revitalizaçao de uma regiao industrial decadente.

Nos primeiros nove meses desde sua inauguraçao, em outubro de 1997, o Guggenheim de Bilbao foi visitado por mais de 900 mil pessoas e tornou-se um marco da cultura européia. Mais do que isso: é a nova meca dos arquitetos do mundo todo, um ponto de referência da Espanha moderna e, principalmente, o símbolo do renascimento político e econômico da naçao basca.

Foi mais uma ironia do mundo globalizado. O projeto visionário de um arquiteto nascido em Toronto e estabelecido em Los Angeles, contratado por iniciativa de uma das principais instituiçoes culturais norte-americanas, resgatou a identidade nacional e o orgulho autonomista de Euskal Herria - o nome basco desse país de língua e hábitos estranhos ao resto da Espanha, formado por três províncias encravadas entre o Atlântico e os Pirineus, na fronteira com a França.

Bilbao é a cidade mais importante do País Basco, uma regiao onde vivem 3 milhoes de pessoas, e capital da província de Vizcaya (as outras duas sao Guipúzcoa, cuja capital é San Sebastian, e Alava, cuja capital é Vitoria).

Até 1991, quando começaram as primeiras negociaçoes com a Fundaçao Solomon R. Guggenheim de Nova York, era apenas uma cidade de 350 mil habitantes, de fortes tradiçoes nacionalistas, mas longe dos circuitos culturais espanhóis.

Também nao tinha qualquer apelo turístico especial, a despeito da beleza de suas montanhas e da excelência de sua culinária. Era mais conhecida por ser um dos pólos industriais da Espanha e sede do Athletic de Bilbao.

Há pelo menos dez anos, a liderança política e os empresários locais lutavam, sem sucesso, contra o declínio de seu porto, o fechamento de suas indústrias e o terrorismo do ETA, o grupo nacionalista radical que defende, com bombas e assassinatos, a total independência de Euskal Herria.

Os estaleiros, as fundiçoes e siderúrgicas, falidos, deixaram como rastro galpoes vazios e uma taxa de desemprego de 23%. Esse quadro mudou com o surgimento de duas instituiçoes.

Uma delas é a Bilbao Ría 2000, empresa pública com recursos do governo espanhol, das autoridade bascas e de empresas que operam o metrô, o porto e a rede ferroviária. A outra é Bilbao-Metrópoli 30, uma associaçao de instituiçoes públicas, empresários e lideranças locais.

Mas o Guggenheim Bilbao foi, acima de tudo, o resultado da visao de futuro de um pequeno punhado de políticos vinculados ao Partido Nacionalista Basco e da capacidade empreendedora do executivo novaiorquino Thomas Krens.

O projeto todo custou cerca de US$ 147 milhoes, dos quais US$ 20 milhoes para a Fundaçao Guggenheim, pela franquia do nome e autorizaçao de uso de parte do acervo de Nova York.

Os recursos foram tirados do orçamento do governo basco e dos dirigentes da província de Vizcaya, cabendo à Prefeitura de Bilbao ceder o terreno onde Frank Gehry ergueu sua catedral de titânio e aço para mudar a história basca.




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