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Zé Rodrix: talento e discrição

Músico e compositor morre aos 61 anos; uma de suas últimas apresentações foi em Paranapiacaba

Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
23/05/2009 | 07:00
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Artista detentor de extenso currículo, repleto de bons serviços prestados, o cantor, compositor e multi-instrumentista Zé Rodrix morreu na madrugada de sexta-feira, aos 61 anos. Após sentir-se mal em casa, inclusive com convulsão, o músico deu entrada à 0h30 no Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde faleceu 15 minutos depois. Até o fechamento desta edição, não havia sido divulgada a causa da morte. Segundo sua filha, Bárbara Rodrigues, o músico não apresentava problemas de saúde.

 O intérprete deverá ser cremado neste sábado em local e horário ainda não definidos.

Rodrix realizou uma de suas últimas apresentações há um mês, durante o 6º Festival do Cambuci, promovido na Vila de Paranapiacaba, em Santo André. Ele subiu ao palco acompanhado pelos músicos Luiz Carlos Sá e Gutemberg Guarabyra, seus companheiros de trajetória artística desde a década de 1970.

Identificados com o movimento hippie, que modificou os parâmetros comportamentais da juventude na era flower power, o trio gravou pérolas como Primeira Canção da Estrada e Mestre Jonas. Abalados com a repentina perda do amigo, Sá e Guarabyra não quiseram dar entrevista.

VERSÁTIL AUTOR DE HITS - Inquieto, apaixonado pelo trabalho e talentoso, Rodrix deixou legado valioso, mesmo preferindo distância da badalação e das luzes do palco. Participou e acompanhou os principais movimentos artísticos desde 1967, quando defendeu a música Ponteio - campeã do 3º Festival de Música Popular Brasileira -, ao lado de Edu Lobo, Marília Medalha e Quarteto Novo.

No início dos anos 1970, integrou o grupo Som Imaginário, que acompanhou Milton Nascimento e contou ainda com Wagner Tiso, Robertinho Silva, Tavito, entre outros instrumentistas.

Também compôs, em parceria com Tavito, o clássico Casa no Campo, grande sucesso do repertório de Elis Regina. Outro hit escrito por Rodrix nesse período foi o mambo Soy Latino Americano.

Na década seguinte, integrou a irreverente banda paulistana Joelho de Porco e, posteriormente, preferiu retirar-se do mercado fonográfico para trabalhar com produção de jingles. Desde então, assinou diversas trilhas para teatro, cinema e televisão. Nascido José Rodrigues Trindade, no Rio, Rodrix era maçom e, recentemente, relançou a obra Trilogia do Templo, que aborda a maçonaria.

Artista fundou o rock rural

Formado em 1971, o trio Sá, Rodrix & Guarabyra foi responsável pela criação do gênero rock rural. O estilo fundia referências do cancioneiro regional e as sonoridades do folk e do rock psicodélico que marcaram o período.

Em dois anos, os intérpretes lançaram dois álbuns antológicos, Passado, Presente, Futuro (1972) e Terra (1973), que traziam canções emblemáticas da ebulição artística da época. Estimulados pela contracultura e as experiências lisérgicas, além de sufocados pela truculência do regime militar, os jovens buscavam padrões comportamentais alternativos à sociedade de consumo.

NA ESTRADA - As composições de Sá, Rodrix e Guarabyra refletiam essas inquietações, como na música Primeira Canção da Estrada. "Apesar das minhas roupas rasgadas/ Eu acredito que vá conseguir/ Uma carona que me leve pelo menos à cidade mais próxima/ Onde ninguém vai me olhar de frente, quando eu tocar na velha guitarra", diz um dos trechos da letra.

Rodrix saiu do grupo em 1973 e os outros dois componentes seguiram juntos em bem-sucedida carreira, que incluiu sucessos como Espanhola e Roque Santeiro.

A formação original da banda retornou ao cenário musical somente em 2001, durante a terceira edição do festival Rock in Rio.

Meses depois do histórico show que anunciou o retorno, o trio foi contratado pela gravadora Som Livre, que lançou o CD Outra Vez na Estrada - Ao Vivo, também registrado em recomendável DVD.




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