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São Judas fecha para reforma

Retorno do tradicional restaurante da Rota do Frango com Polenta de São Bernardo é incerto; último dia de funcionamento será em janeiro

Daniel Macário
do Diário do Grande ABC
09/12/2015 | 07:07
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Claudinei Plaza/DGABC


O mais tradicional e antigo estabelecimento da Rota do Frango com Polenta, em São Bernardo, o Restaurante São Judas fechará as portas no dia 4 de janeiro pela primeira vez em 66 anos de existência. De acordo com Walter Demarchi, um dos fundadores e atual sócio-proprietário do local, a paralisação acontece em decorrência de uma ampla reforma a ser realizada em 2016, entretanto, em razão dos prejuízos acumulados neste ano e em virtude da crise econômica, o retorno do estabelecimento ainda é incerto.

O espaço de 12 mil m² e com capacidade para mais de 3.000 pessoas teve durante anos filas imensas diante de suas portas, porém, atualmente vive cenário bem diferente daquele que o consagrou. Desde junho, acumula prejuízo que gira em torno dos R$ 2 milhões, sendo R$ 152 mil somente no último mês.

“Tivemos perdas de 40% no decorrer de 2015. No primeiro semestre não sentimos tanto, mas no segundo isso ficou muito claro. Só para se ter uma ideia da dimensão do prejuízo, em dezembro de 2014 tínhamos 32 mil reservas para eventos do Ano-Novo. Neste ano, esse número é de 17,8 mil, muito inferior”, relata Demarchi.

Segundo o sócio-proprietário, que já foi prefeito de São Bernardo entre 1993 e 1996, a reforma do espaço ainda está em estudo. “Sabemos que dia 3 é nosso último dia de atendimento, mas estamos em análise do que será feito depois disso. Uma das opções é a redução do espaço. Pode ser que, quando voltarmos, só abriremos de sexta-feira, sábado e domingo com dois shows grandes por mês, mas não vamos dar nenhum passo em falso. Precisamos analisar o cenário econômico do País.”

Em decorrência do fechamento, os 90 funcionários que trabalham atualmente no restaurante serão demitidos. “Vamos indenizar todos. Tem gente que está trabalhando conosco há mais de 30 anos. Fico triste com isso. Lutei quase toda minha vida para construir esse local. Com 10 anos já era garçom. Depois trabalhei durante outros dez anos na cozinha. Minha vida toda estive aqui.”

Na segunda-feira, por volta das 14h, enquanto a equipe do Diário estava no local, cerca de 120 clientes almoçavam ali. “Temos praticamente um funcionário por pessoa. É um prejuízo muito grande.”

Apesar da situação difícil, o restaurante ainda busca de todas as maneiras atrair a clientela. Um dos exemplos é o valor das ceias de fim de ano. “No ano passado cobramos R$ 190 no Natal e R$ 210 no Réveillon. Agora, mesmo com o aumento da carne, funcionários e inflação em alta, diminuímos em R$ 20 o valor de cada uma”, relata o gerente comercial do estabelecimento, José Carlos Machado.

HISTÓRIA - “É uma pena saber que isso pode acontecer. O São Judas se tornou, ao longo do tempo, espaço que faz parte da cultura de São Bernardo. É um patrimônio da cidade.” O relato do vendedor Wilson Zobgi, 43 anos, que frequenta mensalmente o estabelecimento, evidencia a importância do tradicional restaurante para quem vive na região.

Leandro e Leonardo, Fábio Júnior, Chitãozinho e Xororó, Roupa Nova, Luan Santana, Almir Sater, Paula Fernandes, Daniel, além da visita, no dia 2 de setembro de 1994, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Esses são apenas alguns nomes ilustres que já passaram pelo São Judas.

Inaugurado em 1949, o estabelecimento tornou-se ao longo do tempo referência na região. Em 1989, por exemplo, quando o ex-líder cubano Fidel Castro visitou a casa de Lula, em São Bernardo, o jantar foi encomendado no São Judas. “Na ocasião, Fidel gostou tanto da polenta que pediu que alguém levasse ao seu país. Depois de um tempo, levaram quatro quilos de polenta frita no Palácio Presidencial de lá”, relembra Demarchi.

Dona Santa ainda comandava a cozinha

ADEMIR MEDICI
ademirmedici@dgabc.com.br

“Bom vinho fez nascer o frango com polenta”. Este foi o título da reportagem publicada no Diário no sábado, 30 de setembro de 1972, nossa primeira a partir de uma pauta passada por Fausto Polesi, diretor de Redação, como teste para nossa contratação.

Durante dois dias chuvosos caminhamos a pé pela Rota do Frango com Polenta, a partir do Restaurante Leão de Ouro, da família Singer, no km 23 da Via Anchieta, até a Cantina Azul, quase no fim da Estrada Galvão Bueno. Pelo caminho, a parada em todos os restaurantes, entre eles o São Judas Tadeu, que tinha na cozinha, como supervisora, dona Santa, que fundou o restaurante juntamente com o seu marido, Albino Demarchi, já então falecido.

Quarenta e três anos atrás, o São Judas era o mais antigo restaurante da rota, já que o pioneiro, Tolotti, havia fechado. Fundado em 1949, servia o frango com polenta a 15 cruzeiros. O vinho era em jarras: a de um litro custava 6 cruzeiros, e a de meio litro, 4.

Desde então retornamos inúmeras vezes ao São Judas, que cresceu em tamanho e fama. Industriais, artistas, jogadores de futebol e políticos de todas as cores partidárias sabem de cor onde fica.

Retornamos ao local no domingo, às 14h. Estava lotado, sem hora para o atendimento dos que aguardavam em fila. Desistimos, não sem antes dar uma olhadela em busca do stand com as peças do antigo moinho de 1929, que havíamos observado no primeiro semestre deste ano. Não estava mais lá – ou a emoção não nos deixou ver? Sinal de que a velha casa está mesmo vivendo suas últimas semanas. 




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